Noite longa.

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[ Kassandra ]

    Não sei porquê eu fiquei tão chateada com ele por dizer isso na frente dos rapazes, quando eu mesma já tinha contado para as garotas. Acho que é por ter sentido que isso era um problema para ele, mais do que eu pensava. Acabei confirmando que sua frieza era justamente por não querer se envolver com alguém com um dom como o meu. De propósito ou sem querer, ele não queria arriscar que eu o matasse. Não sabia que eu andei treinando com as meninas. E mesmo que soubesse, ele não tinha confiança em mim. Dizer que eu era fraca era sua desculpa, para não admitir que eu ainda não era alguém em quem ele confiaria a própria vida. As barreiras que eu pensei ter ultrapassado permaneciam no mesmo lugar. Chegar perto dele era mais difícil do que eu pensava. Minha mãe já tinha avisado que seria necessário muita paciência. A verdade é que Viktor não era do tipo de ter relacionamentos só para diversão. Ele não passava mais do que uma noite com cada garota. Se eu queria ser mais que isso, teria que estar disposta a estar com ele por toda a eternidade. Ele era assim. Oito ou oitenta. Ou era uma noite só, ou era para toda a vida. Eu não estava segura de gostar dele tanto assim. Era melhor me aproximar dos transformados só por causa da guerra e deixar para pensar em romance quando tudo estivesse mais calmo. Eu quase me casei no impulso por conta da diminuição dos originais. Já que o baile foi um fracasso, eu deveria ir com calma dessa vez. De momento, eu precisava tomar um banho quente e dormir. Amanhã, seria um dia complicado na empresa.

*******

[ Viktor ]

     _ O que ela veio fazer aqui?
     As garotas estavam me olhando como mães, chateadas com um erro do filho. Lívia até balançou a cabeça.
     _ Você devia ser mais gentil com ela. É uma aliada e veio em paz.
     _ O que aconteceu para vocês passarem para o lado dela tão rápido?
      _ Não estamos do lado de ninguém. Só não precisa tratá-la desse jeito. Ela não é fraca. _ disse Lorie.
      Revirei os olhos.
     _ Eu preciso falar com os gêmeos. 
     Fui até as crianças. Abracei cada uma delas. 
     _ Vamos, filhote._ disse Peter.
     Eu esperei que os casais se despedissem e saíssem com os filhos. Quando ficou só a família de Nicolae, eu me sentei no sofá. As crianças estavam na minha frente.
    _ Vovó não é fraca.
    _ Tudo bem, Tomás. Está na hora de você me mostrar quem é o rapaz de camisa vermelha.
    O garotinho estendeu a mão e tocou minha testa. Imagens vieram a minha mente. Kassandra acorrentada. Água no chão. Ela sendo torturada com eletricidade. O rapaz apareceu. Com sua camisa vermelha. A mesma camisa. O mesmo rapaz.
    _ Obrigado. Eu vou proteger a Kassy.
    Cristina estava sorrindo dessa vez. Era bom vê-la tranquila. Era tão menina e ficava vendo aquelas imagens horríveis.
   _ Você brincou com seu irmão e seus primos hoje?
   _ Sim. A gente está protegendo eles.
   _ Não tem perigos na empresa. Só se preocupe em se divertir.
   _ Tudo bem, vovô. É divertido. Apesar de não poder morder aqueles humanos.
   Tomás de repente pareceu mais frio que o normal. O menino sempre foi cuidadoso com as crianças. Mas, pelo visto, só com as vampiras.
   _ Depois te levo em um lugar onde poderá morder quem quiser.
   Os dois se animaram na hora.
    _ Vovô vai cantar para a gente dormir?
    Fui pego de surpresa. Tomás e Cristina seguraram minhas mãos. Me convidando a segui-los.
    Nicolae e Lívia concordaram.
    Coloquei o pijama neles. Que subiram na cama para dormir. Relembrando quando eu era criança, cantei as canções de ninar que minha mãe cantava para mim.
    Foi impossível não me abalar. Precisei de um tempo para readiquirir a pose de indiferença.
    Voltei para a sala, onde meus filhos esperavam. Vê-los sentados no sofá, abraçados e sorrindo um para o outro, me trouxe lembranças. De quando transformei os dois.
    _ Eles dormiram.
    Nicolae me indicou o sofá em frente.
    _ Vai me dizer o que Kassandra veio fazer aqui?
    Lívia olhou para Nicolae.
    _ Veio se aproximar. Conhecer melhor as aliadas. Mas, você sempre sabe. Por que pergunta?
    _ Não fico lendo sua mente o tempo todo, como o Nicolae.
    _ Ei... Eu não faço isso o tempo todo.
    Ela revirou os olhos.
     _ Tudo bem. Mas, você realmente precisa tratar ela melhor. É aliada. E garanto que é muito forte!
    Ela olhou para nós dois e cruzou os braços.
    _ Não sei porquê perco meu tempo. Vocês vão ver minha mente mesmo.
    _ Não fique chateada com isso. _ Nicolae beijou o rosto dela.
    _ Não estou chateada. É inveja. Adoraria poder ler seus pensamentos.
    _ Ei. Eu ainda estou aqui. _ reclamei.
    Eles sorriram.
    _ Veremos se ela é forte ou não durante as batalhas. Com relação ao que houve aqui. É natural eu querer saber. Me preocupo com vocês.
    _ Eu entendo. Mas, não foi nada. Só conversamos bastante. E como foi para vocês?
    _ Tinha mais do que mestiços naquele lugar. Até uma bruxa flertou com Viktor.
    _ E estava trabalhando para eles. Eu não esperava por isso. Cheguei a pensar que estava ali por causa dos originais. Mas, queria saber quem eram meus filhos.
    _ Bruxas de novo? Ah, nem. Já basta os mestiços, os traidores e os originais. Falar nisso... Alguma notícia deles?
    _ Não. Ainda não fizeram nada. Devem estar cuidando dos outros clãs, primeiro. _ respondi.
    _ E o que viu com as crianças?
    _ O tal rapaz de camisa vermelha. Ele estava mantendo Kassandra acorrentada e dando choque nela. Eu o vi na mente do rapaz da boate. Está cercando ela.
   _ Então, é melhor avisar ela.
   Nicolae estava sério. Não foi uma provocação.
   _ Eu vou. Se ela não estiver com raiva de mais.
   Levantei, pronto para ir embora.
   _ Amanhã é um dia cheio de reuniões. Vou descansar um pouco. Boa noite!
   _ Boa noite.
   Estava bem gravada em minha mente, a cara daquele sujeito. Quando ele se aproximasse, eu saberia.

Is it love? Viktor - Imerso em sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora