4 Amelie

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Estava fazendo minha última série de agachamentos, quando Arthur me chamou.

_por hoje já chega! – falou – continue apenas nos treinos físicos, eu terei que me ausentar por alguns dias!

_tudo bem...

Como sempre fazia ele entrou no reflexo dele mesmo, agora refletido na agua do lago ao nosso lado e partiu. Desde pequena, ele sempre esteve presente em minha vida. Treinou-me para ser uma guerreira, uma assassina profissional, claro que meus pais nunca suspeitaram, ou eles jamais permitiriam que isso acontecesse. A fama de Arthur o precedia em todos os lugares, até mesmo entre sua família.
Voltei correndo para casa, para chegar a tempo de me arrumar e receber, juntamente com minha mãe, tias e primas, a família Dragomir, que viria passar as férias conosco. Os gêmeos tinham feito aniversario há alguns dias, e eles decidiram que era hora de tirar férias, mas creio que deva ter algo a mais.
Todos estão tensos, há algo acontecendo. Algo que ninguém quer que saibamos, pois estão reunindo-se longe das vistas de todos. Creio que a viagem de “férias”, é só uma desculpa para nos juntar sob o mesmo teto, sem falar que a reforma mais recente da mansão, não fora exatamente convencional. De mansão, tinha se transformado num pequeno castelo, recheado de corredores e passagens secretas, com entradas e saídas, bankes e salas de segurança.
Pareciam estar se preparando para uma guerra.
Cheguei em casa, fui direto para o quarto, tomei um banho demorado e coloquei uma roupa qualquer. Uma camisa com a logo dos Avengers, uma bermuda, e arrumei meus cabelos num coque frouxo. Quem disse que precisa de salto e vestidos colados/curtos para ser sexy. Eu era quase como minha mãe, era loira com os olhos escuros, e a pele clara. Nem baixa, nem alta: eu era perfeita, de acordo com a “oposição”.
Quando cheguei a sala, o carro de tio Dante estava encostando, e logo ele entrou dando espaço para os outros entrarem. Primeiro Sansara, com seus longos cabelos cor de chocolate e olhos castanho claro, logo depois sua filha caçula, Ariane, com cabelos na altura dos ombros e repicado nas pontas, com olhos cor de chocolate como a mãe. Era uma miniatura de Sansara, e por último, o primogênito. Assim que coloquei os olhos nele, senti um calafrio em minha espinha, e todos os sentidos do meu corpo se alertaram: ele era perigos. Olhava a tudo e todos indiferente ao que acontecia na sala. Era ruivo, com cabelos repicados revoltos, com olhos tão negros, que parecia um buraco sem fim. Enquanto cumprimentávamos Sansara e Ariane, ele assistia a tudo, sem mover um musculo, ou mostrar qualquer receptividade.
Então assim que era o famoso Ra’s, o neto de Arthur!
As meninas e eu puxamos Ariane pelos corredores da mansão, levando-a até seu quarto, Ella e Anya sentaram-se nos puffs que tinham ali, e eu permaneci de pé, encostada na porta, que fechei após entrar.

_seu irmão é um gatinho! – Ella falou maliciosa – parece ser o tipo bad boy, eu tenho um fraco por homens assim! – todas rimos por seu jeito tarado.

_o que ele tem de bonito, tem de ruim! Se eu fosse você, catava coisa melhor! – Ariane falou soando ressentida com algo – ele não é boa coisa!

_credo! Isso é jeito de você falar do seu próprio irmão? – Anya perguntou intrigada – jamais diria algo assim de Enzo! Ele é muito meu nenê!

_não tem com quem comparar o demônio! – resmungou jogando-se na cama.

_o que ele fez? – perguntei por fim, atraindo a atenção das três – você fala como se ele estivesse te torturando...

_de certa forma... – revirou os olhos – ele espanca todos os meus ficantes e ainda por cima, se acha na razão! O ciúme dele é descontrolado, e ele fica maníaco quando perde o pouco de controle que ainda tem! Deveríamos ter chegado há dias, mas adiamos nossa viagem, porque num surto, ele me bateu, bateu em meu último ficante, e quando chegamos em casa, acabou meio que apanhando feio do tio Cambriel! Por isso, não estranhem se o verem sangrando por ai, ele ainda está se recuperando! – deu de ombros.

_entendo...

_uau... Ele bateu mesmo em você? – Anya perguntou incrédula.

_sim! – resmungou – e me disse coisas horríveis... Quer dizer, ele nunca foi flor que se cheire, mas nunca tinha me tratado daquele jeito...

_então você admite que ele mudou? – indaguei curiosa.

_sim! Mudou drasticamente... Desde que começou a sair com nosso avô ele ficou mais sombrio! Não fala mais, sempre parece irritado com alguma coisa, passou a perder o controle mais facilmente... É como se o estivessem forçando a algo, mudando-o bruscamente... Ra’s sempre parece pronto a explodir e surtar psicoticamente! Nossa mãe tentou convencer tio Cambriel a leva-lo a um psicólogo ou psiquiatra, mas foi voto vencido contra nosso avô, nosso bisavô e meu tio, juntos!

_tenso isso... – Ella murmurou – o gatinho já não parece tão gatinho agora...

_talvez... – murmurei comigo mesma – bem, vamos meninas! Vamos te deixar descansar Ariane, mais tarde você tem que estar linda e maravilhosa, pois nós vamos a Sangre Real, e isso não foi um convite, foi um intimato!

_sim! – Anya e Ella pularam animadas – você vai amar a boate! – Ella comentou – lá é uma concentração de homens gostosos por metro quadrado! – gargalhou maliciosa.

_vou ligar para Jacob, saber do meu outro nenê! – Anya foi a primeira a deixar o quarto.

_até mais tarde! – Ella foi em seguida.

_Amelie, não é? – Ariane perguntou, apenas afirmei – não tente confrontar meu irmão!

_perdão? – ela sentou-se e me encarou séria.

_eu reconheço esse olhar! Sei as consequências do que você quer fazer, e ouça meu conselho: não o confronte! Ou sairá tão machucada que não se reconhecerá após ele! – falou séria – por mais que seja forte, por mais que esteja preparada... Não faça! Ele, tio Cam, vovô Arthur, nosso bisavô todos estão amaldiçoados e estão fadados as trevas!

_você diz isso com tanta certeza... O quanto você sabe? – questionei-a.

_o suficiente pra saber que a primogenitura dessa família é toda podre! – declarou com o semblante sombrio – são todos ovelhas negras... Eu gostei de você, e por isso estou te alertando...

_obrigada pelo aviso! – falei antes de sair do quarto, com ainda mais perguntas em minha cabeça, e o desejo de confrontar aquele ser. Virei-me e dei dois passos apenas, antes de trombar com ele. Ra’s Al Ghul, que mistérios você esconde, afinal?

_você me chamou? – perguntou direto, deixando-me confusa.

_perdão... Eu... Eu não entendi!

_você disse meu nome! Interpretei que me chamava! – o olhei chocada, ele lia mentes? – o que você tanto quer saber? O que te atiçou tanto para você me chamar?

_eu não te chamei! – falei firme.

_engane-se o quanto quiser! – virou-se, dando-me as costas – apenas fique fora do meu caminho!

_o que você disse, seu babaca? – o puxei pelo braço, virando-o para mim – repete! – o ameacei.

_sei que você é uma pupila de Arthur! Não preciso dessa porfia ridícula, ou do seu ciuminho besta, para saber quem é melhor de nós dois, ou por qual ele tem preferência! – falou indiferente – não tenho tempo para perder com isso, então antes que comece com seu interrogatório, ou comece a atrapalhar meus planos, fique fora do meu caminho! Não é porque vou me casar com você, que tenho que aturar essa infantilidade! – virou-se e partiu, deixando-me estagnada no lugar.

Então era ele.
Ele era o pretendente. Senti meu corpo tremer de raiva, e um súbito desejo que pular nele e arrancar sua cabeça com minhas mãos. Eu tinha sido informada dessa decisão há apenas dois dias, e ele já parecia ter conhecimento dela, desde o início; o que me fez pensar se o próprio não tinha me escolhido, por algum motivo obscuro.
Meu pai deixou claro, que eu poderia me negar, mas que deveria ponderar os prós e contras dessa união. Se tem uma coisa que Arthur me ensinou, é que devemos ter lealdade apenas para com a família, e nada além disso. O que era um casamento, afinal? Se eu não gostasse do indivíduo, o mataria e sairia como uma viúva jovem que teve o marido assassinado por seus inimigos. Era um plano perfeito, mas que agora possuía uma falha: Ra’s. Eu já o odiava desde agora, e meus instintos reconheciam um predador mais poderoso quando o viam, e Ra’s era o próprio perigo, e eu tinha certeza que, uma vez casada com ele, permaneceria casada para a eternidade, pois jamais teria forças suficientes para mata-lo, ao menos não sozinha.
Suspirei, tentando colocar os pensamentos no lugar. Fui para meu quarto e sentei-me na janela, deixando a brisa leve esfriar minha cabeça e acalmar meus pensamentos.
Precisava solucionar esse problema chamado Ra’s Al Ghul D’Ângelo Dragomir.

A Cabeça do Dragão  - Série IMORTAIS - Livro 5 (final)Onde histórias criam vida. Descubra agora