Maldição ou dom?

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[ Kassandra ]

  Meus pais voltaram e eu fiquei mais tranquila. Saber que meus parentes estavam bem, era um alívio. No entanto, quando chegaram na empresa eu fiquei com medo da reação deles, com relação ao lobisomem. Eu precisava conversar com calma. Ou não falar nada. 
   _ Por que parece tão tensa?
   _ Nada maninho. Tenho uma coisa importante para dizer a você e o papai.
   Infelizmente não tive tempo para isso. Logo meu pai entrou na sala do meu irmão, com uma expressão séria no rosto.
   _ É só eu que estou ouvindo esse batimento cardíaco diferente? 
   Meu irmão prestou atenção e logo seus olhos se abriram mais em surpresa.
   _ Lobisomem.
   Os dois já íam saindo da sala. Eu entrei na frente da porta e estendi os braços para impedí-los.
   _ Por favor, me deixe explicar!
   _ Explicar o quê? tem um inimigo em nossa empresa. Precisamos dar um jeito nele.
   _ Não, pai. É um novo funcionário. Foi contratado enquanto estávamos fora. Eu já conversei com ele. É só um lobo solitário. Sem uma matilha. Tentando achar um lugar no mundo. 
   A expressão do meu pai foi da surpresa à fúria.
   _ Quantas vezes temos que lhe dizer que não se faz amizade com lobisomens e bruxos? Não interessa se os humanos do RH contrataram um inimigo. Ache uma desculpa para dispensá-lo. Ou eu mesmo vou dar um jeito nele e será definitivo.
    _ Você é muito intolerante, papai. Nem todos são iguais. Nós somos uma excessão entre os vampiros originais, porquê eles não podem ser também?
    _ É por isso que o Viktor não tem interesse em você. Nada que a gente fala você escuta. Nós já estivemos em mais guerras do que você imagina. Nem uma vez, vimos alianças serem formadas sem beneficiar os dois lados. Sempre tem um interesse maior por trás, que faria com que arriscássemos tudo, confiando em um grupo inimigo. O que ele ganha trabalhando para nós? O que ganhamos tendo ele aqui?
   _ Nem todos são movidos por interesses. Vamos dar um voto de confiança a ele. Se não aprontar com a gente, eu mesma vou dar um jeito nele.
   Meu irmão que ficou calado ouvindo nossa discussão, encostou no ombro de meu pai.
   _ Mantenha seus amigos perto e seus inimigos mais perto ainda. Se ele está aqui para aprontar alguma, nós vamos descobrir. E saberemos o que ele está escondendo.
   Meu pai olhou para o meu irmão e balançou a cabeça.
   _ Está bem. Você tem razão. Vamos ficar de olho nesse lobo.
    Não era bem pelos mesmos motivos, mas acabamos concordando. Eu respirei fundo. 
    _ Viktor me acha fraca. Vocês acham que sou uma menina mimada que não sabe nada da vida. Quando é que vão me enxergar do jeito que eu realmente sou?
    _ Quando você mostrar um lado seu que nos faça acreditar que você é diferente do que imaginamos. O seu baile foi um fracasso. O de seus irmãos foi um sucesso. Acha mesmo que o problema está em nós?
    _ Mas, pai. Eles não me querem porquê sou uma viúva negra.
    _ Já passou da hora de você controlar esse seu dom da morte. Aproveite a aliança com Viktor. Ele deve saber de alguma coisa. 
    _ De jeito nenhum vou falar disso com ele.
    _ Por que não irmã? Você nem mesmo quer se casar com ele. Tanto faz então.
    Meu rosto ficou corado. 
   _ Vou resolver isso do meu jeito. Com licença.
   Voltei para a minha sala ainda muito irritada. Dom da morte?... Será que era isso mesmo? Por que Viktor saberia disso? Eu precisava descobrir por mim mesma.
    Chamei o novato na minha sala. Precisava informá-lo sobre o que decidimos.
     _ Com licença chefe.
     _ Entre.
     Ele veio caminhando com charme. Sentou-se na cadeira em frente à minha mesa e sorriu.
    _ Meu pai e meu irmão concordaram em lhe manter no emprego. Porém, se você aprontar é comigo que vai se entender.
    Ele ergueu a sobrancelha com um sorriso irônico.
    _ Tudo bem morceguinha. Mas, que tal sair com o lobo mal para acabar com essa insegurança?
    _ Eu sou sua chefe. Não ultrapasse o limite. 
    Ele riu, piscando para mim.
   _  Eu não vou desperdiçar essa chance. Só quero um trabalho. E um lugar nesse mundo complicado.
   _ Bom mesmo.
   Enquanto ele se dirigia até a saída eu acabei perguntando sem pensar direito no que fazia...
   _ Já ouviu falar de algum dom ligado à morte?
   Ele parou e me encarou confuso.
   _ Muitos dons são ligados à morte. De qual exatamente está falando?
   Desviei o rosto, sentindo ele esquentar.
   _ Algo provocado pelo toque.
   _ Hum... Já ouvi falar sim. Com as bruxas... Elas podem amaldiçoar ao tocar nas pessoas. Provocando uma morte lenta e dolorosa. São bem cruéis... Por quê?
    _ Só por curiosidade. Obrigada, já pode se retirar.
    Ele ergueu a sobrancelha, confuso e se retirou sem dizer mais nada. 
    Amaldiçoada por uma bruxa?... Seria possível que alguma tivesse lançado uma maldição enquanto minha mãe estava me esperando em sua barriga?... Ou será que foi quando eu era bebê? Isso era possível?... Eu sempre estava buscando respostas em maldições. Por que acreditar que matar alguém era um dom, me parecia um tanto quanto errado. Suspirei me recriminando mentalmente. Como se eu realmente tivesse problemas em matar alguém. Era da minha natureza. E eu nunca lutei contra ela. Considerando que pudesse ser um dom... Então, eu deveria descobrir como controlar. Assim, eu teria uma chance de escolher quem eu quisesse para ser meu marido. Inclusive Viktor! Seria divertido ultrapassar as barreiras daquele vampirão orgulhoso e maldosamente atraente!
    Quando o expediente acabou eu não fui direto para casa. Segui o conselho de meu pai e fui perguntar sobre isso para Viktor. Não de maneira direta é claro! Dirigi até seu prédio e fui tocar sua campainha. Não podia ficar invadindo seu apartamento, como se não houvesse problema. Vai que ele estivesse acompanhado?
     Quando ele abriu a porta, eu quase dei meia volta. Ele estava vestindo apenas uma calça de moletom, cinza. Descalço. Os cabelos molhados, ele estava secando com a toalha. E eu não conseguia parar de encarar seu toráx bem definido. Até mesmo esqueci o que fui fazer alí. Que vampiro maravilhoso. Quem conseguiria se manter indiferente diante de uma aura tão poderosamente sexy, sombria e potente?
     _ Eu sei o quanto sou magnífico, mas acho que não veio aqui para ficar me secando desse jeito.
     Meu rosto com certeza ficou mais vermelho que um tomate. Eu o sentia quente de vergonha. Ergui a cabeça, tentando manter a pose. Limpei a garganta para não gaguejar...
    _ Eu tenho uma dúvida que o meu pai orientou que eu esclarecesse com você. Na verdade eu nem queria falar com você. Mas, depois da outra opinião que eu ouvi... Bem, você parece entender muito de bruxas. E se o meu pai não sabe a resposta e disse que você talvez saiba, porquê não perguntar?
    Ele ergueu a sobrancelha.
    _ Não é só uma desculpa para me ver?
    Eu dei uma risada irônica.
    _ Ah, claro. Eu ía inventar um problema só para olhar esse deus grego sim, até parece. 
    _ deus grego?... 
    Eu deviei o rosto. Estava ficando complicado esconder como fiquei afetada por ele.
   _ Pode por favor se vestir e me deixar entrar?
   Ele riu enquanto me dava passagem. Fechou a porta e foi até a cozinha pegar uma jarra e taças. 
    _ Beba um pouco e se acalme enquanto coloco uma camisa.
    Assim que ele se foi, eu realmente enchi a taça. Que sede que sentia. Reparei que em seu apartamento havia prateleiras com bebidas alcoólicas. O que indicava que ele costumava receber humanos alí. Garotas?... Aff, isso não era da minha conta. Eu não fui alí para ficar babando em seu corpo escultural.
    Ele voltou com uma blusa de moletom cinza. Completando o conjunto. Sentou - se no sofá em frente e encheu uma taça com sangue. 
    _ Então, me diga... O que a traz aqui?
    Respirei fundo, buscando um jeito de falar sem entrar em detalhes.
    _ Existe alguma maldição que uma bruxa possa lançar em alguém, para que não consiga se relacionar com ninguém?
    Ele franziu a sobrancelha, pensativo.
    _ Existem muitas maldições para impedir duas pessoas de ficarem juntas. Pode ser um pouco mais específica?...
    Eu bebi um pouco mais do sangue...
    _ Do tipo... Matar alguém com um toque...
    Ele ergueu a sobrancelha.
   _ Como a mutante apelidada de vampira? Você assiste esse tipo de coisa?
   _ Nem lembrei disso...
   _ Existem muitos dons que provocam a morte só com o toque. 
   _ Mas, tem como controlar?
   Ele ergueu a sobrancelha e ficou me encarando. 
   _ O que realmente está acontecendo?
   Eu o encarei bem nos olhos e disse...
   _ Você não me conta tudo. Por que tenho que dizer a você?
   _ Por que eu não pedi sua ajuda com meus assuntos. Se quiser que eu te esclareça alguma coisa é melhor me contar o que está acontecendo.
   Ele realmente sempre ganhava as discussões. Inferno!
   _ Não está acontecendo nada. Eu só... Não é nada. Acho que você também não sabe. Perda de tempo eu vir até aqui.
   _ Já que veio vamos conversar... Você realmente se casaria comigo se eu tivesse ido naquele baile por sua causa?
   Fiquei tão surpresa que me engasguei com o sangue que estava bebendo. 
   _ Isso importa?
   _ Estou curioso.
   _ Sim, eu concordei com meus pais em realizar aquele baile. O número de originais está diminuindo. Precisamos fazer mais originais nascerem. 
    _ Então, casaria com qualquer original que fizesse a proposta?
    _ Não. Meus pais me permitiram escolher quem eu achasse melhor. 
    _ Logicamente eu.
    _ Sua modéstia me comove!... Por que tanto interesse?
    Ele veio até mim, sentando - se ao meu lado. Isso me surpreendeu e me deixou desconfortável.
    _ Se você tem algum dom e não consegue controlá-lo porquê não pede que seus pais lhe ensine? Eles foram ótimos professores para mim.
   _ Eles não fazem ideia do que isso seja. Nunca viram antes. Mesmo sendo milenares.
   _ E acham que eu sei do que se trata?... Estão me super-estimando. Existem muitos dons que nunca vi. Eu absorvi os poderes das bruxas na última guerra. Se for uma maldição, eu saberei. Me dê suas mãos.
    Estendi as mãos para ele sem hesitar. Entendi porquê meus pais me enviaram até ele. Não pensei que ele teria os dons das bruxas. 
     Ele segurou minhas mãos e vi que seus olhos brilharam. Não senti medo. Éramos aliados. E meus pais tinham uma ligação muito forte com ele. Senti sua energia invadindo minha mente. Não ofereci resistência. só queria resolver o problema. Quando sua energia recuou e seus olhos voltaram ao normal, ele soltou minhas mãos.
     _ Não existe nenhum tipo de maldição em você!... Mas, há uma energia que está bloqueada. Se quiser, posso retribuir o que seus pais fizeram por mim e treinar você. Para que domine totalmente seus dons. Eles realmente te protegeram de mais. Impedindo que participasse das lutas. É por isso que não se desenvolveu totalmente. 
     _ Você não se importa de me ajudar?
     _ Meus netos também precisam de treinamento. Podemos reuni-los e fazer isso juntos. Aposto que meus filhos agradecerão por terem um tempo à sós.
     Treinar com as crianças... Era bem humilhante.  Seria dessa forma que ele me enxergava? Uma criança mimada e mal treinada?
     _ Aguarde aqui. Vou buscar meus netos. Já falei com eles para chamá-la só de Kassy. 
     Ouvi-lo dizendo meu apelido me fez arrepiar. Na sua voz grossa ficava tão charmoso. 
    _ Vou esperar aqui. Vamos ver se você é tão bom quanto pensa que é!
    Ele deu um sorriso maldoso.
    _ Você ainda não conhece nada sobre mim. Eu sou muito mais do que você é capaz de compreender!
   Era tão arrogante e orgulhoso. Mas, meu coração disparou na hora. Até que eu gostaria de descobrir quem era afinal o poderoso Viktor Bartholy!



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