Capítulo 14

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Catarina

Assim que deixamos a caverna, fui escoltada de volta para o acampamento, já que meu pai havia partido para o castelo gravemente ferido, a única forma de voltarmos para Artena era esperando uma carruagem no acampamento. Seguimos a cavalo com Demétrio e assim que chegamos adentrei na tenta junto com Afonso, uma moça cuidou dos meus machucados da noite anterior e pude trocar de roupa durante esse tempo, assim que ouvimos um barulho de cavalos, fomos para fora olhar se já havia chegado a carruagem, porém não se encontrava ali ainda. Apesar de sabermos que iriam nos avisar, mas estávamos tão apressados para saber como estava meu pai que acabamos ficando de vez do lado de fora da tenda esperando.

No meio do caminho de volta ao acampamento, Demétrio havia nos contado que o duque tinha apunhalado meu pai pelas costas, numa região bem abaixo dos ombros e que por causa disso estava correndo risco de vida. Enquanto estava lá fora a espera da carruagem, não conseguia ficar parada, já estava ficando impaciente, até que vi os prisioneiros sendo levados e nesse momento fui em direção a Constantino.

- COMO OUSOU FAZER AQUILO COM MEU PAI, SEU CANALHA. - Não me controlei e avancei para cima dele, lhe dando, tapas na cara, e batendo em seu corpo, sem perceber as lágrimas que escorriam pelo meu rosto e antes que alguém visse Afonso me tirou dali e me abraçou, para que eu pudesse me acalmar.

- Calma Catarina, calma.

- Não posso perde-lo Afonso, não posso. Ele pode não ter sido o pai, mas carinhoso do mundo, mas sempre me protegeu, se eu perder ele, não terei mais ninguém. Ficarei só.

- Eu estou aqui Catarina, não vou te deixar. – Aquelas palavras poderiam ser interpretadas com um sentimento a mais do que parecia, mas ele estava dizendo apenas para me confortar, sei que mesmo tento perdido a criadinha, não ia deixar de ama-la tão rápido. Porém elas me confortaram de qualquer forma e me senti melhor, Afonso me levou até a tenda e lá fiquei descansando por um bom tempo. A mesma moça que cuidou dos meus machucados me chamou quando a carruagem chegou e as pressas entrei nela, fiquei esperando por Afonso, mas não conseguia vê-lo, para onde havia ido? Quando estava pra descer e procurar por ele, avistei vindo na direção da carruagem e assim que entrou notei que suas mãos estavam machucadas com um pouco de sangue, não me excedi em perguntar:

- O que aconteceu com suas mãos? – ele as olhou e hesitou antes de dizer qualquer coisa.

- Ah isso, foi quando a resgatei, apenas esqueci de limpa-las. – Sabia que estava mentindo, eu vi suas mãos na caverna e não estavam machucadas, mas já que não quis me dizer não iria insistir.

- Bom, tome pelo menos isso então. – E lhe entreguei um lenço e ele aceitou de bom grado limpando o pouco de sangue que tinha em suas mãos.

*

O trajeto da viaje foi bastante longo e depois de conversar bastante com Afonso acabei adormecendo em seu ombro e me perdi novamente no lago, me afogando, mas dessa vez eu senti apenas o desespero de não saber nadar e a sensação de que iria morrer, despertei assustada e sem fôlego, buscando por ar.

- Catarina, você está bem? – ele me olhou preocupado. – O que foi?

- Não foi nada, não se preocupe, apenas um pesadelo que sempre me atormenta.

- Pode me dizer sobre o que é?

- Ah... – eu hesitei, mas não era nada demais, porque não contar? – não é nada demais, só eu me afogando, é agoniante. – Ele me olhou com uma cara curiosa, mas antes de falar alguma coisa o cocheiro parou a carruagem e avisou que tínhamos chegado. Sai às pressas e fui até o quarto de meu pai. Ao chegar lá, encontrei um padre perto da porta e um médico que acabará de terminando os curativos.

- Papai! Como está? Está se sentindo melhor? – Disse isso e me ajoelhei perto da cama, percebi Afonso entrando no quarto em seguida e se aproximar aos poucos.

- Minha querida filha, temo que talvez não passe dessa noite.

- Deixe de dizer bobagens meu pai, o senhor vai viver muito.

- Temo que não filha e por isso tenho algo a lhe dizer. Apenas escute. Sempre a prendi muito neste castelo e tinha total cuidado em relação a você saber sobre tais coisas do reino, por causa de sua mãe. – Ao perceber que ele falou dela, me assustei, ele não fala da mamãe, sempre quis saber sobre ela, mas ele sempre se esquivava quando eu perguntava, então me atentei ao que ele disse. – Sua mãe foi vitima de um sequestro assim como você por causa de um nobre, que não aceitava o fato de ela me amar e não a ele. Por causa disso ela pagou com a vida, fiz o que pude para salva-la, até as quantias mais altas eu entreguei a ele, mas este nobre não quis saber. O problema disso tudo é que você veio comigo, curiosa para saber o que estava acontecendo e quando descobri fiquei com medo de perde-la também, então a escondi naquela caverna que você estava hoje, e não me canso de agradecer por ter me obedecido desta vez. Porque você fugiu de lá ainda pequena e procurou sua mãe e a mim, perambulando pela mata, enquanto os guardas haviam dormido, não sei o que te aconteceu neste percurso, mas um guarda a encontrou perto de um lago, toda encharcada e inconsciente. – Ao terminar de dizer isto percebi porque meu sonho me perseguia e me lembrei o que aconteceu, antes de entrar no lago. – Por isso te protegi, minha filha, não podia te perder. Agradeci por você esta bem quando a encontraram, acho que você nadou ate a borda ou caiu não sei explica, mas te acham... – o interrompi.

- Eu o vi papai, eu o vi matando ela, por isso corri assustada, agora eu me lembro. – Continuei, agora sem perceber que estava chorando. – é como se tivesse se apagado da minha cabeça essa lembrança. Mas agora eu lembro, eu tropecei e cai no lago, estava me afogando, mas alguém me tirou de lá, só não sei quem. – Percebi que Afonso nos olhava atentamente, ele ficou tão calado por causa de toda a história que eu tinha esquecido que ele estava ali.

- Sinto muito minha filha por presenciar tal cena, tentaria poupá-la a qualquer custo, mas... – E tossiu tentando finalizar a frase, sem conseguir. Afonso se aproximou da cama e perguntou se o rei desejava algo, ele disse que não com a cabeça, mas assim que terminou a tosse, falou:

- Afonso! Obrigada por cumprir seu dever e traze-la viva, de volta a mim.

- Fiz o que tinha de fazer alteza.

- E por isso lhe peço mais um favor.

- Sim claro. Pode dizer.

- Cuide dela e a proteja.

- Enquanto eu estiver vivo, prometo que o farei. – Com essas palavras, meu pai segurou minhas mãos olhou para mim e disse:

- Seja feliz, eu te amo. – E fechou seus olhos, não consegui me conter e o abracei chorando desesperadamente. Ele de forma calma e rápida havia partido dali, Afonso se abaixou ao meu lado e me abraçou e naquele momento foi o único canto que eu encontrei conforto, em seus braços.

*Desculpa qualquer erro :)

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