Um passo inevitável

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 [ Viktor ]

    Era divertido perceber o quanto ela ficava abalada em minha presença. Tentando parecer segura e indiferente. O que eu com certeza sabia fazer bem melhor. Ela não parecia perceber o quanto eu fiquei abalado ao vê-la nua da outra vez. Confesso que eu quis muito, fazer essa aliança entre nós alcançar outros termos... Mas, me segurei. Agora ficaríamos mais próximos. Treinando ela, eu poderia avaliar melhor até onde ía sua força e seus dons. Poderia confirmar que ela não servia para mim, ou então, mudar de ideia.
    _ Viktor? Veio falar sobre as crianças de novo?
    _ Vim lhes dar um tempo de privacidade. Vou treinar as crianças.
    Nicolae olhou para a Lívia. Nem precisei ler a mente dele.
    _ Só chama as crianças. Eles vão dormir lá em casa. Aproveitem.
    Nicolae deu um sorriso e foi até as crianças.
     _ Vovô veio buscar vocês. Vão passar um tempo com ele.
     Lívia ergueu a sobrancelha. Nicolae abraçou ela sorrindo. As crianças vieram até mim. Peguei os dois no colo.
    _ Não se preocupem estão em boas mãos.
    _ Sabemos disso. _ Nicolae segurou a mão de Lívia e deu tchau aos filhos.
    Eu fechei a porta e fui com meus netinhos até o apartamento.
    _ Chamem ela de Kassy. Nada de vovó.
    Coloquei eles no chão e abri a porta do apartamento. Kassandra se levantou do sofá.
    Eles foram correndo até ela.
    _ Oi.
    _ Oi crianças.
    _ Por que não posso te chamar de vovó? _ Cristina quis saber.
    Ela olhou para mim, brava.
    _ Meus anjinhos, eu não sou sua avó. Ainda não tive filhos. E não estou com Viktor. Não somos como seus pais. Não somos um casal.
    Eles olharam um para o outro. E voltaram ao meu lado.
    _ Vamos treinar os dons. A Kassy também precisa treinar.
    _ Não vai mais ser um casal?
    Eu me abaixei para tentar explicar à Cristina.
    _ Nós nunca fomos um casal.
    Ela me abraçou chorando. Eu olhei para Tomás. Ele balançou a cabeça negativamente e cruzou os braços. Igual o pai costumava fazer.
    _ Por que querem tanto que eu seja sua avó?
    Tomás encarou Kassandra. Levou um tempo para responder. Me perguntei se estava lendo a mente dela.
    _ Você faz parte do clã. Suas escolhas também mudam o destino.
    _ O que você entende como destino?_ ela questionou.
    _ O que precisa acontecer. Vai acontecer.
    Ela sorriu.
    _ Nada está definido. Somos nós que fazemos o futuro acontecer. Como agora, treinando nossos dons. Eu não vou ficar com o avô de vocês só por ser uma original como ele.
    Tomás então, com um olhar triste, segurou a mão da irmã. Os dois pareceram ter uma conversa telepática. Não quis invadir a mente deles.
    _ Vamos treinar. _ Tomás disse.
    Os dois foram na direção do escritório. E diante de meus olhos, atravessaram a parede.
     Kassandra ofegou.
    _ Como?
    _ dons da mente. _ eu afirmei simplesmente. Mas, também estava impressionado. _ Vamos!
    As crianças conseguiam trabalhar bem em conjunto. Eu percebi que Kassandra estava impressionada e preocupada. Com medo deles se machucarem. Olhou para mim brava e disse...
    _ São só crianças...
    Revirei os olhos.
    _ Se continuar subestimando, é você que vai se machucar.
    Eu fiz minha aura envolver todos.
    _ Quero ver o controle que vocês tem sobre seus dons...
    Já conhecia o limite das crianças. Era mais para Kassandra.
    _ Vamos expandir até onde der, a energia.
    O alcance era bom. Mas, ainda havia uma barreira nos dons de Kassandra. Precisava pressiona-la.
    _ Ataquem a Kassy.
    Ela olhou surpresa e incrédula.
    _ Não os trouxe aqui à toa.
    Os dois nem se moveram. Kassandra se preparou para usar o escudo e repelir o ataque. Porém, eles continuaram parados. Ela caiu de joelhos, cobrindo os ouvidos com as mãos.
    _ Para. _ ela gritou.
    Os gêmeos ainda estavam parados, olhando para ela. Eu resolvi usar meu dom de ler pensamentos para ver o que acontecia na mente dela.
     O local parecia um galpão. Algumas caixas empilhadas. Uma mesa e algumas cadeiras em um canto. Kassandra estava acorrentada nos pulsos e tornozelos. Seu corpo tremia com os ataques elétricos que lhe infligiam. Um dom de ilusão. Aquela alucinação parecia tão real, que até eu quis ir liberta-la da corrente.
    _ Vamos Kassandra. Se defenda.
    _ São crianças. Não posso...
    Ela parou de falar quando outra pessoa entrou em cena. Carregando um chicote comprido. A primeira coisa que pensei foi... Quem é? E então, vi a camisa vermelha que ele usava. Eles não estavam só atacando-a psicologicamente com uma ilusão. Estavam mostrando o que tinham visto sobre o futuro dela. O porquê de tantos alertas. Kassandra não conseguia erguer a cabeça para Olhar o rapaz. " Diga algo relevante. Você deve saber qual é o melhor jeito de acabar com ele ".
     Fui expulso da mente dela. Vi que as crianças estavam no mesmo lugar. Ainda olhando seriamente para ela. Kassandra estava respirando ofegante. Com uma expressão confusa.
     _ Vocês sabem tornar as ilusões reais. Eu quase acreditei.
     Os gêmeos se olharam e deram um sorriso maldoso.
     _ Não estou gostando disso. _ Kassandra disse. _ Me lembra filmes de terror. Sejam crianças boazinhas.
     Os dois agiram rapidamente. Objetos voaram na direção dela. Que precisou ser rápida ao formar um escudo. Começou um cabo de guerra. Eles tentando fazer os objetos atravessarem seu escudo.
    _ Vamos Kassandra. É um ótimo exercício para controlar sua energia.
    Enquanto eles forçavam, reparei que ela não tinha controle sobre uma pequena parte de sua energia. A parte bloqueada. Ataquei naquele ponto e seu escudo se desfez. Ela foi atingida pelos vasos de porcelana e caiu no chão.
    _ Ei, você não pode interferir.
    _ Estou aqui para te ajudar. Localizei a parte da sua energia que você deixa desprotegida. Como se estivesse rejeitando.
    Ela ficou corada. Abaixou a cabeça.
    _ Existe uma parte sua que precisa aceitar, ou será facilmente usada contra você.
    _ Não tem nada disso.
    _ Ainda não vai falar do que se trata? Como quer minha ajuda se não me diz o que está acontecendo?
    _ Eu mato pessoas sem fazer nada. Duvido que tenha ouvido falar sobre isso.
    Algumas peças começaram a se encaixar. O pesadelo dela que eu vi. O apelido de viúva negra.
    _ Você consegue matar com um toque?
    Ela desviou os olhos. Totalmente desconfortável.
    _ Eu não morri com seu abraço.
    _ Não é assim que funciona.
    _ Como é então? É através de um beijo? Por isso ganhou fama de viúva negra?
    Antes que ela respondesse, as crianças deram risadas.
    _ o beijo da vovó não mata.
    _ Será que não?...
    Ela foi para o lado das crianças. Aproveitando a interferência, para poder mudar o foco. 
    Elas riram e correram. Kassandra foi atrás delas, tentando dar um abraço nos pequenos. Quando conseguiu abraçar os dois, deu um beijo na cabeça deles. Seu sorriso desapareceu ao me ver encarando a cena.
    _ Acho que é o suficiente. Vou voltar para casa.
    _ Fica, vovó Kassy. _ disse Cristina.
    _ Canta até a gente dormir. _ pediu Tomás.
    Ela olhou para mim.
    _ A vovó vai colocar vocês na cama._ brinquei.
    Ela ficou corada e sem reação.
    As crianças seguraram as mãos dela.
    Com um suspiro resignado ela disse...
    _ Acho que não tem jeito. Já virei avó sem parir.
    Ela foi sorrindo com as crianças na direção do quarto de hóspedes.
     Fui atrás para observar a cena. As crianças deitaram na cama. Ela as cobriu e sentou ao lado deles. Com uma voz suave, ela cantou canções de ninar antigas. Me fazendo voltar no meu tempo de criança. Quando eu tinha minha mãe.
    Quando as crianças dormiram, ela veio até a sala comigo. Meu coração ficou tocado pelo jeito carinhoso dela com as crianças. Que ela protegeu no baile, sem nem conhecer.
    _ Você gosta mesmo de crianças.
    _ sim. Eu quero muitos filhos.
    _ fiz minha parte e pedi para não te chamarem de vovó. Porém, você mesmo acaba incentivando.
    _ Eu sei. Está tudo bem. Não vou mais me incomodar com isso.
    Eu sentei no sofá e dei um tapinha ao meu lado. Ela veio.
    Um silêncio reflexivo nos inundou. Eu quebrei o gelo ao perguntar...
    _ Você realmente não mata com um beijo?
    Ela olhou para mim. Percebi a mudança na atmosfera. Sua aura me envolveu. Talvez inconscientemente. Ela abriu a boca, mas, então a fechou. Como se mudasse de ideia sobre o que iria falar.
    _ Não. Acho que não.
    _ Acha?... Você já deve ter beijado. Morreu ou não?
    _ Sim, mas... Não sei se foi pelo beijo.
    Eu podia ler sua mente. Mas, tinha um jeito mais interessante de esclarecer as coisas.
    _ Vamos testar.

******

[ Kassandra ]

     Ele só podia estar brincando. Como podia sugerir isso mesmo com o risco? Todos os rapazes que eu beijei morreram. Porém, todos estiveram comigo na cama. E todos eram humanos. Ao notar que o primeiro morreu, tive medo de me relacionar com vampiros. Meus pais concordaram, mas, sempre deixaram claro que só aceitariam meu casamento com um vampiro original.
    Ele se aproximou e eu recuei, virando o rosto.
    _ Não brinque com coisa séria. Eu vou voltar para casa. Já está tarde.
    Ele ficou me encarando, enquanto eu me levantava. Sua expressão era sombria.
    _ Acho que entendi porquê seu pai disse que eu poderia ajudar. Eu já vi algo parecido antes... Talvez ele queira uma confirmação.
     O tom que ele usou me fez arrepiar. E eu quase não quis saber o que ele ia dizer.
     _ Existem boatos não confirmados, sobre demônios que matam com um beijo ou... Sexo.
     Senti meu sangue gelar nas veias.
    _ Se você não fosse vampira de sangue puro, eu ia acreditar que é um demônio conhecido como Sucubus. Sugando a força vital através de sexo ou beijo. Visitando as vítimas através de sonhos.
    Eu respirei fundo. Sentindo todas as minhas células rejeitarem aquele absurdo. Um demônio?... Não mesmo. Eu era uma vampira, não um monstro! Era ridículo que isso sequer tivesse passado pela cabeça dele. Eu estava com raiva porquê eu realmente conseguia sugar a força vital e matava pelo sexo. Mas, era só um dom por ser vampira.
    _ Eu não sou um demônio. Sou uma vampira. E tenho um dom ligado à morte.
    E em um impulso, eu fui até ele. Segurei seu rosto entre minhas mãos e o beijei. Com fúria, desejo e descontrole. Ele não me afastou. Correspondeu na mesma intensidade. Senti meu corpo vibrar. Nem sei como foi que acabamos daquele jeito. Com ele deitado sobre mim no sofá. Acabei gemendo quando ele mordeu meu pescoço. De novo senti aquele êxtase por ele beber meu sangue. Era muito melhor estar com um vampiro do que com um humano. Eu beijei o pescoço dele e o mordi também.
     Não teve contato além disso. Porém, foi melhor do que tudo que eu vivi antes. Ele era a melhor opção entre os originais.
     _ Bem... Acho que você vai conseguir controlar o seu dom.
     _ Também acho!... Obrigada. Se não tivesse pressionado, seria difícil eu aceitar. As vezes mostrar um cenário pior, faz com que seja mais fácil digerirmos a situação.
    Ele sorriu.
    _ Tive minha recompensa.
    Fiquei vermelha e ajeitei meu cabelo.
     _ Desculpe.
     _ Pelo quê?... Foi só uns beijos e compartilhar sangue. Nada de mais.
     Era estranho para mim. Diferente. Novo. Ele era o primeiro que eu beijei sem ter ido além. E que continuaria vivo. Como eu ia encarar ele?
     _ Só... Está tudo bem. Obrigada pela ajuda. Meu pai tinha razão!... Nos vemos depois.
    _ Se precisar, estou aqui. É para isso que servem os aliados.
    Aquela frieza dele diante do que aconteceu, me deixou um pouco mal. Eu saí de seu apartamento sem olhar para trás. Escutei a porta se fechar.
     Somente quando cheguei no carro, pude parar de fingir que não estava abalada. Coloquei as mãos no volante e apoiei a testa. Respirando fundo. Tentando acalmar meu coração.
    Sabe aqueles momentos na vida em que você sente que aquilo que aconteceu, vai mudar sua vida para sempre? Pois é. Uma escolha. Um passo na direção dele. E eu sabia, que nunca mais seria a mesma. Alguma coisa dentro de mim se modificou. E eu não sabia até onde isso me levaria. Mas, era impossível voltar atrás. Eu beijei Viktor! E foi bom. Foi uma delícia, que eu queria muito repetir. Quem sabe, fosse uma boa ideia ser avó daquelas crianças. Quem sabe...
    
   
   
   

   
   
   
  
   
   
   
   

   

Is it love? Viktor - Imerso em sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora