União

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[ Kassandra ]

   Aquele momento mãe e filha foi interrompido pelo som da campainha. 
   _ Está esperando alguém?
   _ Não. _ respondi.
   Fui abrir a porta e me surpreendi ao ver os filhos de Viktor.
   _ Não temos tempo. Precisamos salvar o Viktor.
   Convidei-os para entrar. Minha mãe olhou para eles, surpresa.
    _ O que está acontecendo?
    Todos pareciam muito tensos.
    _ Viktor está com problemas na reunião. Você consegue se teletransportar para lá?
    Eu já conseguia reconhecer alguns. Aquele era Nicolae. O pai dos gêmeos.
    _ Eu posso. Todos deem as mãos.
    _ Pode cuidar das crianças por nós?_ perguntou Lívia.
    _ Claro! Ajudem meu marido também. _ minha mãe disse.
    Concentrei minha mente em Viktor.  Nos momentos que passamos juntos. E logo senti a atmosfera diferente. Uma corrente foi lançada na direção de meu pai. Eu corri para interceptar. Segurei a corrente com força, olhando com raiva para o original que a lançou. Como se já estivessem acostumados, os transformados rodearam os aliados. Principalmente Viktor. O olhar dele foi da surpresa ao medo e depois orgulho.
    _ Não ouse atacar meu pai! Não terei misericórdia, seja lá quem for.
    _ Quem é você para ousar enfrentar nosso pai?_ indagou Nicolae. Com uma espada apontada para Félix.
    _ Mas, quem vocês pensam que são para invadirem essa reunião?
     _ Nós somos os filhos de Viktor. O clã Bartholy.
     Naquele momento, qualquer dúvida sobre lealdade caiu por terra. Invadir uma reunião de original e desafiar o líder daquele jeito, era impressionante. Estavam mesmo dispostos a dar a vida por Viktor. O que não entendiam é que ele faria o mesmo. Bastava ver o medo em seus olhos, pelos filhos. Assim como o ódio com que encarava Félix. A união entre eles era tão forte, que realmente pareciam família. Eles ocuparam o lugar dos pais de Viktor. Assassinados de maneira cruel. E ele não queria ver a cena se repetir. Eu também não queria ver meus pais naquela situação de novo. E eu sabia que podia contar com eles.
     _ Eu avisei que eles são diferentes.
     Viktor se aproximou de Nicolae.
     _ Esse é o Félix. Líder do clã mais antigo de vampiros. Ele ordenou matarmos os transformados. Me recusei e ele quis me eliminar também.
    _ Porquê querem nos matar?_ Nicolae perguntou.
    _ Traição!... Eu disse que vocês são leais e eles não acreditaram. Não há melhor maneira de mostrar que estão errados, do que vocês mesmos mostrando à eles.
    Viktor expandiu sua aura.
    _ E então... Vão mesmo tentar nos liquidar?
    Félix atacou Viktor. Nicolae entrou na frente, enfiando a espada nele. Félix fez o ar se bloquear nos pulmões dele, mas, Viktor acertou Félix e colocou um escudo na frente do filho.
    Meu pai se levantou. Os aliados de Viktor se reuniram de um lado do salão.
    _ Vão mesmo criar um caos entre nós, por causa disso? Nossos inimigos são outros.
    _ Não vou arriscar de ser morto pelos seus transformados.
    _ Tente machucar o papai para você ver o que te acontece.
    A mesa foi virada. Cadeiras voaram. O espaço foi aberto para o combate.
    Minha falta de experiência, era compensada pelo meu pai. No entanto, eles eram muitos.
    _ Eles deveriam ser aliados.
    _ Existe muita coisa em jogo aqui, filha. Viktor é um vampiro que se impõe. Que não se dobra. E é muito influente. Se todos resolverem segui-lo, os antigos perderão o posto de líderes. Se puderem neutralizar sua influência, farão. 
    Acostumados a combater juntos. Os transformados uniram forças, para atacar ao mesmo tempo. A explosão das energias no salão, fez todos serem lançados no ar. Eu caí longe do meu pai. Observando a cena daquele ângulo, dava para ver os originais estudando a força dos criados, antes de contra-atacarem. E sendo realista. Eram muitos originais.
    Me concentrei em meus dons e destruí uma parede do salão, para chamar a atenção deles. Corri para o lado dos criados.
    _ Vamos!_ gritei.
    Todos se aproximaram e deram as mãos. Os originais pensaram que estávamos preparando um golpe, então, só observaram. Eu me concentrei em nos tirar dalí. Usar o poder em tanta gente, me deixou exausta.
    _ Filha...
    Minha mãe veio correndo me segurar.
    _ Querido o que houve?
    Meu pai olhava os criados, com curiosidade.
    _ Parece que brigas por território e influência não são coisa do passado. Mas, felizmente... Temos aliados confiáveis.
    Minha mãe olhou para os transformados. Eles estavam conferindo se todos voltaram bem.
    As crianças vieram abraçar os pais. Os aliados de Viktor ficaram encarando.
    _ Eles têm filhos?... E mesmo assim foram te proteger?
    Viktor pegou o pequeno Tomás no colo.
    _ Sim. Meus filhos estão me protegendo. Mesmo tendo muito à perder.
    _ Tudo que temos foi graças à você!_ disse Lívia. _ E você dá tanto valor quanto nós. Mas, nunca mais se coloque em risco desse jeito, sem ninguém por perto.
    Isso me fazia lembrar de algo.
    _ Como souberam que ele precisava de ajuda?
    Um silêncio desconfortável reinou no ambiente.
    _ Aquela Mia. Eu disse para não falar nada.
    Apesar dessa justificativa de Viktor, fiquei com a impressão de que não era bem isso. Havia um segredo entre eles. Algo que pessoas fora da família, como eu, não podiam saber. Deixei passar dessa vez.
    _ Vou buscar sangue. Por favor, sinta-se em casa.
    A pequena Cristina veio atrás de mim. Era tão nova para presenciar os pais chegando machucados.
    _ Que foi? A princesinha está com sede?
    _ Não. O moço de blusa vermelha já foi ver você?
    Fiquei confusa.
    _ Acho que não. Quem é?
    _ Ele é mal. Não fique perto dele.
    Aquelas crianças falavam de um jeito tão estranho.
    _ Esse moço te machucou? Por isso está me avisando?
    _ Ele quer machucar você. Não deixa vovó.
    Ela abraçou minhas pernas. Fiquei com pena da criança.
    _ Está tudo bem. Não vou deixar.
    Ela sorriu e saiu correndo de volta aos pais.
    Entreguei o sangue a cada um. Quando chegou a vez de Viktor, pedi para ele me seguir até a cozinha. Ele franziu a sobrancelha, mas, foi.
    _ Eu gosto de crianças. Acho fofas. Mas, você precisa ensinar seus netos que não sou avó deles. Faz eu me sentir velha.
    _ É só um jeito carinhoso. Não é por maldade.
    _ Eu sei. Mas, não gosto. Podemos evitar?
    Ele me encarou sério.
    _ Claro. Vou falar com eles.
    _ Você precisa falar com a Cristina, principalmente.
    _ O que tem a Cris?
    _ Ela falou para eu ficar longe de um moço de blusa vermelha. Que ele quer me fazer mal. Acho que tem alguém fazendo mal à ela.
     Ele ergueu a sobrancelha.
     _ Eu saberia se alguém estivesse abusando da minha neta. Não se preocupe. Ela está sendo muito bem protegida. Porém... Você deveria dizer essas coisas para os pais das crianças. Porquê está dizendo à mim?
    Meu rosto esquentou.
    _ Acabamos de nos tornar aliados. Ainda não tenho intimidade com seus filhos. Aos poucos eu vou conhecer cada um deles. 
    Ele continuou me encarando sério.
    _ Espero que realmente os trate bem. Eu e eles, somos muito unidos. Fazer mal à eles é fazer mal à mim. E o contrário é válido. Ter uma aliança comigo é ter uma aliança com eles.
    _ Relaxa Viktor. Eu sei separar as coisas. Não vou culpa-los, pela traição dos criados de meus pais. Eu fui com eles te salvar. Coloquei minha vida e de meu pai, nas mãos deles. Confiei neles.
    _ Tendo seus filhos como garantia.
    _ Por quem me tomas? Acha que sou tão baixa a ponto de usar crianças para fazer chantagem?... Foram eles que bateram na minha porta, pedindo minha ajuda para ir até você. E querendo que minha mãe olhasse as crianças para eles. Aliás não sei como sabiam que você estava em perigo. Não caio nessa, de que sua secretária avisou. No máximo ela diria sobre a reunião. Não tinha como saber o que acontecia lá...
    Ele ficou tenso.
    _ Que tipo de poderes seus filhos tem?
    Ele desviou o rosto.
    _ Isso é pessoal.
    _ Nós somos aliados agora. Tenho direito de saber.
    Ele deu um passo atrás.
    _ Não ultrapasse o limite.
    Eu estava a ponto de brigar com ele, quando um de seus filhos veio até a cozinha.
    _ Não quero interromper, mas, precisamos discutir o que faremos agora.
    _ Não está interrompendo, Ralph. Já havíamos acabado de conversar.
    E como se não fosse nada, ele seguiu o rapaz de volta à sala. Mas, tudo bem. Se ele não ia dizer, eu descobriria por mim mesma.

*****

[ Viktor ]

   Apesar do conflito, meus aliados estavam dando risadas. Meu coração ainda estava acelerado. Eu tive tanto medo de perder meus filhos. Ficar sozinho de novo. Não! Nunca mais ficaria sozinho. Eu já não era mais aquele garotinho fraco e inútil. Era um homem poderoso.
    Kassandra dizia confiar em meus filhos. No entanto, eu ainda não confiava nela. Precisava ver como reagiria à bruxas e lobisomens. 
   _ Fiquei muito feliz que vocês tenham ficado ao meu lado, na reunião de conselho dos vampiros. Mas, agora somos alvos de todos. Não se pode confiar em mais ninguém. Precisamos estar atentos, para quando um de nós precisar de ajuda, ter sempre alguém à disposição. Sem contar que já somos vigiados pelos caçadores.
    _ Logo os velhos líderes nos deixarão em paz!... Eles sabem que não estamos disputando territórios e que já está diminuindo o número de originais. Não é bom para ninguém esse conflito. _ disse Augusto. 
    _ Verdade. Então, nosso foco é os caçadores. _ disse Alexandre.
    _ Todos nós podemos combinar um sinal no céu, para quando precisarmos de ajuda. _ disse Julius.
    _ Como o Batman? _ Lívia perguntou dando uma piscadela à Nicolae.
    Ele sorriu e deu um beijo nela.
    _ É um exemplo. Mas, seria um sinal usando nossas energias.
    Era uma ideia interessante. Mais fácil e rápido do que usar o celular. O problema era... Que sinal?
    _ Eu sou a favor de um morcego, como no Batman. Os humanos vão aceitar como algo de fãs. E tem muito a ver conosco. _ disse Lorie.
    Como todos acharam a ideia divertida, ficou combinado assim.
    _ E como reconhecer que não foi uma armadilha de um inimigo? _ Ralph questionou.
    _ Só precisamos tomar cuidado. Mas, a ideia é boa.
    Nós passamos um tempo no quintal, treinando. Até o dia amanhecer. Foi um momento importante. Eles precisavam se conhecer melhor. Gravar bem o rosto de cada um. Adquirir confiança.
    Quando eles partiram, as crianças ainda estavam dormindo.
    _ Nós precisamos ir.
    Augusto sorriu.
    _ Talvez, eu precise mudar o jeito como trato quem eu transformo. Eles até que são legais.
   _ São como nós. _ eu disse.
   Rebeca abraçou o marido.
   _ Que bom que temos eles. Vamos superar os caçadores.
   Também me despedi de Kassandra. Apesar de minhas dúvidas com relação à sua forma de pensar, eu tinha que admitir... Seu dom era muito útil.
    _ Até a próxima.
    _ Até.
    Hora de voltar a rotina de trabalho.
     Meus filhos foram com meus netos no colo, até seus apartamentos. Era uma ótima ideia, morar no mesmo prédio.
    Eu fui até meu quarto. Um banho quente para relaxar a tensão. E estaria pronto para o novo dia.

   
   
   
   
   
  
  

   
   

   
   
   
     
   
 

Is it love? Viktor - Imerso em sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora