Aliança e complicações

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[ Kassandra ]

Era horrível depender dos outros. Ainda mais de um cara que demonstrava desconforto com a situação. Eu odiava me sentir inútil, dependente e fraca. Mas, o ferimento no meu peito ainda não havia se curado. Eu estava com a ferida do meu pai e da minha mãe. Se fosse só de um, talvez já tivesse curado. Mas, sendo dos dois, estava demorando um pouco mais. Sozinha em casa, já que Viktor foi trabalhar, precisei me virar. Me levantei da cama com dificuldade e fui até a cozinha. Me apoiando nas paredes. Consegui encher uma taça de sangue e sentei no banquinho, me apoiando na bancada da cozinha!
Me senti um pouco melhor. Olhei para a ferida. Só mais um pouco. Aquele era um órgão bem complicado. O mais sensível para um vampiro. E o mais difícil de recuperar. Tudo bem. Meus pais estavam curados e era só isso que importava.
Eu fui até o quarto. Fiquei deitada tempo de mais. Eu precisava de um banho e trocar de roupa. Havia roupas femininas no quarto de hóspedes. Na certa, Viktor mantinha para suas companhias. Ou quem sabe, para suas filhas. Eu peguei um vestido simples. Azul piscina. Deixei em cima da cama. Peguei a toalha e entrei no banheiro. Enchi a banheira, porquê seria pior usar o chuveiro. Fiquei imersa na água quente e cheia de espuma. Melhorou bastante meu estado de espírito. Mas, ardeu bastante o machucado.
Saí e me sequei. Me enrrolei na toalha e fui para o quarto. Me apoiando nas paredes. Olhei para o vestido na cama e puxei a toalha. Dei um passo na direção da cama, antes de perceber que não estava sozinha. Outro coração batia ali perto. O cheiro era inconfundível. Viktor. Meu sangue congelou nas veias. Meu rosto esquentou. E eu me virei lentamente para a porta que eu esqueci de fechar. Estava sozinha em casa. Porquê me preocuparia com isso? Ele olhava para mim de sobrancelha franzida. Eu Peguei a toalha para me cobrir.
_ Não esperava você agora.
Ele entrou no quarto. Olhou para o vestido na cama e para mim.
_ Como está esse machucado?
_ Acho que você já viu mais do que deveria.
Ele ergueu a sobrancelha.
_ Já vi tantas mulheres nuas, que isso não me abala nem um pouco.
Ui! Meu ego recebeu um golpe.
_ Não é como se nunca tivessem olhado para mim. Mas, eu escolho para quem vou me mostrar. E você não é uma opção.
_ Mesmo?... Porquê no baile eu parecia ser a melhor opção que você tinha.
Porquê ele parecia ganhar todas as discussões? Era irritante. Eu deixei a toalha cair.
_ É assim que está a ferida.
Ele olhou para o machucado.
_ Falta pouco.
_ Você quer me ver longe o mais rápido possível não é?
_ Porquê está sempre na defensiva comigo? Eu sou aliado dos seus pais. Não sou um inimigo. Você está sob a minha responsabilidade. Quando seus pais voltarem, você precisa estar em perfeitas condições. Nós ainda não tivemos um tempo para conversar e nos conhecer melhor. Se vamos lutar do mesmo lado na guerra, preciso saber com quem estou lidando.
De novo ele parecia ter razão. Eu respirei fundo. Fui até a cama e peguei o vestido. O coloquei e cruzei os braços.
_ Tudo bem. Vamos conversar.
Como se não fosse nada, ele se virou e foi caminhando até a sala. Eu me esforcei para parecer melhor do que eu estava. Sentei no sofá de pernas cruzadas. Reparei que ele olhou para a janela, enquanto sentava colocando o tornozelo sobre o joelho. Se ele não foi afetado, porquê evitava olhar para mim?
_ E então?..._ perguntei.
_ O que você pensa sobre meus transformados? Agora que os de seus pais traíram vocês.
Ah, claro! Ele estava preocupado com os filhos.
_ Não sou idiota. Eu sei separar as coisas. Eu não tenho a confiança que você tem neles. Mas, não vou julgá-los sem terem feito nada. Por enquanto, vou dar um voto de confiança!
_ Ótimo.
_ E quanto à você? Tem mesmo a certeza de que não vão trocar de lado?
Ele deu um sorriso irônico.
_ Depois de tudo que já passamos juntos, eu não tenho dúvida de que são leais. Eu tomei muito cuidado ao criar meu grupo.
_ Espero que esteja certo. Com o número de originais diminuindo, nós precisamos de toda ajuda possível. E os mestiços são bem cruéis.
_ Caçadores... Se sentem no direito de julgar nossa existência. Eu tenho o apoio de meus transformados. E vou conseguir uma cooperação entre os originais. Marcaram uma reunião.
_ Ótimo. É melhor todos se juntarem. Mas, você não parece do tipo que pede ajuda.
Ele esboçou um sorriso triste.
_ Pelo contrário. Eu tive que pedir apoio à seres que eu jurei nunca confiar. Eu nem tenho certeza se fiz certo. Se estão mesmo do meu lado. Quando eu precisei eles vieram. Isso não me tranquiliza.
Reparei que ele parecia cansado. Preocupado.
_ Ei. Você não está sozinho. Tem à nós. Você salvou meus pais. Por mais que me subestime e me irrite, eu vou continuar sendo grata à você. E serei sua aliada, como meus pais são. Que tal a gente começar de novo?
Eu me levantei e estendi a mão.
_ Prazer em conhecê-lo. Eu sou Kassandra Lefevre.
Ele deu um sorriso divertido e se levantou. Estendeu a mão e disse sério...
_ Eu sou Viktor Bartholy. O prazer é meu senhorita.
Ele beijou a minha mão e eu me arrepiei inteira.
_ Espero que daqui para frente, possamos proteger quem amamos. Sem criar atrito entre nós. E para selar essa aliança, nada mais apropriado que compartilhar sangue.
Eu não esperava. Fiquei chocada. Mas, logo me empolguei com a ideia de provar o sangue dele. Sua aura era tão exuberante, que eu tinha esperança de seu sangue me curar mais rápido.
_ Claro! É o jeito certo de se fazer alianças e demonstrar confiança.
Ele se sentou de novo no sofá. Sentei à seu lado. Meio sem jeito.
_ Você primeiro. _ ele disse.
Vendo minha hesitação, ele ofereceu o pescoço. Meu coração batia mais forte. Nervosismo. Aproximei de vagar e o mordi. Eu não esperava as sensações que vieram junto com seu sangue. Eu sempre compartilhei na família. Sempre bebi de humanos. Mas, nunca senti prazer! Era só a satisfação de uma necessidade. Matar a sede. Com Viktor, veio a luxúria. Meu corpo estremeceu e tive que me controlar, para não subir em seu colo. Também foi difícil parar. Me afastei surpresa. Envergonhada.
O machucado no meu peito, finalmente terminou de se fechar. Enquanto olhava, me lembrei das condições em que vesti a roupa. Eu quis levantar, ele segurou minha cintura.
_ Minha vez.
Ele me empurrou no sofá. Deitando sobre mim e mordeu meu pescoço. Isso foi ainda mais intenso. Eu queria tocar nele. Mas, não sabia como iria reagir. Então, apenas segurei com força, o forro do sofá. E trinquei os dentes para não gemer.
Ele se afastou. Levantou-se como se não fosse nada de mais.
_ Temos uma aliança.
Ele foi para seu quarto. Sério, frio. Inabalável. Eu nunca tinha me sentido daquele jeito ao compartilhar sangue. Ele já? Estava acostumado? Aquilo era muito mais que confiança. Era intimidade. Cumplicidade. Algo que eu não teria feito se soubesse. Me senti exposta. Só queria sair dalí o mais rápido possível. Aproveitando que a ferida estava curada, eu usei meus poderes e me teletransportei para casa. Precisava readiquirir um pouco de controle.

*****

[ Viktor ]

Um banho gelado para aliviar. Era covardia ficar sem roupa na minha frente. Um teste de resistência e auto-controle. Quase esqueci o que conversei com meus netos. No final das contas, eu consegui focar em estabelecer a aliança. No entanto, não esperava sentir um prazer tão intenso ao compartilhar sangue. Foi diferente. E novamente veio à mente o que os gêmeos disseram. Ela era a garota certa. Eu ainda não estava feliz com a ideia. Fisicamente, eu não tinha nada do que me queixar. Era perfeita! Mas, o mais importante... A personalidade! Ainda não sabia se podia conviver com alguém que pensa diferente. Deixei a água gelada me trazer de volta à razão. Depois me vesti para a reunião com os originais.
_ Kassandra eu preciso sair. Você está bem?
Sem resposta. Logo percebi que já não estava ali. Talvez tenha sido mais constrangedor para ela, do que para mim. Notei o desejo nos olhos dela. E quase cedi. Mas, a aliança era mais importante que uma simples satisfação de necessidades. Mal nos conhecíamos. Não era hora para isso.
Fui então para o carro. Hora de juntar todos os originais, contra os caçadores.
Aquilo até parecia a reunião de alguma seita. Todos alí estavam sentados em torno de uma enorme mesa redonda. Todos com capas. O local escolhido para a reunião era a residência de Félix de Roux. O vampiro original mais antigo ainda vivo. Sua descendência era ligada a Romênia. Famosa por causa do "pai" de todos os vampiros... Conde Drácula, da Transilvânia. Ouso dizer que em termos de crueldade, não havia família pior! Todos os tratavam como líderes por serem mais velhos e por sua ligação com a cidade do primeiro vampiro. Mas, não era só por respeito! Era também por medo. Eram o maior clã de vampiros.
_ Todos estão aqui?... Muito bem. Vamos começar essa reunião. Quem irá informar o que foi que aconteceu durante o baile dos Lefevre?
Por respeito a origem dos vampiros, todos os originais aprenderam a falar romeno. Não importa qual seu país de nascença. Sendo assim, as reuniões eram sempre na língua deles. Augusto ergueu a voz para explicar.
_ Eu estava dando um baile matrimonial para minha filha. Como o número de vampiros tem diminuíndo, achei por bem, já casá-la com um original. E assim, dar sequência na nossa linhagem. Não sabia que os caçadores estavam nas redondezas. Eles notaram a alta concentração de energia e invadiram o baile. Sendo assim, minha família ficou marcada e todos que estavam presentes. Principalmente Viktor! Que nos protegeu de seu ataque.
Félix olhou para mim, erguendo a sobrancelha.
_ Viktor?... Viktor Bartholy estava em um baile matrimonial?
Tive que aguentar as risadinhas e piadas.
_ Eu sou aliado dos Lefevre! Por que não estaria no baile?
Ele desviou a atenção novamente para Augusto.
_ E como tem passado seu clã desde então?
Augusto pareceu desconfortável. As lembranças eram muito recentes.
_ Fomos atacados. Na empresa, em casa...
_ Em casa? _ Félix franziu a sobrancelha.
_ Tiveram ajuda dos vampiros criados por mim e minha esposa. Fomos traídos!
Novamente o burburinho. Aquilo de repente me pareceu um tanto perigoso.
_ Então, os criados continuam traindo seus criadores?... Alguém sabe o porquê?
_ Eles pensam que podem voltar a ser humanos se matarem quem os criou._ respondi atraindo todos os olhares. _ Claro que é mentira. Os mestiços matam eles logo em seguida. A intenção é matar todos os vampiros, até não restar mais do que uma mera lembrança e virarmos apenas lenda! Como se nunca tivéssemos existido!
Félix tinha um olhar muito frio e um rosto impassível. Não deixava transparecer qualquer emoção. Porém, sua aura escureceu ainda mais.
_ Então, esses malditos mestiços, juntamente com os traidores, tencionam nos erradicar?... Quero que passem para mim uma lista com o nome de todos os vampiros transformados por vocês... E também de quantos filhos mestiços, tiverem.
Um vampiro alemão ergueu a voz para perguntar...
_ Qual o motivo de se colocar em uma lista?
O olhar de Félix ficou ainda mais frio.
_ Nós vamos erradicar os vampiros criados e todos os mestiços. Somente os originais ficarão para manter a linhagem dos vampiros! A partir de agora, somente os vampiros de sangue puro permanecerão!
Meu sangue congelou nas veias! Fiquei tão chocado que nem consegui pensar. Apenas me levantei da cadeira e gritei irado...
_ Nunca! Ninguém vai encostar um dedo sequer em um filho meu!


Is it love? Viktor - Imerso em sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora