39 Ra's

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Sentei-me ao lado da cama onde Amelie estava, e deixei minha mente vagar até a batalha que se dava no jardim, a tormenta de antes sequer passava de uma leve garoa, indicando que tudo já estava se findando. Pensar que tudo isso poderia ser evitado, porém precisava deixar que todos lutassem suas batalhas e vencessem seus demônios interiores.
Observando Amelie na cama, encarei meu pior demônio: perder alguém que amasse. Definitivamente eu não suportaria quaisquer perda, o que faz de mim o maior covarde de todos os tempos.
Ouvi passos apressados no corredor e em seguida a porta foi aberta brutalmente, observei com desinteresse Lary passar por ali, e aproximar-se da cama choramingando, Dante vinha logo atrás, com Grazzi; minha possível futura sogra rosnou irada ao me ver, e partiu pra cima de mim, acertando-me socos poderosos, tapas ardidos e arranhões que com toda certeza deixariam marca.
Permaneci imóvel.
Nem mesmo quando uma de suas unhas afiadas fez um corte vertical profundo em meu olho esquerdo; aquele demoraria a sarar, sem falar na cicatriz que ficaria ali. Quando Dante percebeu que as coisas estavam ficando sérias, tirou a esposa de cima de mim, que continuou debatendo-se.

_MALDITO! – gritou possessa – ME SOLTA DANTE! – tentou acertar o marido, enquanto ele a segurava firme – ME SOLTA OU VAI SOBRAR PRA VOCÊ! COMO PODE DEIXAR NOSSA FILHA COM ESSE IRRESPONSAVEL? OLHE O ESTADO DO MEU BEBÊ!

_Lary acalme-se! – Grazzi tentou intervir, porém de nada serviu.

_ME ACALMAR? COMO EU VOU ME ACALMAR? – berrou furiosa – ESTE FILHO DA PUTA VEM APENAS USANDO MINHA FILHA PARA SEUS FINS OBSCUROS, ELE NÃO A AMA, NÃO A RESPEITA, SÓ TEM FEITO ELA SOFRER! – disparou tentando botar suas garras em mim – EU PROIBO VOCÊ DE FICAR PERTO DELA!

_Lary, por favor, se acalme! – Dante pediu, o que pareceu gerar ainda mais fúria nela.

_ISSO É CULPA SUA SEU IRRESPONSAVEL! – seu alvo havia mudado, agora ela estapeava o marido como podia – NADA DISSO TERIA ACONTECIDO SE VOCÊ TIVESSE RECUSADO A PROPOSTA DE CASAMENTO, SABIA QUE SE FALASSE PARA AMELIE, ELA FARIA QUALQUER COISA PELA FAMILIA, SE SACRIFICARIA POR QUEM QUER QUE FOSSE! – o acusou – EU TE ODEIO POR ISSO, PORQUE VOCÊ NÃO CONSEGUE TOMAR NENHUMA ATITUDE POR SI SÓ, SEU FANTOCHE DE MERDA! INSENSIVEL!

Então era isso que significava amar. Observei Dante tenso, segurando Lary com força o bastante para imobilizá-la, mas não para machuca-la; vendo sua expressão e seus olhos, conseguia ver claramente que cada palavra que ela desferia contra ele, era pior que uma apunhalada, porém ele continuava firme. Movi meu olhar deles, para Amelie... Apesar de tudo que lhe fiz, ela continuava disposta ao matrimonio, afinal, não tinha quebrado o acordo, mesmo depois de tê-la liberado do compromisso.
Eu seria alguém assim para ela? Que apensar de tudo, estaria ao seu lado em todos os momentos? Estava dentro de minhas capacidades me tornar alguém merecedor dela?
Voltei minha atenção a Lary, observando atentamente seus olhos, brilhavam furiosos, magoados, e com certo receio... No fundo o que ela dizia ou fazia também lhe magoavam, mas sua raiva era maior. Seu gatilho impulsionador a fazia explodir quando o assunto era Amelie, mas essa explosão com certeza não faz bebem ao bebê.

_Dante... – o chamei baixinho, em meio aos gritos dela – faça-a se acalmar, ou ela terá um sangramento...

_Bennet, acalme-se! – ele bradou fazendo-a se calar por um instante – tem outro filho nosso em você, pelo amor de deus, se acalme! – ela o olhou e sorriu ainda mais furiosa.

_VOCÊ NÃO TINHA DESCULPA MELHOR PARA INVENTAR DANTE? – bradou – NÃO ADIANTA VIR COM ESTA MERDA PARA TENTAR DESVIAR DO ASSUNTO, SEU INCONTENTE!

_PRESTA ATENÇÃO BENNET! – me surpreendi ao vê-lo virar a mesma em seus braços prendendo-a ali, encarando o mais profundo de seus olhos – QUER BATER NO DRAGOMIR? ÓTIMO! BATA NELE ATÉ A MORTE, MAS DEPOIS QUE NOSSO FILHO NASCER! – gritou chaqualhando-a – E NÃO VENHA COM ESSA MERDA DE FANTOCHE AGORA, MAIS DO QUE TODOS, TUDO QUE EU FIZ E FAÇO É PELA NOSSA FAMILIA! VOCÊ É MINHA FAMILIA! GRAZZI É MINHA FAMILIA, DAMON E DRACO SÃO SUA FAMILIA... TODOS SOMOS APENAS UMA MERDA DE FAMILIA! – disparou soltando-a – AMELIE É MINHA FILHA, VOCÊ ACHA QUE EU NÃO ESTOU ME SENTINDO UM LIXO POR VÊ-LA NESSE ESTADO? – apontou para cama – VOCÊ ME ACHA TÃO FRIO DESSE JEITO? AINDA ACHA QUE EU NÃO SINTO NADA, OU QUE NÃO ME IMPORTO COM NOSSA FILHA? QUE TIPO DE ABOMINAÇÃO VOCÊ ACHA QUE EU SOU? – ela permaneceu calada o olhando sem saber o que dizer, enquanto ele rosnava mordendo a língua dentro da boca, provavelmente prendendo duras palavras que destruiriam tudo. Isso era amar – não sou obrigado a ouvir essa merda toda de você, Lary... Não de você... – resmungou infeliz e afastou-se para um canto – Amelie é maior de idade, dona do próprio nariz, sempre fez e continuará fazendo apenas o que quiser e o que achar que deve ser feito! – continuou sentando-se emburrado num sofá – criei minha filha para ser forte, uma mulher dona de si... Pelo menos isso fiz direito...

_Dante, não é assim também... – Grazzi tentou intervir – Lary só está nervosa...

_e eu estou lindando com esta merda de forma calma e pacifica porque não tenho um pingo de sentimento no meu corpo pela minha primogênita! – resmungou baixinho e Grazzi calou-se – claro, eu entendo perfeitamente!

_não precisa fazer drama... – Lary começou incerta de suas palavras – eu não queria...

_tanto faz! – a interrompeu – vou ver como as coisas estão lá fora! – dito isto, virou-se e saiu em passos firmes da enfermaria.

_ele vai se acalmar, só está chateado! – falei sem me importar com o sangue que ainda escorria do ferimento em meu rosto, dos arranhões e do incomodo nos lugares onde ela tinha me socado.

_tudo isso é culpa sua... – rosnou irritada – desde que você apareceu em nossas vidas, tudo desandou! Você é responsável por toda essa desgraça, TODA ESSA MERDA É CULPA SUA! – gritou no final, e Amelie resmungou na cama.

_para de ataque mãe ou vai parir meu irmão prematuramente! – resmungou baixinho.

_Ellie! – se aproximou da cama e segurou a mão da filha – como você está? O que aconteceu? Ta doendo muito? – indagou aflita.

_estou bem!

_ora bem, se estivesse bem, não estaria aqui! – rebateu irritada – o que esse cretino fez? – olhou-me de canto de olho furiosa.

_ele me salvou mãe... – revelou e Lary a olhou perplexa – o que aconteceu com você? – perguntou olhando para mim – fomos atacados depois que eu apaguei? Você ta horrível! – falou alarmada – precisa estancar esse ferimento no olho, quer ficar cego? – tentou se levantar, mas a mãe a impediu.

_fique deitada! – dei de ombros – isso não é nada, estou bem! – aquela dor focalizava minha atenção, desviando-a assim do conflito fervoroso que havia em mim – logo vai sarar!

_isso é pouco, perto do que ele merecia! – Lary rosnou e Amelie fitou a mãe perplexa, e demorou apenas alguns segundos para juntar tudo na sua cabeça.

_porque você fez isso nele? – perguntou nervosa.

_ela teve seus motivos, Amy... – Grazzi tentou cortar o assunto, mas não teve jeito.

_porque ele mereceu! Tudo de ruim que vem acontecendo, sempre tem dedo dele! – disparou – ele some, reaparece, daí simplesmente acontece alguma merda! Sem falar que ele so está brincando com seus sentimentos, enquanto fode outras por ai! Ele não te merece, e eu não vou deixar você se casar com ele Amelie! – falou firme.

_ele se sacrificou por nós desde o início... – começou a responder, mas a fiz se calar, usando um truque mental. “Ela não vai entender, não perca seu tempo, ninguém mais pode saber daquilo!” soprei em sua mente.

_pouco me importa! – rebateu – quero você longe da minha filha! – declarou autoritária – saia daqui! Você não é bem-vindo!

_mãe! – exclamou.

Não queria mais causar conflitos ali, apenas levantei e deixei a ala da enfermaria, imerso em meus pensamentos conflituosos, ignorando os chamados de Amelie. De certa forma, Lary estava certa, tudo que eu tinha feito só havia causado transtornos e problemas para todos.

_ela falou da boca pra fora, apenas está nervosa! – uma voz soou distante e pensativa. Sequer tinha notado Dante escorado numa janela que havia ali perto.

_ela tem razão... – suspirei – ficarei longe até o nascimento do seu filho... – declarei retomando a caminhada – minha presença aqui só fará mal a sua família...

_Amelie sentirá sua falta... – quase travei no lugar – quando você me contou o que tinha feito, quase não acreditei, porém eu, melhor do que ninguém, sei o que é não sentir nada e num piscar de olhos, sentir tudo ao mesmo tempo! – falou e eu continuei caminhando – e nunca melhora... Seremos eternamente quebrados...

_eu escolhi me quebrar... – declarei.

_por sua família, e não tem gesto mais nobre que esse!

O deixei falando ali, e segui sem rumo pelos corredores, tentando pôr em ordem tudo aquilo que estava me atormentando por dentro. Estava distraído até ouvir passos apressados para dentro do complexo e logo uma luz forte veio de fora, apenas estreitando os olhos, reconheci as chamas de Arlekin devorando tudo.
Tinha acabado, porém eu ainda tinha que fazer uma última coisa.
Seguindo um cheiro similar ao meu, encontrei Ariane perto de nossa mãe, juntamente com todos na sala principal do complexo. Apenas passei ao seu lado e a fui puxando comigo, sem deixar brechas para questionamentos, e parei apenas quando nos afastamos o suficiente dos outros. Precisávamos nos acertar bem ali.

_Ra’s... – começou temerosa – o que houve?

_quando você se tornou tão covarde? – fui direto ao ponto.

_como assim? – olhou-me confusa.

_Enzo! – falei e a vi ficar tensa e ainda mais nervosa; seu coração descompassou – ele me contou tudo!

_tudo? – perguntou receosa.

_tudo, Ariane, e novamente eu te pergunto, quando se tornou tão covarde? – ela estreitou os olhos irritando-se.

_eu não sou covarde! – rebateu.

_então porque não está com Enzo? – ela recuou exasperada.

_talvez porque eu não queira estar com ele... – declarou incerta e eu quase sorri de sua tentativa de me enganar.

_olhe dentro dos meus olhos e diga que não quer Enzo, que não sente nada por ele! – a desafiei e ela apenas desviou os olhos – covarde! – a acusei.

_eu não queria criar problemas entre vocês, ele é o primeiro amigo que você tem em anos... – tentou desculpar.

_não venha com essa merda, eu leio mentes! – rebati irritando-me.

_quer saber? Isso é culpa sua! Talvez eu estivesse com ele, se não tivesse tanto medo de você chegar e destruir tudo, porque é isso que você faz, chega e acaba com tudo! – falou ríspida.

_não jogue nos outros a culpa pelos seus medos! – rosnei – impecílio existem aos montes, e você deixa de ter e fazer o que deseja e fica jogando a culpa nos impecílio, poderia ser eu, tio Caleb, até uma ex namorada qualquer dele, você jogaria a culpa nos outros, porque não tem coragem de assumir que é uma covarde! – falei duro enquanto ela me olhava perplexa – tentei ser o seu pior medo, para que no mínimo você ficasse com ódio de mim, e se tornasse forte para me ultrapassar, mas não... Deixou-se ser dominada por seus medos! – respirei fundo e a observei – eu estou indo embora, mas voltarei em algumas semanas, você tem até lada para se decidir, ou eu farei com que Enzo a esqueça!

Virei-me e sem me importar com os olhares, abri uma dobra no tempo e parti, dando antes, uma última olhada em meu pai, minha tia e Arthur. As coisas estavam encaixando-se aos poucos.





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A Cabeça do Dragão  - Série IMORTAIS - Livro 5 (final)Onde histórias criam vida. Descubra agora