[ Kassandra ]
Não queria um clima ruim, então, fui esclarecer as coisas, assim que o dia amanheceu. Eu nem consegui dormir. Fiquei pensando que deveria ter reagido de outra maneira. Sem ficar na defensiva e não usar o mesmo tom que ele. Talvez, se eu simplesmente ficasse o encarando calada, ele percebesse seu erro e pudéssemos conversar. Foi constrangedor até para Thales. Eu devia ter feito o mesmo que ele. Ficar calada e ir me sentar na minha cadeira. Esperando Viktor parar de surtar. Infelizmente não dava para voltar atrás.
Toquei a campainha de seu apartamento. Não havia nenhum som vindo de dentro. Era hipocrisia, mas, me teletransportei para lá. Tinha que me lembrar de não critica-lo mais, por usar a chave da secretária. Chave essa que ela tinha, junto com outras chaves de todas as salas, por causa do atentado dos mestiços. Para que os humanos pudessem sair do prédio, se algo desse errado. Eu não queria ter que me preocupar com eles sendo usados contra mim.
A casa dele permanecia em ordem. Fui até seu quarto. A cama estava alinhada. Ele não estava mais ali.
Fui até o apartamento de Lívia. Atenderam no primeiro toque.
_ Kassandra? Aconteceu alguma coisa?
_ Você viu o Viktor ontem? A gente discutiu e eu queria conversar com ele. Mas, não está em seu apartamento.
Ela olhou para Nicolae. Ele me encarou. Sua expressão mudou para surpresa e depois ficou sério de novo.
_ Deve ter ido trabalhar mais cedo.
_ Eu estou indo para lá. Só queria saber se alguém o viu e falou com ele ontem.
_ Não. Quando ele foi te ver, já tínhamos encerrado o expediente.
Nicolae parecia frio de repente. Ou indiferente. Talvez, realmente eu estivesse me preocupando à toa. Ele não podia estar tão chateado assim.
_ Eu vou verificar. Obrigada.
Saí dalí na intenção de teletransportar. No entanto, fui seguida.
_ O que aconteceu? Por que brigaram?
Lívia parecia realmente preocupada.
_ Ele surtou ao me ver tomando o sangue de um funcionário, no meu escritório!
_ O quê? Ele deu crise de ciúme?
Olhei para ela chocada. Isso nem me passou pela cabeça.
_ Acha que foi ciúme?
_ Até onde eu saiba, tomar sangue de alguém é só matar a sede. No entanto, os rapazes sentem aquelas coisas das quais você falou, com mais frequência. Acabam achando que nós também sentimos. E podem enxergar a cena com outros olhos.
Ele teria visto com maldade aquela cena? Não seria apenas uma preocupação por conta dos ataques dos mestiços à empresa?
_ Preciso falar com ele. Não vou tirar conclusões precipitadas. Se o encontrar primeiro, avise que quero falar com ele.
_ Pode deixar.
Para não perder tempo, fui direto à sala dele na empresa. E tudo estava em ordem. Sala vazia. Nenhum sinal de que ele passou por ali.
_ O que faz aqui?
A secretaria dele. Eu não via com tanta frequência como os outros. Mas, devia considerar ela do grupo, certo? Outra "filha", que eu teria que assumir. Vinte e três. Eu devia estar louca.
_ Eu discuti com seu pai ontem. Fui procurar por ele em sua casa, não estava. A cama estava alinhada. Pensei que ele já tivesse saído. Vim parar aqui. Não está também.
_ Não havia nenhum compromisso marcado em sua agenda à essa hora. Ele teria me avisado se algo tivesse mudado. Ele não pediu nada para essa noite.
Vi que ela ligou para ele. Nada.
_ Devo me preocupar?
_ Ele devia ter avisado. Se a briga foi séria à ponto de ele precisar extravasar, teremos que esperar ele voltar. Não há como saber para onde ele foi. À menos que consiga se teleportar até ele.
_ Eu posso. Meu dom funciona com lugares e pessoas. Vou tentar encontrar ele.
Me concentrei em sua aura. Eu conhecia bem. No entanto, não conseguia achar nenhum traço dele. Provavelmente ele não queria ser encontrado.
_ Ele deve estar com raiva. Não consigo encontrar ele.
_ Vou continuar ligando. Se achar, aviso que está procurando ele.
_ Obrigada.
Não havia nada que eu pudesse fazer no momento. Então, fui para o serviço.
Pelo caminho eu vi Thales em sua mesa. Ele olhou para mim e abaixou a cabeça. Como se estivesse envergonhado.
Imagino o quanto um vampiro original com raiva, pode assustar um lobo solitário.
_ Felícia... Chame o novato no meu escritório.
_ Sim, senhora.
_ Não se preocupe. Não vou demitir ele.
Ela deu risada, o observando descaradamente.
Precisava concluir todo o serviço rápido. Minha mente ainda estava focada em Viktor.
_ Com licença.
Thales entrou no escritório de cabeça baixa.
_ Sente-se.
Ele não estava olhando para mim.
_ Peço desculpas pelo que aconteceu ontem. Se eu soubesse que Viktor apareceria, não teria proposto aquilo.
_ Não tinha como sabermos. E não foi nada de mais. Ele que exagerou. Não quero que isso se torne maior do que é. Não fique mal com isso.
_ Se está tudo bem para você. Está tudo bem para mim. Se precisar se alimentar de novo, podemos esperar que todos saiam. Ser mais discretos.
_ Sim. Não quero que Felícia entenda errado.
Ele me encarou e deu risada.
_ Se ela soubesse que não sou humano, não estaria tão interessada.
_ Acho que é o contrário. É o seu charme selvagem de lobisomem que a atrai.
Meu rosto esquentou quando percebi o que eu disse. Ele deu um sorrisinho orgulhoso.
_ Bom saber.
_ Não me entenda errado.
_ Calma. Não vou ultrapassar limites. Somos profissionais, não é?
_ Claro.
_ É bom que tudo esteja esclarecido. Se precisar, me chama.
_ Tudo bem. Pode ir.
Ele saiu de cabeça erguida.
Algo então, chamou minha atenção... Ele conhecia o Viktor? Como o reconheceu?... Ao que parece ele era muito mais famoso e influente, do que eu pensava. Visto a confusão que armou com os originais, realmente não era um vampiro qualquer.
Passei todo o dia preocupada com a falta de notícias. Fui até a sala de meu pai. Talvez ele soubesse de alguma coisa.
_ Que cara é essa, filha?
_ Não consigo falar com o Viktor.
Ele me encarou de sobrancelha franzida.
_ Então, você resolveu falar com ele?
_ Sim. Ele me convenceu de que não tenho uma maldição e sim um dom. Até andei treinando com as filhas dele, para controlar minha energia.
_ Acho que erramos em não treiná-la direito. Protegemos de mais a nossa caçula. Agora você tem controle sobre esse dom?
_ Não testei ainda. Estive preocupada por não conseguir falar com ele.
_ É um homem muito ocupado. Tem todo um império para administrar. Não deveria pensar que ele está disponível o tempo todo. Eu mesmo, tenho muito o que fazer! Além de me preocupar com o que os originais farão contra nós.
_ Também tenho medo do que possa acontecer.
_ Mas, porquê está procurando por ele?
Eu não podia dizer o motivo.
_ Não posso querer conversar com um aliado?... Um aliado que o senhor desejaria que fosse seu genro...
Ele se animou na hora!
_ Adoraria. Mas, você insiste nessa compaixão com inimigos. Ele não vai querer uma esposa na qual não possa confiar cegamente como faz com os filhos. Ele não quer passar pelo que passou com seus pais. É uma alma torturada e sofrida.
_ Você deixa que a pena e compaixão que sente por ele, o faça passar por cima de tudo! Viktor não é perfeito! Ninguém é. Eu sei o quanto ele sofreu e tudo que teve que suportar. Eu passei maus bocados com você e a mamãe. Sei a dor que isso causa. Mas, ele está tão imerso nessa dor e lembranças horríveis, que toda sua vida gira em torno de construir barreiras em torno dele. Afastando todos que tentam se aproximar. O mais próximo que chegaram dele foi como filhos adotivos. E apesar de ser uma relação muito bonita, é também muito triste! Ele não é feliz, pai! E eu sei o quanto o senhor gostaria que eu pudesse trazer alegria de volta para a vida dele. Só que estando tão imerso em sombras, não acho que ele seja capaz de enxergar alguma luz! Ele é frio, solitário, infeliz e magoado!... Matar os assassinos de seus pais não fez a dor sumir, não resolveu seu conflito interno. Ele vai se culpar pelo resto da vida, por ter sido tão fraco à ponto de precisar de proteção. E ter dependido dos transformados para ter sua vingança. Como ele vai amar alguém, se ele ainda não consegue amar a sí mesmo?
_ Não acha que o está julgando de maneira dura?... Sim, ele claramente ainda está muito ferido pelo passado. Mas, isso apenas o tornou mais forte, prudente e sábio. Não acho que ele despreze a sí mesmo. Seu amor pelos seus filhos é sincero. Então, ele com certeza ama a si mesmo.
_ Eu não sei o que pensar. Ele quer mostrar esse lado forte, invulnerável, inabalável, temível. Mas, todos nós temos um ponto fraco. E o dele com certeza é ligado a família. É onde mais dói nele. E é por isso que o senhor quer que eu o escolha como meu marido. Para que eu cure suas feridas relacionadas a família. Quer que eu me torne sua fraqueza. Para que o senhor proteja a fraqueza dele. E com isso, proteja ele. Que é como um filho para o senhor!
Meu pai deu um sorriso triste.
_ Se ele realmente se despreza... Ajude-o a superar isso! Nossa espécie só tem a ganhar mantendo Viktor invulnerável e inabalável ao nosso lado!
Então, me ocorreu uma coisa...
_ Se o Viktor é assim uma peça tão importante no clã dos vampiros, porquê os originais querem descartá-lo com tanta facilidade?
_ Eles tem medo da influência de Viktor. Com a aura enorme dele e seu magnetismo. Se ele quisesse conseguiria que uma multidão o seguisse. Conseguiria assumir o papel de líder de todos os vampiros! Veja, ele conseguiu o que nenhum outro pôde! Fazer com que transformados arrisquem suas vidas por ele e o amem como um pai... Incondicionalmente! E sem negar sua natureza. Sem fingir ser bonzinho. Mostrando toda sua crueldade e frieza com os não vampiros. Quem mais faria uma cidade inteira o venerar como um rei? Humanos exaltando vampiros. Onde mais você veria isso, se não com ele? Ele é capaz de fazer qualquer um segui-lo. Seja humano, vampiro, lobisomem, bruxos, ou qualquer outro ser sobrenatural. Ele tem algo que nenhum outro tem. É de família nobre e nasceu com o dom de atrair multidões.
_ Mas, não acho que ele vá querer se tornar líder dos vampiros. Acho que ele só quer ter seu clã unido.
_ Nós sabemos disso. Mas, os originais tem a mania de querer eliminar qualquer possível ameaça. Mesmo que não seja a intenção da pessoa.
_ Temos que proteger Viktor. Não podemos deixá-los colocar as mãos nele.
_ Vamos protegê-lo, filha. Não se preocupe. Você sempre foi uma menina doce e preocupada com todos. Independente de sua espécie. Lembro do quanto você chorou quando matou o primeiro humano com quem se deitou. Você gostava dele. Até brigou comigo quando eu disse que não o aceitaria como seu marido. Eu sei o quanto foi difícil para você. O tanto que você se esforçou para não ver os humanos da mesma maneira que nos via. Para evitar sofrer. Quando conseguiu tratá-los como alimento e diversão. Eu comemorei. Por que não queria vê-la sofrer por causa deles. Quando você sofre, eu sofro junto. Confie em mim. Não quero vê-la daquele jeito nunca mais. Não importa se estou mimando você e te protegendo mais do que deveria. Eu não suportaria vê-la sofrendo de novo.
Eu abracei meu pai. Grata por todo amor e carinho que ele tinha por mim.
_ Vamos proteger o Viktor. Mas, eu ainda quero saber... Onde ele está?
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Is it love? Viktor - Imerso em sombras
FanfictionApós os acontecimentos das histórias anteriores, todos se reúnem para salvar Viktor. Os gêmeos Tomás e Cristina tiveram uma visão do futuro, em que o avô corria perigo ao se encontrar com uma original. Kassandra. Nessa história vamos acompanhar, com...