Meus filhos

370 41 3
                                    

[ Kassandra ]

   Cheguei na empresa o mais rápido que pude. Mia estava andando de um lado ao outro. E isso indicava um problema sério. Afinal, ela sempre foi muito séria, fria e controlada.
   _ O que aconteceu?
   _ Ele me ligou e pediu que eu viesse a empresa. Para revisar toda a agenda. E quando eu cheguei... Ele não está normal.
   _ Já avisou seus irmãos?
   _ Achei melhor deixar você, que é uma original, cuidar disso.
   Eu não entendi o comentário, mas, entrei em seu escritório para ver com meus próprios olhos como ele estava.
   _ Viktor. Aonde estava? Ficamos preocupados.
   Ele lentamente se virou para o meu lado. A capa lhe conferindo um charme especial. Seus olhos estavam mais frios do que nunca. Seu rosto parecia mármore. Ele me encarou por um tempo longo de mais. Me olhou de alto à baixo.
   _ Você fede à lobisomem!
   Ops! Saí tão apressada atrás dele que nem pensei nisso.
   _ Eu...
   _ Seus pais sabem que anda acasalando com inimigos?
   _ O que importa agora é onde você estava. Você não avisou nem seus filhos.
    _ Filhos?... Eu não tenho filhos. Ainda não me casei. E não lhe devo satisfações sobre o que faço ou deixo de fazer. O que você veio fazer em meu escritório?
   _ O que há de errado com você?
   Ele continuou impassível.
   _ É você que está invadindo meu escritório sem ser convidada. O que você faz aqui?
   _ Eu estava preocupada. Você sumiu por três dias. Aonde estava?
   Ele torceu o nariz e se afastou.
   _ Não recebo em meu escritório vadias que se deitam com inimigos. Se retire. E não volte mais.
   _ Viktor...
   A aura fria e imponente dele, me atingiu.
   _ Eu mandei você sair.
   Ele parecia prestes a me atacar. Eu saí de seu escritório chocada.
   Mia estava sentada no sofá da recepção.
   _ O que aconteceu com ele?_ perguntei.
   _ Não faço ideia. Ele diz que não é da minha conta. Está agindo de um jeito estranho. Como se não me reconhecesse direito. _ Ela respondeu.
   _ É melhor avisar os outros. _ eu disse. _ Se eu não estivesse tão preocupada com ele, teria perdido a paciência. Ele foi muito grosseiro.
   _ Comigo também. Ele não é assim! Vou avisar o pessoal.
   _ Eu vou falar com meus pais. _ eu disse. _ Talvez ele os escute.
   Saí dalí apressada mais uma vez. Eu não queria que meus pais sentissem o cheiro de lobisomem em mim. Estacionei na garagem e teleportei para o meu quarto. Fui tomar um banho.
   Eu não estava entendendo o que aconteceu com Viktor nesses três dias que ele passou sumido. Para voltar daquele jeito estranho. A maneira como falou comigo me deixou tão desconcertada, que não tive reação. Ele me ofendeu! E isso me magoou. Agora que o susto de vê-lo daquele jeito estava passando, a raiva tomava o lugar. Ele não podia me tratar assim!
   Após me arrumar, fui conversar com meus pais.
   _ Aconteceu alguma coisa?
   _ Sim mãe. Viktor voltou. E tem algo errado com ele.
   _ Como assim?
   _ Ele está estranho, pai. Chegou a dizer que não tem filhos. Isso tem lógica? Alguma coisa aconteceu enquanto ele estava fora. Também me tratou muito mal.
   _ Aonde ele está?
   _ Na empresa!
   _ Vamos até lá. _ disse minha mãe.
   Os dois se dirigiram até a porta.
   _ Você não vem?
   _ Ele me expulsou de lá. E não quero que ele me trate mal de novo.
   _ Você está com a gente, venha!
   Eu suspirei e fui junto. No fundo queria ver como reagiria aos filhos.
   "Vadia!"... E pensar que da outra vez ele estava todo preocupado em me ajudar com meus funcionários. Apagou a mente da secretária e colocou todos para dormir. Me protegeu de um escândalo na empresa, que se chegasse aos ouvidos de meu pai seria péssimo para mim. E agora parecia não ter qualquer consideração comigo. Indiferente! Eu precisava testar em alguém. Não podia correr o risco de machucá-lo sem querer. Foi necessário! E foi a última vez!
    _ Oi, Mia. Eles vêm?
    _ Sim. Devem estar chegando.
    _ Meus pais vieram tentar conversar com ele.
    _ Ótimo! Tentem descobrir o que está acontecendo.
    Eles foram atrás de Viktor e eu aguardei com Mia, na recepção. Foi só então, que notei o quanto ela estava nervosa. A garota tremia. E estava tentando não chorar.
    _ O que ele fez para te abalar tanto?
    Ela olhou para mim e suspirou.
    _ Eu sempre fui seu braço direito! Ele sempre confiou em mim, para resolver tudo. Quando Drogo não conseguiu terminar de me transformar e quase me matou, foi Viktor que me salvou. Podia ter me deixado morrer. Eu nunca fui sua escolha. No entanto, ele cuidou de mim. E me deu um lugar à seu lado na empresa. Me tratou como os outros. Me treinou. Confiou em mim. Me deu uma oportunidade durante a guerra de Mystery Spell, para que eu pudesse conversar com Drogo e deixar o passado para trás. Quando eu me apaixonei por um humano, ele deu permissão para eu transforma-lo. Sempre foi como um pai para mim. Mais do que o verdadeiro. Mas, hoje...
   Me perguntei o que ele fez para que aquela garota segura, confiante e fria, se desesperasse tanto. Vê-la daquele jeito me abalou. Estendi os braços para ela. Sem conseguir segurar por mais tempo o choro, ela me abraçou. Enquanto soluçava, dei tapinhas em suas costas.
   _ Vai ficar tudo bem! Vamos dar um jeito nisso.
   Foi a primeira vez que senti que poderia realmente vir a ser mãe, para aquele grupo.
   Ela se recompôs, pedindo desculpas.
   _ Está tudo bem. Também estou assustada.
   Os outros transformados vieram. Tão alarmados quanto nós. Meus pais saíram da sala dele e nos encararam chocados.
   _ Eu perguntei se ele tinha alguma estratégia nova para enfrentar os mestiços, originais e os traidores. Ele disse que não tinha nada contra os originais e perguntou se eu estava bem. Que nossa guerra é contra mestiços e traidores. E que ele precisava entregar a lista para os originais. _ disse meu pai.
   Enquanto todos nos entre olhavamos chocados, ele saiu de seu escritório. Seu olhar para seus filhos foi tão cruel, que eu parecia estar olhando para Félix.
   _ Aí estão vocês! Preciso entregar uma lista aos líderes. Quantas crianças há entre vocês mesmo?
   _ O que aconteceu com você, pai?
   _ Pai?... Como ousa ser tão desrespeitoso com um original sangue puro e nobre como eu, seu verme?
   Nicolae parecia ter sido atingido em cheio no peito! A dor em seus olhos era difícil de aguentar.
   _ É só uma questão de tempo até me traírem. Transformados devem ser eliminados. Só vampiros puro sangue ficarão!
   _ Isso foi o que Félix disse. Você lutou por nós. O que fizeram com você?
   _ Lutar por vocês? É sua obrigação morrerem por mim! São os meus peões.
   _ Não adianta, Lí. Ele sofreu lavagem cerebral. Esteve com os originais esse tempo todo. Precisamos sair dos apartamentos. Tirar as crianças de lá. Até achar uma maneira de reverter isso!
   _ Tem jeito, Nico?
   _ Vamos encontrar.
   Viktor riu de um jeito sombrio.
   _ Tarde de mais. Eles sabem onde eu moro.
   Meu sangue gelou nas veias. Não podia estar acontecendo aquilo. Jogaram Viktor contra nós.
   _ Eu vou dar um jeito em vocês agora mesmo.
   Ele expandiu sua aura e eu entrei na frente. Nem eu sabia direito o que estava fazendo. Só precisava fazer!
   _ Terá que passar por cima de mim, primeiro.
   _ Por que defende eles? Os transformados de seus pais não lhes traíram? Acaso ficou louca? Saia da frente.
   _ Não deixarei que encoste nenhum dedo em meus filhos!
   O silêncio no recinto mostrava o choque geral. Alguém precisava assumir o papel, na ausência dele.
   _ Que assim seja! Você primeiro.
   Foi muito rápido. Eu gritei "venham". Eles vieram e deram as mãos. Teleportei todos para a minha casa.
   _ Fiquem aqui. Vou buscar as crianças.
   Passei primeiro na casa de Lívia. Os gêmeos por serem mais velhos, podiam me ajudar. O que vi me fez arrepiar inteira. O casal de gêmeos estava no meio da sala. Na frente das outras crianças. Criando um escudo de proteção em torno de todas.
   _ Estávamos te esperando, vovó!
   Os dois sorriam inocentes.
   Eu fui para o lado deles e estendi as mãos. Todos deram as mãos e nos levei até minha casa.
   Os pais correram até os filhos. Me agradecendo. E eu entendi que Viktor estava certo em ensinar aquelas crianças à se defenderem.
   _ O que faremos agora?_ perguntou Lorie.
   _ Ou achamos quem fez isso com ele, ou tentamos trazê-lo de volta. _ disse meu pai.
   _ Mas, antes... Vamos colocar uma proteção nessa casa!_ disse minha mãe.
   Usando energia de todos, nós criamos uma proteção em torno da mansão. Pelo menos por enquanto, estava tudo bem.
   _ Devíamos ter procurado mais. Por que ele saiu sozinho? Por que não avisou do perigo?
   _ A culpa é minha, Sabrina! Nós discutimos e ele saiu nervoso. Eu não devia ter deixado ele sozinho. Se eu tivesse seguido ele, não estaríamos nessa situação.
   _ Não se culpe tanto, filha! Se ele não pediu ajuda, é porquê não achou que havia perigo ou foi pego de surpresa. _ disse minha mãe. _ temos que avisar aos outros.
    Fomos para o quintal. A madrugada estava fria, como nossa pele. Olhamos para o céu e juntos usamos nossa energia para criar o sinal combinado. Um morcego. Preto com um contorno vermelho. Para ser visível, em meio à noite densa.
   Era uma noite triste! Uma noite lamentável. Onde todos entendíamos o perigo que era ter Viktor contra nós. Os originais foram espertos. Sabiam o valioso aliado que ele era. E o tirou de nós. E sua ausência era doída. Se eu fosse uma "lobismulher", estaria uivando para a lua naquele momento!
   O choque percorreu meu corpo ao constatar porquê o pensamento me ocorreu. Era lua cheia! A primeira noite. Isso me fez questionar o motivo pelo qual, Thales quis apagar as velas. E se aquele jeito bruto e selvagem tinha sido influência da lua. Não que fosse ruim. Uma pele quente, contrastando com minha pele gelada, era muito agradável. Foi uma experiência interessante, mas, que não me fez ir nas nuvens. Esse nem era o objetivo. O lobisomem estava vivo e eu pude controlar aquela energia. Só precisava descobrir como utilizar com um toque das mãos. E se eu pudesse matar quem fez isso ao Viktor... Eu ficaria satisfeita.
   _ Kassandra... Obrigada!
   Os transformados estavam olhando para mim e eu fiquei sem graça. A gente ainda estava se conhecendo. Eu não sabia como agir diante deles.
   _ Por nada!... É o que posso fazer por meus aliados. Assumir responsabilidade sobre vocês, até que Viktor volte ao normal!
   _ Será que volta?_ perguntou Julius.
   _ Daremos um jeito. Agora vocês precisam descansar. Vão dormir nos quartos de hóspedes. Amanhã será um dia complicado.
   _ Somos aliados. Não se sintam envergonhados perto de nós. Sinta-se em casa. _ disse meu pai.
   E o olhar que ele lançou para mim, não deixava dúvidas... Ele adorou me ouvir chamá-los de filhos! Estava tão empenhado em me casar com Viktor, que nem fazia questão de disfarçar.
   _ Sim. Sinta-se em casa. Clã Bartholy.

 
  
  
   
  
 
  
   

Is it love? Viktor - Imerso em sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora