Líder dos vampiros

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[ Viktor ]

    Félix muito de vagar se levantou da cadeira, olhando para mim. A adrenalina corria solta por minhas veias.
    _ E podemos saber por qual motivo você colocaria a sua própria vida em risco ao defender esses... Seres inferiores?
     Trinquei os dentes e tentei manter a calma o máximo possível.
     _ Tenho consciência dos problemas que outros transformados causaram. Porém, os meus são leais e jamais me trairiam. Eles vieram até aqui somente para me proteger!
     Ele me encarou sem se perturbar.
    _ Estão dispostos a morrer por você?
    _ Sim. 
    Pelo menos eu acreditava nisso. 
    _ Ótimo! Então, mate eles. Ou nós vamos matar você! Não vou tolerar que ninguém coloque nossa existência em risco.
    Ele ergueu a voz e percebi como sua aura tentava nos fazer curvar a sua vontade. Eu fiquei firme e expandi minha própria energia. Era suicídio tentar medir força com o líder. Porém, eu não estava conseguindo me controlar. Pensar que iriam matar meus filhos doía tanto, que nada que pudessem fazer comigo me importava. Só queria protegê-los.
    _ Eu sou testemunha que os transformados dele são diferentes. São confiáveis!_ disse Augusto.
    Eu tinha orgulho de ter ele como aliado. Não se acovardou diante da imponente aura do líder. Se levantou também e expandiu sua aura junto com a minha.
    _ Ele virou um alvo por minha culpa. Por estar em um baile que eu não deveria ter realizado sem o devido cuidado. No entanto, ele protegeu minha família junto com seus criados. Lealdade é o que não falta ao clã Bartholy. Eles não oferecem nenhum risco a quem quer que seja. 
     Félix olhou para nós dois e depois para o restante do grupo. 
     _ Alguém que não seja aliado de viktor também pode testemunhar à seu favor?
     No entanto, somente meus aliados se levantaram. Todos que me ajudaram na batalha de Mystery Spell. Os que permaneceram sentados eram uma maioria esmagadora. Félix olhou para cada um deles, antes de voltar a se sentar. Eu também voltei ao meu lugar, mesmo que não estivesse seguro de qual seria a reação do líder. Augusto se sentou ainda encarando Félix.
     _ Acho que temos muito o que discutir sobre os criados. Vou ouvir cada um de vocês e depois decidir o que fazer. E vocês... Não ousem me desafiar!

******

[ Kassandra ]

    Eu não ia conseguir dormir. Veria o dia amanhecer, rolando na cama e sentindo pena de mim mesma, pela situação constrangedora que eu passei. Porquê diante dele eu tinha tanta vergonha e me sentia tão frágil? Não era o primeiro homem a me ver nua, então porquê eu me senti tão vulnerável e exposta? Não era o primeiro a compartilhar sangue, então porquê foi diferente? O que havia de diferente naquele vampiro?... Eu precisava tanto da minha mãe. Agora era aquele momento em que precisamos ter uma conversa franca e sincera. 
    _ Filha?
    Ilusão da minha cabeça?... 
     _ Filha, você está bem?
     Eu fui até a sala. Me surpreendendo ao vê-la.
     _ Mãe? O que faz aqui? Não ía conferir os parentes?
     _ Sim, nós fomos. Mas, seu pai recebeu um convite dos líderes e não teve como recusar. Eu vim porquê estava preocupada. Não sei se vão nos culpar pelo que houve no baile. Se não tivéssemos reunido tantos originais, os caçadores não teriam aparecido e não teriam gravado a fisionomia de todos.
      _ Acha que podem fazer mal ao papai?
      Ela suspirou nervosa.
     _ Eu não confio em quem é capaz de matar a própria família, para satisfazer seu ego. 
      O medo pelo meu pai começou a aumentar. Meus problemas pareceram tão ínfimos.
      _ O que houve com você? Algo te aflige?
      _ Deixa para lá. Estou preocupada com o papai.
      _ Ei, filha. Não há nada que possamos fazer no momento. Será pior esperar andando de um lado à outro. Me diga o que está acontecendo com você.
      Torcendo para tudo ir bem com meu pai na reunião, eu me sentei no sofá e abracei uma almofada. Minha mãe se sentou ao meu lado.
       _ Eu... Eu fiz uma aliança com o Viktor.  E compartilhamos sangue.
      _ Mas, isso é ótimo. Ele é nosso aliado a tanto tempo. Confiável!
      Eu abaixei a cabeça. Me sentia mal até em mencionar o ocorrido.
      _ Mãe... Já aconteceu com a senhora?... De você sentir prazer ao compartilhar sangue?
      Notei o rosto de minha mãe ficando vermelho e ela desviou os olhos. 
      _ Hora, isso é coisa que se pergunte?
      _ Eu senti isso hoje... Com o Viktor! E eu nunca senti com ninguém.
      Ela então, olhou para mim com aquele olhar de mãe. Que já passou por aquilo e sabe exatamente como a filha se sente. Segurou minha mão e me olhou nos olhos.
      _ Eu sinto prazer toda vez que compartilho sangue com seu pai!... Nós temos uma natureza muito voltada a luxúria. Desejo e sede de sangue sempre andam juntos. Você já bebeu sangue de humanos enquanto se deitava com eles não é?
       Com o rosto corado eu concordei.
       _ Viktor é um homem muito atraente e sedutor. Um vampiro belo e irresistível. É normal você se sentir afetada pelo charme dele. Sua aura é muito poderosa. Não se sinta mal por desejá-lo. Lhe garanto que há uma fila enorme de pretendentes loucas para ter um minuto da atenção dele. Você também é uma bela vampira. Também tem uma aura forte. Quem lhe garante que ele saiu ileso? Aposto que ele está se perguntando o que houve, tanto quanto você! Sabe que faço gosto em um relacionamento de vocês. Adoraria tê-lo como genro. 
    _ Mas, eu sou amaldiçoada!... 
    _ Te proíbo de falar isso de novo! Já lhe disse que não se trata de nenhuma maldição. Fique tranquila. Isso não vai afetá-lo.
    _ Não sei. Não quero arriscar.
    _ O que você pensa sobre ele? Não acha que ele é um bom partido?
    Eu suspirei.
    _ É, mas tem uma visão de mundo diferente. Me acha fraca e mimada. Ele tem uma antipatia por bruxas, lobisomens e humanos. Se irritou quando eu disse que não tenho problemas com eles. 
    _ Filha, ele já passou por tanta coisa. Eu já lhe contei sobre o que aconteceu com sua família. Ele tem seus motivos para não gostar deles. 
     Eu entendia os motivos dele. Porém, eu não podia me forçar a pensar igual. Eu não passei pelo que ele passou. E não podíamos julgar todo um grupo, por conta de alguns membros. Não é porquê algumas bruxas fizeram mal à ele, que todas são ruins. Não é porquê alguns lobisomens foram cruéis com ele, que todos são maus. Não é porquê alguns humanos traíram seus pais, que todos são mau caráter. 
     _Eu respeito isso mãe. Mas, eu não penso como ele. Porquê ele não pode respeitar minha opinião?... Ele é um bom partido, mas eu não conseguiria conviver com ele. Também não posso arriscar de me deitar com ele.
     _ Eu não quero que você se deite com ele... Quero que o conquiste e se case com ele. Aí poderá dormir com ele sempre.
     _ Mãe... É sério. Eu não posso arriscar.
     _ Vamos procurar informações sobre o que acontece com você. Não se preocupe. Seja o que for, daremos um jeito!
      Eu larguei a almofada e abracei ela. Nada melhor do que ter uma mãe para desabafar e se apoiar. 
      _ Minha garotinha está crescida!... Fique tranquila. Sentir prazer ao beber sangue é normal. Ele já deve ter passado por isso várias vezes. Não vai te julgar! Nem se abalar com isso. Terá que ser mais insistente se quiser conquistá-lo.
      _ Mãe!... Eu não disse que quero conquistá-lo. Atração não é amor!
      _ Você estava disposta a se casar com um original, desconhecido, naquele baile. Pelo menos esse você conhece um pouco. Sentir atração já é o bastante. Seu irmão se casou sem sentir nada. 
     Verdade! Poderia ser pior. Mas, no momento em que estávamos, não podíamos perder tempo com questões pessoais.
      _ Como será que está o papai?
      _ Espero que esteja bem. Pelo menos não está sozinho!

******

[ Vitkor ]

   Eu sabia que eles não consideram transformados como iguais. Mas, estavam todos expondo isso sem nenhuma vergonha.
   _ Transformado nem é gente, quem dirá, um filho. Você é uma vergonha para os vampiros!
    _ Não quero correr risco porquê ele gosta de brincar de casinha.
    _ Quero ver ele manter a arrogância quando for traído!
    _ Vamos matar todos que não tem sangue puro!
    Eu ouvi calado, cada um deles. Pensando em uma maneira de proteger meus filhos. Eu seria considerado um pária. Um traidor do sangue puro. Mas, não viraria as costas para meus criados. Quando os únicos que me estenderam a mão, quando eu precisei foram eles. Se eu estava vivo e pude vingar meus pais, era por ter sido protegido por seus transformados.
     _ Vamos votar. _ disse Félix. _ Quem acha que os criados por Viktor devem ser poupados?
     Apenas eu e meus aliados erguemos as mãos.
     _ Quem acha que é melhor manter apenas sangue puros?
     Eu nem precisava olhar para saber o resultado.
     Félix se levantou.
     _ Nós somos democráticos. A maioria é que decide. A minoria deve acatar e obedecer a vontade da maioria. É o mais justo! E nós valorizamos a justiça. Não é mesmo?
    Eles concordaram.
    _ A maioria decidiu pelos puro sangue. Então, sendo você a minoria, responda... Vai acatar e obedecer? Ou morrerá junto com seus... Filhos.
    O deboche na voz dele era irritante. Ninguém entendia. Olhares de nojo e revolta pela maneira como eu chamava meus criados, se direcionaram à mim.
    _ Morrer?... Não! Nossos inimigos são os caçadores, bruxas, lobisomens... Não precisamos criar um atrito entre nós. Somos todos vampiros. Nascidos ou criados, não importa. Somos o mesmo clã. E é pela falta de respeito que vocês tem com seus criados, que são traídos por eles. Lealdade se conquista.
    _ A culpa é nossa por tratá-los como merecem?... Eles deviam ser gratos por perdermos nosso tempo deixando-os entrar em nosso mundo. Ser nossos escravos é melhor do que essa medíocre vida humana.
    Félix tinha um sorriso psicótico. Um olhar de ensandecido.
    _ Não sou bonzinho. Não digo que não faço minha distinção entre raças. Eu também desprezo humanos. Mas, esse grupo que eu demorei tanto a juntar... Não vou deixar ninguém feri-los.
    De novo o burburinho de comentários. A tensão só aumentava no ambiente.
    _ Você fez sua escolha. _ Félix expandiu sua aura. _ Vamos atrás dos seus primeiro. Logo após acabar com você!
    _ Espere!_ gritou Augusto. _ Com todo respeito que tenho à você... Viktor é como um filho para mim. É um vampiro original de família nobre. Poderoso! Vai descarta-lo assim? Como se ele não fosse nada? Ainda estamos falando sobre sangue puro ou isso é uma jogada política para neutralizar a influência que Viktor tem?
     Confesso que não esperava ser defendido com tanta veemência, pelo meu aliado mais antigo. Que foi melhor amigo do meu pai. Que me ajudou a treinar quando eu era criança. Nunca parei para pensar sobre o que eu significava para ele. Não é do feitio de homens, ainda mais sendo vampiros, falar de sentimentos. Como um filho... Por isso queria que eu me casasse com sua filha.
     _ Como ousa me acusar de segundas intenções? Se faz tanta questão, pode morrer com ele.
     Félix ergueu a mão e uma corrente se estendeu na direção de Augusto.
     _ Viktor e seus aliados são traidores.
     A confusão estava iniciada. Porém, antes que Augusto tivesse chance de se defender, alguém agarrou a corrente, entrando em sua frente.
     Todos olhavam chocados.
     _ Mas, o que significa isso?_ Félix gritou irado.
     _ Não ouse atacar meu pai! Não terei misericórdia, seja lá quem for.
     Naquele momento, Kassandra parecia tão impressionante e poderosa como qualquer heroína. Meu coração acelerou. Mas, logo me enchi de medo.
    _ Quem é você para ousar enfrentar nosso pai?_ indagou Nicolae. Com uma espada apontada para Félix.
    Meus filhos estavam ao meu redor e protegendo cada um de meus aliados.
    _ Mas, quem vocês pensam que são para invadirem essa reunião?
    Félix era puro ódio.
     Com a atenção de todos voltada para ele, Nicolae respondeu.
     _ Nós somos os filhos de Viktor. O clã Bartholy.
     Que orgulho!
     A cara daqueles idiotas, não tinha preço. Ficaram sem palavras diante de meus transformados.
     Mas, o medo era maior. Precisava protegê-los. E, afinal... Quem ficou com as crianças?
   
   
   

    

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