32 Amelie

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Minha vida estava parecendo um daqueles filmes ruins de romance, ou um livro mal escrito. Como era possível que eu fosse tão afetada por um babaca que sumia durante quase todo o tempo, estando sempre ausente e ainda sim, não poder me desligar dele.
Para somar, ainda tinha sua cadelinha de estimação, que agora vivia grudada com Ariane para todos os lados. Garota insuportável. Bem no fundo havia uma pequena voz gritando de felicidade por Ra’s ter deixado a putiane para trás, onde quer que ele estivesse, estava sozinho; jamais deixaria isso vir à tona, não queria me passar por mais boba do que já era.
Nos últimos meses as coisas ficaram relativamente incomodas, todos pareciam estar se ajeitando, menos eu. Meu pai e minha mãe saíram em uma segunda lua de mel para um destino desconhecido; tio Draco deixou o complexo levando sua esposa, ao que parece, também queriam um pouco de privacidade. Tio Damon e tia Safira saiam às escondidas durante as noites, tardes e manhãs para... Bem. Até mesmo Ella e Raphael estavam namorando, após uns surtos de ciúmes do tio Draco... E eu continuava na mesma.
Tinha perdido meu boy magia, pois Cris tava tendo um “lance” com uma garota chamada Kathe, nada contra e tals, mas perdi minha diversão.
A ausência era grande, mas os trigêmeos Valerian, voltaram de suas “escapadas amorosas” no mesmo dia, pareciam estar cientes de algo, ou prevendo algo.
Para completar, quando penso que finalmente o cretino Dragomir iria se perder no tempo, o mesmo aparece e fala com Enzo, e ainda confirma que estará presente no meu aniversário, não que eu quisesse sua presença, mas... Ele disse que estaria lá. E meu coração traidor pulou de felicidade com a notícia.
Aquele idiota mexia comigo.
Horas depois, estava com minha roupa para caça, afinal sou uma vampira, eu saio para caçar. Botas de cano longo rasteira, calça jeans escura, camisa de mangas de algodão e um casaco. Já Enzo usava uma regata de gola V, calças escuras e coturnos.

_não levará nenhuma arma consigo? – perguntei quando ele passou por mim, e ele apenas negou com a cabeça.

Aquele não era mais o Enzo amável e gentil que vivia sorrindo, aquele era o lado sombrio que raramente se revelava. Meus pés não queriam mover-se para o seguirem, pois meus instintos me diziam que eu deveria ficar o mais longe possível.

_não me faça esperar, Amelie! – falou duro olhando por cima do ombro, e eu o segui prontamente – apenas não atravesse meu caminho!

_o que vamos caçar? – perguntei tentando me recompor.

_ovelhas que estão prontas para o abate! – respondeu já iniciando sua corrida.

O acompanhei sem grandes dificuldades, corríamos por entre as arvores numa velocidade inumana, não tínhamos tempo para perder. Não tínhamos planos, não tínhamos armas, e aquilo não era para ser escandaloso, o que iria requerer todos nossos instintos de caça. Raramente fazíamos ataques assim, pois era muito perigoso, com isso podiam descobrir nossa identidade. Nossos olhos adaptavam-se ao terreno, e vislumbrávamos o melhor terreno, durante a corrida, mediamos nosso ataque, e quando começamos a sentir o cheiro de nossos inimigos, tolos humanos, passamos direto rumo ao sul, pois o vento estava vindo do norte, e não sabíamos se eles estavam acompanhados com cães farejadores. Corremos por todo o perímetro, para ludibriar qualquer rastreador que tivesse ali, e quando finalmente nos posicionamos, ficamos de tocaia bem perto do acampamento que eles haviam montado.

_são muitos! – resmunguei sussurrando inaudívelmente aos ouvidos humanos.

_nosso assalto vai ser único, preciso e letal! – declarou firme deixando-me desconfortável – não trouxe você para brincar apenas, Amelie! Preciso de seu treinamento e de sua força, simples assim! Se não soubesse da sua capacidade, estaria aqui com meu pai e não com você! – rosnou baixinho.

_entendi, Enzo! – rebati – você pega os da direita... Vou atrás do líder do esquadrão!

_lembre-se de não cruzar meu caminho! – alertou-me uma última vez e nos calamos.

Ficamos por poucos segundos calados, antes de iniciarmos nossa corrida rumo a chacina que nos aguardava. Enquanto me empoleirei numa arvore, observei Enzo destroçar um por um dos que via em sua frente, arrancando-lhes a cabeça, sem qualquer hesitação. Ele parecia ter prazer em quebrar pescoços e decapitar seus inimigos com as próprias mãos, pois sequer estava se sujando o maldito. Deixei aquela fera de lado, e avaliei mentalmente o acampamento, e varri rapidamente o local, encontrando uma tenda com mais escolta; e pelo óbvio fui direto para ela, mantendo meus instintos alertas, não deveria entrar no caminho de Enzo, pois eu queria ficar com minha cabeça no lugar. Sorrateiramente matei os dois guardas, torcendo seus pescoços. Quando o homem me viu, tentou gritar, mas eu segurei sua boca com força.

_diga quem mandou você... – sorri diabolicamente.

_seu monstro... – balbuciou e eu o soquei com força, apagando-o na hora. Olhei ao redor e usei uma corrente que achei por ali para prendê-lo.

Deixei-o ali e sai para o banho de sangue. Era libertador deixar a fera solta, e matar qualquer um sem se preocupar em parecer humana. Eu era um monstro, um demônio como muitos chamavam, e eu não me importava. Com uma velocidade absurda ia, chutando costelas, quebrando colunas, torcendo pescoços, e ao contrário de Enzo, me banhando no sangue. Não sabia como ele fazia isso.
Num segundo que me distrai pensando nisso, o mesmo passou rente em mim, deixando-me em pânico. Cheguei a sentir suas mãos tocarem minha cabeça e soltando-me em seguida. Rolei para o lado e pulei para o mais longe que pude, com o coração quase parando. Se ele tivesse segurado, eu estaria morta. Estremeci e senti minhas pernas travarem no lugar.
Sentia um aperto no peito sufocando-me, me mantendo parada ali, com medo. Estava em pânico. Enzo quase me matou. Enzo tinha me tocado e por um momento pensei que iria morrer, de verdade. Tentando controlar aquele súbito pânico, voltei para a cabana onde tinha deixado o líder daquela emboscada, e esperei.
Apenas quando meu primo, o MEU PRIMO, Enzo, e não o assassino Enzo, apareceu, sai dali.

_tudo bem, Ellie? – perguntou jogando o corpo inconsciente do homem em suas costas, apenas afirmei, insegura com minha voz – desculpe por ter te tocado... – apenas afirmei novamente e ele suspirou.

Dessa vez fomos andando, ele mantinha uma distância de mim. Tinha consciência do que tinha acontecido e estava me dando espaço para digerir aquilo. Quando chegamos a mansão tio Damon e Draco levaram o homem para uma sala reservada, iriam ter uma conversa particular com ele, e pediram ajuda a mãe do demônio, afinal Sansara lia mentes. Fui para meu quarto, e Enzo para o dele, mas eu ainda sentia aquela sensação sufocante.
Estava mais abalada do que pensei, pois quando dei por mim, estava na frente da porta do quarto de meus pais. Minha mãe abriu a porta sorrindo, mas ficou séria ao ver meu estado.

_o que houve, minha filha? – perguntou subindo sua voz algumas oitavas – Dante! – exclamou chamando por meu pai, que logo entrou em meu campo de visão e aproximou-se.

_Amy? – chamou-me e eu me joguei em seus braços tremendo – está tudo bem... – ele afagou meus cabelos e abraçou-me, se sujando de sangue juntamente comigo – shhhh, está tudo bem...

_eu... eu... pensei que ia m-morrer... – balbuciei sentindo-me tremer ainda mais – pai... Ele... Foi por um tris...

Conseguia visualizar toda minha vida diante dos meus olhos. Estava completamente fora de mim, sem forças, sem conseguir esboçar qualquer reação. Sentia o cheiro e o calor de meus pais acalmando-me aos poucos, mas não esqueceria aquela sensação tão cedo.
Por um segundo, me perguntei se era assim que Ele vivia? No limite do seu limite o tempo inteiro?
Desde aquela noite não paro de pensar. Não consigo esquecer o toque sombrio de Enzo, e o mesmo tinha se afastado de mim, ele era bem perceptivo e sabia que eu ainda não estava à vontade para ficar em sua presença depois daquela noite.
Meu aniversário chegou, e eu estava completamente alheia a ele, porém quando a lembrança, de que Ra’s estaria ali, atingiu-me em cheio, fiquei extremamente ansiosa e nervosa.
Minha mãe havia organizado um jantar, com direito a tudo, meus poucos amigos, Cris e sua girl, Megan e o seu Boy, toda nossa família, Arlekin e Raphael obviamente, já eram parte da família mesmo. Até Arthur veio, o que achei estranho, pois Cambriel havia saído em viajem com o mesmo há algum tempo e até então não tinha retornado e Arthur não dizia nada além de “ele está bem, não se preocupem!”, e a única pessoa que eu queria ver ainda não tinha chegado. O jantar iniciou-se, e fui obrigada a fazer um discurso só para entreter o povo ali, e logo após me misturei aos demais, tentando não surtar de ansiedade.
Decidi ir para a cobertura do espaço, respirar e acabei encontrando Arthur ali.

_ola! – cumprimentou-me – não precisa se estressar, ele vai chegar!

_queria saber onde ele está! – resmunguei, não adiantava esconder nada de Arthur mesmo.

_resolvendo assuntos de família! – declarou – e sozinho! – rosnei. A puta tinha sumido no último mês, e eu suspeitava que ele estava com ela – respire, e se acalme, ele já chegou! – quase nem assimilei o que ele disse, quando Ra’s surgiu em minha frente, e Arthur lhe desejou um “boa sorte”.

Usando um smoking preto, com uma camisa preta por dentro e uma gravata preta. O demônio estava lindo, e seu rosto aparentemente relaxado, mas seus olhos não esboçavam nada.

_feliz aniversário! – falou ao se aproximar, enquanto eu o olhava furiosa.

_deixe-me adivinhar... Tudo no seu tempo? – ironizei – quero que se foda, o seu tempo! Você disse que estaria aqui... – era pra ele estar desde o início e não chegar quase no final.

_eu estou bem aqui! – gargalhei transbordando sarcasmo.

_não se faça de idiota, Ra’s! – rebati irritada – onde você estava? Ou melhor, com quem você estava? – indaguei sentindo meu sangue ferver.

Ele ficou em silencio observando-me, e eu cheguei à conclusão de que ele estava com aquela puta em algum lugar. Só pude olhá-lo com nojo.

_eu não vou aceitar isso... – falei por fim – você vai ter que escolher...

_isso não depende do seu querer! – como uma adaga, lançou a caixa em minhas mãos – eu queria que você entendesse, mas você não é capaz disso! Sinto muito, eu me precipitei ao ter colocado qualquer expectativa em você... Amelie, eu libero você desse compromisso! – minha boca abriu-se num perfeito “oh” – Adeus, pequena... – ele virou-se e partiu sem dizer mais nada, deixando-me ali sem saber o que fazer, ou como reagir.

Fiquei ali o resto da festa, não desci, não falei com ninguém que subiu, e sequer aceitei o drink que meu pai trouxe para mim. estava completamente catatônica com o que tinha acontecido. Tinha acabado? Simples assim? Como assim?
Voltei a mim horas depois, tomada por uma fúria implacável. O filho da puta tinha me acorrentado por anos e iria acabar assim? Que se foda aquele destino desgraçado, eu iria matar ele e sua putinha de estimação.
Farejei seu cheiro e o segui, levando comigo apenas uma adaga e o desejo ardente pela vingança.





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Até segunda Pandinhas!
Bjinhos

A Cabeça do Dragão  - Série IMORTAIS - Livro 5 (final)Onde histórias criam vida. Descubra agora