Apenas uma escolha

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[ Viktor ]

   A biblioteca do castelo era imensa. Eu duvidava que haveria alguém que já tivesse lido todos os livros dalí. Fui caminhando entre as fileiras, à procura da rainha. Encontrei-a sentada no sofá. Com um livro grosso nas mãos. Nem perdi meu tempo olhando que livro era. Me aproximei e esperei ela me olhar.
    _ O que o traz aqui?
    _ Sua filha quer se casar comigo.
    Ela ergueu a sobrancelha, surpresa. Depois sorriu.
    _ Deve pedir a permissão do rei. Por mim, tudo bem!
    _ Ela disse que meu jeito de ser não é um problema. Já que você consegue me colocar na linha.
    Ela colocou o livro de lado e se levantou.
    _ Do que está falando?
    _ Eu é que pergunto. O que está acontecendo?
    Ela ficou nervosa. Olhou para vários lugares. Menos para mim.
    _ Não dê ouvidos as besteiras que ela fala. É só uma menina inconsequente.
    _ Esqueceram de pedir a ela para não comentar sobre o que fizeram não é?
   _ Viktor... Eu não...
   Segurei o pescoço dela.
   _ Me dê uma boa razão para não te matar aqui e agora!... Pela sua ousadia em manipular a minha mente.
    _ Você não sairá daqui vivo, se me machucar!
    Ergui a sobrancelha, irônico.
    _ Eu nunca quis o trono. Vocês é que vieram atrás de mim. Devolva minhas lembranças. Ou eu vou garantir que não haja descendentes para ocupar o trono!
    Ela me olhou chocada, mas, logo começou a rir. Eu soltei o pescoço dela, surpreso.
    _ O que é tão engraçado?
    _ Tem certeza de que quer suas lembranças de volta?... Depois de tudo que você fez... Não acho que seria capaz de aguentar.
    Ela se aproximou para sussurrar no meu ouvido...
    _ Vá para casa. Siga a sua vida. E não nos cause mais problemas. Enquanto você ficar fora do nosso caminho, nós podemos mantê-lo vivo.
   Ela se afastou com um sorriso arrogante. Enquanto eu realmente ficava confuso sobre o que deveria fazer. Se eu recuperasse as lembranças, conseguiria viver comigo mesmo e as escolhas que fiz? Ao mesmo tempo, não podia ignorar meus criados e seus filhos. A lembrança da morte dos meus pais dava voltas em minha mente. Meus criados iam me trair ou eu estava traindo eles? A ignorância às vezes era uma bênção. Outras vezes, era melhor saber.
    Eu fui até a janela observar o céu. Meu coração doeu quando eu vi surgir um morcego. Como um sinal. O mesmo que eu vi antes... Meus olhos ficaram úmidos de novo e eu dei um soco na parede. Irritado por não entender, porquê aquilo me deixava tão triste a ponto de doer meu coração.
   Entre lembrar ou esquecer. Proteger ou ignorar. Confuso e irritado. Preferi confiar no instinto. Eu precisava fazer a dor passar. E se eu continuasse no castelo não seria possível! Não importa quais eram os riscos. As respostas que eu precisava, só eles poderiam dizer.
    Olhei para aquele morcego de energia, no céu. E como se fosse um pedido de socorro à mim, eu fui atender!

*****

[ Kassandra ]

   Seria possível morrer pelo nível da dor?... Bem, talvez um humano. Mas, uma vampira como eu não morreria com isso. Eu odiava isso! Justamente por saber que isso não matava um vampiro, que eles iam até o limite da tortura. Após me espancar, ele derramou mais água no chão e trouxe aqueles cabos elétricos. Exatamente como os gêmeos mostraram. Meu corpo todo tremia. Doía. Muito.
   _ Diga algo relevante. Você deve saber qual é o melhor jeito de acabar com ele.
    _ Viktor não tem fraquezas.
    _ Impossível. Todos nós temos. Se você não falar, teremos que dar outro jeito. E depois de saber, vou dar um fim definitivo em você. O que é uma pena. Você até que é interessante.
    Ele segurou meu cabelo. Puxou, para me fazer olhar para ele.
    _ Se eu morder você... Vai virar uma mestiça de vampiro e lobisomem? Uma vampiloba? Ou lobispira?
    O horror daquela proposta me fez mostrar as presas para ele. Tentei morder, mas, ele se afastou.
    _ Nada de sangue para você! Se não, vai se curar. A intenção é você confessar. Diga alguma coisa!
    _ Vá para o inferno. Eu não tenho nada para dizer.
    _ Vai morrer em vão?
    _ Pode me matar. Eles vão se vingar! Você vai pagar por tudo que está fazendo. Por trair minha confiança. Foi uma estratégia arriscada entrar na minha empresa como funcionário. Só deu certo porque sou muito trouxa. Mas, isso não vai ficar assim.
    Ele se afastou. De novo encostou os cabos na água.
   _ Aaaaaaaaaaaaaah!... Desgraçado!
   A porta se abriu. Ouvi os passos se aproximando. Mas, não tive forças para erguer a cabeça e ver quem era.
   A voz era grave e ecoou pelo galpão...
   _ E então?
   _ Ela não quer falar.
   O outro rapaz se aproximou. Pelo cheiro e batimentos cardíacos, eu sabia que era um mestiço.
    _ Você não vai sair daqui viva. Que tal começar a falar? Daí posso ter compaixão e te matar rapidamente, ao invés de continuar torturando. A dor vai acabar.
    Eu me esforcei para olhar seu rosto. Ele tinha cabelo preto, olhos castanhos. Tinha a pele pálida. Seu olhar era gelado. Seu rosto não demonstrava emoção alguma. Ao olhar para ele eu lembrei de Viktor. Havia algo em comum entre os dois. Eu não sabia dizer o quê.
    _ Eu não tenho nada para falar.
    _ Eles foram no seu baile. Protegeram todos ali. Também foi até seu escritório. Me parece que ele é próximo o suficiente.
    Eu desviei os olhos. Estava dolorida, com sede e fraca. Não conseguia usar meus poderes. Tendo só o físico, como eu conseguiria sair dalí? Eu precisava me soltar das correntes.
   _ Thales...
   _ O que?
   _ Traga o chicote.
   _ Sim, Andrey.
   Ele se afastou. Enquanto o mestiço ia para trás de mim. Ele afastou o meu cabelo e rasgou minha blusa. Para expor minhas costas.
   _ Tem certeza que não vai falar?
   _ Viktor vai me vingar.
   Ele riu e se aproximou para sussurrar no meu ouvido...
   _ Estou contando com isso. Vou cuidar dele pessoalmente.
   _ Por que tanto ódio dos vampiros?
   _ Fala como se fossem inocentes... Tantas vidas perdidas. Quanto sangue há em suas mãos? Sangue humano principalmente.
   _ É da minha natureza. Humanos também tem o sangue de animais inocentes nas mãos. Faz parte da alimentação.
   _ E nós somos os predadores dos vampiros. Sempre tem alguém acima.
   Não. Mestiços estavam entre os dois mundos. Não fazia sentido amar um lado e odiar o outro, quando era parte dos dois.
   Ele se afastou. Thales veio com o chicote. Eu olhei para o chão. Não podia fazer nada no momento. Tinha que esperar ele cansar. Quando eles fossem embora, eu tentaria me livrar das correntes.
    Ouvi o estalo e senti a dor. Meus olhos ficaram úmidos de novo.
    "Eu não sou fraca. Eu vou sair dessa". É o que eu esperava.
   

Is it love? Viktor - Imerso em sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora