31 Enzo

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Apertei novamente aquele corpo pequeno e macio contra o meu. Estávamos sentados no tronco de uma arvore, perto de uma clareira, no mesmo bosque onde fizemos a trilha; contemplávamos as primeiras estrelas aparecendo e enfeitando o céu.

_temos mesmo que ir? – perguntei pela milésima vez, e a ouvi sorrir.

_é sua festa de aniversário! – respondeu e eu suspirei – temos que ir Enzo!

_ou poderíamos ficar aqui mesmo...

_Anya veio para vê-lo, todos irão celebrar! Deixe de ser criança! – repreendeu-me num tom brincalhão.

_só vou se você prometer que não vai mudar de ideia com relação a nós! – argumentei inalando profundamente seu cheiro – estou pronto para enfrentar seu irmão, mas se você der pra trás, não vou conseguir lidar com isso...

_eu não vou dar pra trás! – falou firme, ou ao menos isso, seu coração acelerou e eu me senti inseguro.

Inspirei fundo e suspirei, soltando seu corpo pequeno enquanto me levantava. Mantive os olhos no céu, preferindo a imensidão azul, do que a insegurança e o medo estampado no rosto de Ariane, mas ainda sim, virei-me para encontrar o que eu já previa. Ela observava-me receosa, e o medo somado a sua insegurança estava estampado ali...
Nosso momento tinha acabado.

_Ariane, estou falando sério... Se você me der uma chance, vou investir pesado nisso e seu irmão não será capaz de me impedir, mas se você não me quer, ou usar seu medo como desculpa para nos afastar... Não vou insistir nisso! – declarei firme absorvendo sua expressão surpresa com minhas palavras – eu gosto muito de você, e desejo que possamos ter algo a mais... Só que não vou me prender a um sentimento falido, e ficar sofrendo por algo que eu quero, que você quer, mas usa o medo como desculpa!

_Enzo... – murmurou.

_vamos? – perguntei estendendo minha mão para ela que a observou confusa – temos uma festa para ir! Estou com saudades de minha Anya!

Ariane deu um sorriso triste, e pegou em minha mão, e então retomamos nosso caminho calmamente. O clima que estava rolando antes, agora era esmagado pela tensão; mas pelo menos fui sincero e disse tudo que pensava. Não vou ficar dando murro em ponta de faca, se o medo dela for maior do que sua vontade, só sairíamos mais quebrados ali, e eu era maduro o suficiente para saber quando me afastar, para o bem de ambos.
Agora entendo o motivo de Ra’s agir tão duramente com ela, o medo se sobrepõe a qualquer vontade dela, e somente na marra, sob pressão, ela consegue se impor.
Chegamos até onde tinha estacionado o carro, e como todas as vezes durante o dia, abri a porta, como um cavalheiro, e a esperei entrar, antes de fechar, mas diferente das outras vezes, Ariane já não corava mais e nem sorria timidamente, e eu já não tinha mais o mesmo ânimo. Por sorte, era meu aniversário, iria ver minha menina e encher a cara até dizer chega. Sorri com esse pensamento.
Trocamos poucas palavras durante o caminho, e ela me afirmou que estaria na festa, mas no momento, eu iria deixa-la em paz. Sem investidas, sem gracinhas ou gracejos, daria a ela tempo para decidir o que queria de verdade.
Quando chegamos a mansão, ela desceu do carro receosa...

_Enzo... – chamou-me.

_sim?! – esperei por sua resposta, mas ela apenas sorriu.

_o dia foi maravilhoso! – falou visivelmente sem graça - obrigada!

_disponha! – sorri e dei de ombros descontraído. Não adiantava nada pressioná-la ainda mais, demonstrando o quanto a insegurança dela estava me quebrando em pedacinhos.

_nos vemos mais tarde... – virou-se e partiu.

Fiquei ali recordando do nosso dia, e em como ele terminou estranho. Bati a porta do carro com uma força um pouco desnecessária, amassando-a no processo. Rosnei irritado e fiz uma rápida corrida até o centro do anexo da casa Valerian, queria ir para o quarto, no entanto meu corpo guiou-me para a sala de estar, e logo senti braços delicados, agarrando-me com força, brecando minha corrida.

A Cabeça do Dragão  - Série IMORTAIS - Livro 5 (final)Onde histórias criam vida. Descubra agora