Eu não conseguia lidar com o fracasso.
Parado ali com Amelie, chorando em meus braços, alheio a gritaria e comoção que estava havendo a poucos metros dali. Só conseguia pensar em como tinha deixado aquilo acontecer, em como fui inútil; persegui uma assassina, apenas para assistir seus assassinatos de camarote, sem ter força ou tempo para impedi-la. Grande herdeiro do tempo medíocre eu estava me tornando, alias, grande legado de merda para herdar, sequer tinha o maldito tempo, pois cheguei atrasado por milésimos de segundo. Eu não cheguei a tempo. Um herdeiro do tempo, atrasado.
Tudo em mim parecia um vulcão em erupção, mas precisava ser canalizado. Tudo porque não cheguei a tempo.
Tempo...
Tempo?
Tempo, porra!
A resposta era essa! Eu ainda tinha o maldito colar do tempo.
_Amelie, preciso que venha comigo! – afastei-a de mim e a sacudi de leve – Ellie! – chamei-a novamente.
_ir... – murmurou olhando-me perdida – pra onde?
_lugar nenhum! – respondi, já puxando-a pela porta – ENZO! – gritei saindo para o corredor – ENZO!
Bufei irritado, e inspirei o ar com força, caçando seu cheiro pela casa. Ele estava na sala, com os outros. Coloquei, Elie em minhas costas e corri, num piscar de olhos, já estávamos na sala, no meio de toda aquela comoção de lagrimas, corpos, sangue e desespero. Enzo estava agarrado ao corpo da irmã, chorando. Não tinha tempo para essa merda agora, puxando o colar do meu pescoço, coloquei tudo ali em suspensão, e senti Elie ficar rígida em minhas costas. Arlekin foi o único que olhou-me diretamente, e ficou sério.
_porque você fez isso? – perguntou direto.
_não tenho muito tempo! – falei, me aproximando de Enzo, e tocando em seu ombro – Enzo, eu preciso de você! – o puxei, tirando-o da suspensão. Demorou alguns segundos para ele assimilar tudo que estava acontecendo.
_mas que merda é essa? – perguntou ainda desnorteado – Ra’s? O que esta acontecendo? – seu tom de voz subiu algumas oitavas.
_preciso de você! Preciso muito de você! – declarei – preciso que seja forte, sim? Temos que resolver isso! – segurei seu rosto e olhei dentro de seus olhos – Enzo, temos que resolver isso! – falei firme, tentando transmitir a ele a necessidade de sua ajuda, e a urgência que tínhamos em partir.
_o que você vai fazer? – Arlekin indagou.
_uma loucura! – respondi com sinceridade, sentindo uma corrente de adrenalina percorrer meu corpo – preciso que cuide de tudo aqui, Arlekin! Preciso que mantenha uma coisa em mente!
_diga! – se aproximou flutuando.
_quando tudo isso acabar, você deve pedir a Jhonatan, que me dê um grimório! – ele arqueou uma sobrancelha ainda em duvida – esta guardado dentro de um baú no Banker, é o único que contem o conjuro exato para uma transmutação humana! Ele sabe qual é, você também sabe, afinal, ajudou Jaden a escrevê-lo! A questão é... Se voltarmos... Ou melhor, quando voltarmos, eu quero aquele grimório!
_em troca?
_você verá! – declarei, segurando no braço de Enzo, e o puxando comigo para a porta – Abra! – ordenei e a porta se abriu, já revelando o corredor – Lugar nenhum! - entrei e fechei a porta assim que Enzo, passou por ela – me escute, Enzo, vou falar apenas uma vez! Meu bisavô esta velho, e sua casca já não suporta seu poder, por isso Arthur tem parte do poder dele, como herdeiro, e por isso que eu vou herdar outra metade, fora o que já esta nesse colar! – tirei o colar e desci Amelie de minhas costas – o colar é duplo! – tirei seu aro, sobrando o pingente e a correte – você precisa ir até o final do corredor, não há perigos, ou inimigos, ninguém anda por esses corredores!
_correr para onde? – perguntou.
_correr para a porta que esta no final do corredor, você só precisa largar o colar dentro dessa sala e correr de volta! Apenas isso! Irei distrair o guardião da sala, então vocês estarão a salvo!
_mas o que acontece depois? – Amelie perguntou, falando pela primeira vez.
_podemos salvar todos que morreram! – revelei, deixando ambos perplexos com a noticia – precisamos correr, aqui o tempo não passa, mas la fora, a suspensão não vai durar mais de um dia, não tenho poder suficiente para mantê-los suspenso mais do que isso!
_para onde? – Enzo perguntou, pegando o colar da minha mão – para onde devemos correr?
_para lá! – apontei a parte mais escura do corredor – pode ir direto, leve Amelie, meu bisavô a mataria apenas por estar nesse corredor!
_nos vemos... – Enzo segurou a mão de Amelie, antes de correrem.
Virei-me e parti pelo caminho contrario, seguindo a essência de Daisuke, o encontrando nos corredores, passeando, ou melhor, observando.
_sinto muito... – falou quando eu me aproximei.
_você viu? – perguntei, mesmo já sabendo a resposta – porque não fez nada para impedir?
_porque eu não posso sair desses corredores! – rebateu.
_mas poderia ter impedido a assassina! – ele olhou-me confuso – ela passou por aqui! Ou melhor, pelos atalhos que só você conhece o segredo para usar! Corri atrás daquela vadia como pude, devo ter ferrado algumas partes dos corredores, por ir rasgando os atalhos atrás dela.
_pelos atalhos, você disse? – indagou fitando-me com o semblante sombrio.
_pelos malditos atalhos! – rosnei irritado.
_então era ela... – murmurou para si mesmo.
_eu vou desfazer o que ela fez! – declarei firme, fazendo-o me olhar com os olhos estreitos.
_você não pode! – respondeu.
_eu posso o que eu quiser! – rebati – você não manda em mim!
_você esta muito ousado... – sorriu malicioso – não tem poder suficiente para isso, seu merdinha!
_posso drenar cada gotinha de poder dessa sua casca acabada! – ele gargalhou.
_eu posso mata-lo facilmente, seu moleque! – falou sorrindo.
_quero ver tentar velhote! – rosnei.
Sem esperar pelo seu ataque, avancei correndo, e girei no ultimo segundo, para lhe acertar uma cotovelada no estomago, mas ele saltou no ar, desviando-se, segurou em meu pulso e o rodou ao contrario, fazendo um “creck”. Ignorando a dor, usei a outra mao para segurar seu pescoço e puxar sua traqueia, mas antes que eu conseguisse arrancá-la fora, ele perfurou meu estomago com sua mão. Chutei a lateral do seu joelho, e peguei impulso para o chutar longe, afastando-me de mim. Ele apenas deu um mortal e caiu de pé, enquanto eu caia no chão de qualquer jeito, sangrando.
_acho que vou lhe ensinar bons modos, garoto! – ele se aproximou e pegou-me pelo tornozelo arrastando-me pelo corredor – vamos ver até onde você mantem essa marra!
Meu corpo estava se regenerando devagar, e eu precisava estancar aquela ferida. Olhei as portas ao redor, não estava reconhecendo aquela parte do corredor, tentei me soltar, mas a mao de Daisuke prendia-me como uma garra de metal. Continuei me debatendo, mas sem qualquer resultado, ele continuou me arrastando para uma sala que eu desconhecia, e jogou-me ali, mas não antes de me enrolar em correntes, e largar-me no chão.
_veja, já faz muito tempo que eu fiz algo como isso... – falou sumindo nas sombras nas periferias da sala – então peço que me perdoe se fizer algo errado!
As correntes impediam-me de visualizar o que ele trazia nas mãos, mas quando senti a lamina passar por meus tornozelos, arrancando fora meus pés, urrei de dor, contorcendo-me.
_SEU MALDITO! – gritei debatendo-me.
_desculpe, minha intensão era arrancar apenas um! – desculpou-se se aproximando – mas vamos continuar sim...
As correntes ao meu redor, esquentaram como o inferno, queimando-me, fazendo com que minha pele tostasse como baicon, gritei tentando me soltar, mas meu corpo estava ficando fraco.
_veja, menino... Achei um ferro fino e pequeno... – ele pisou em meu peito, fazendo-me olhá-lo – acho que já sei onde colocar... – ele agachou-se e virou minha cabeça, senti aquele pedaço de aço rasgar meu ouvido – serviu perfeitamente! – ele chutou meu rosto e levantou-se – ah, veja isto, seus pés já estão crescendo de novo, mas acho que vou acelerar esse processo, só para eu cortá-los novamente!
Ele arrastou-me até um canto e me enfiou de cabeça num tipo de vala que havia ali, tentei gritar, mas o liquido ali entrou em minha boca, fazendo-me despertar o lado vampiro em mim: aquilo era sangue. um sangue com gosto de morte. Não sei por quanto tempo ele me deixou ali, até que ele me puxou, jogando-me no chão.
Tossi, engasgando-me, e puxei o ar com força. Não precisava respirar de fato para viver, mas a ausência desse costume, a ausência do ar, deixava-me incomodado. As correntes além de me apertar, voltaram a queimar, transformando minhas roupas em trapos e deixando minha carne queimada.
_a natureza é tao bela... – comentou, se aproximando – veja o que eu encontrei! – ele ergueu uma espécie de sentopeia enorme, que mexia-se, e a julgar por sua coloração e forma, deveria ser venenosa de alguma forma – vamos deixar ela em segurança, certo?
Ele virou minha cabeça e colocou aquele bixo na lateral da minha cabeça, e o mesmo logo começou a andar por minha pele, subindo em direção ao meu ouvido, para entrar ali em seguida. Gritei ao senti-lo romper meu tímpano.
_agora, me diga, Ra’s, quanto é mil menos sete? – Daisuke me virou de bruço e pisou em minhas costas – não vou perguntar de novo... – ele encostou algo frio em minha mão e cortou meu dedo – vamos, menino, me diga...
_VAI PRO INFERNO! – gritei, e senti novamente o frio do aço tocar minha mão.
Menos dois dedos, e mais um grito.
_seja um bom menino e conte... Você é ótimo de calculo.
_SEU MERDA, EU VOU ACABAR COM A SUA RAÇA! – ameacei, sentindo mais dois dedos meus caírem.
_você tem muitos dedos, e se regenera muito rápido, eu ainda tenho muito sangue para enfiar na sua goela, e perceba... Aqui não é lugar nenhum, não há tempo algum! Ou seja, temos todo o tempo do mundo para nos divertir!
Eu só conseguia pensar no que faria, no exato momento em que Enzo cumprisse sua parte da missão, pois Daisuke permaneceria bastante ocupado, cortando meus membros aos poucos.
Senti meu braço ser forçado pelas correntes, e quebrar em seguida, rasgando a pele, expondo a fratura. Daisuke remexeu com gosto aquela fratura.
_conte... – rosnou irritado – quanto é mil menos sete, Ra’s Al Ghul?
_993... – murmurei sentindo-me rendido – 986... 979... – senti a lamina passar em minha mão, cortando-a fora – 972... 965... – continuei contando, sentindo meus membros sendo cortados aos poucos.
O maldito iria me fazer contar, mantendo-me consciente até não aguentar mais.
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A Cabeça do Dragão - Série IMORTAIS - Livro 5 (final)
FantasyImortais destinados a grandes feitos irreconhecidos à margem da sociedade! Divididos numa linha ténue entre o mundo humano e o sobrenatural. Ra's Desde pequeno fora sempre muito entendido, obedecia meus pais sem questionar e nutria uma profunda admi...