Meu pai sempre repetia aquela história.
Um dia ele teve que dar uma palestra em uma universidade e a babá havia desmarcado de última hora. Meus avôs estavam fora da cidade e haviam levado Tio Naa e minha mãe estava de plantão. Não havia ninguém para cuidar do filho de quatro anos, por isso daídi me levou junto.
Durante toda a palestra eu havia ganhado olhares e apertões nas bochechas de alunos e agentes, mas bastou alguns segundos e eu havia sumido da cadeira. Quando não me viu, meu pai havia pirado, parado a palestra e todos começaram e me procurar pelo prédio.
Ele dizia que quando finalmente me encontrou eu estava sentado na mesa de palestrante, com uma turma inteira de estudantes me ouvindo atentos, inclusive o professor da sala. As perninhas balançando no ar, enquanto contava fatos históricos sobre conflitos e guerras, com detalhes surpreendentes e uma articulação mais surpreendente ainda.
Ele cancelou as buscas e entrou na sala, ouvindo a narrativa até eu o perceber e correr até ele, que me pegou nos braços. Todos ao redor o felicitando por seu pequeno ser um gênio, perguntando com quantos anos eu havia visitado a Irlanda, para saber e lembrar de tantos detalhes.
Eu nunca havia visitado a Irlanda.
.......
SASUKE NÃO HAVIA APARECIDO EM NENHUMA AULA. Nem no refeitório no café da manhã, nem no almoço. Isso estava deixando Naruto ansioso e preocupado. Teria Obito descoberto tudo e dado um fim a Sasuke? Não, acreditava que não. Torcia para que não.
Não seja paranoico, se fosse o caso já teria ouvido a notícia. Ralhou consigo mesmo, olhando as unhas ruídas com um muxoxo. Naruto sentia falta de ter algum momento de tranquilidade em sua vida.
Tinha aula de luta naquele horário e estava bastante atrasado, ainda teria de trocar de roupa. O vestiário era grande, dividido em cinco corredores com armários verdes e um banco grande no meio de cada uma. As paredes brancas e com pôsteres de lutadores famosos. Em um canto havia um bebedouro, na parede do sul a porta que dava aos chuveiros.
Seu armário ficava na terceira fileira e somente era aberto com a chave. Desabotoou a camisa do uniforme a tirando, fazendo o mesmo com a camiseta abaixo dela, as jogando sem cuidado no armário. Pausou, lembrando de Gaara o olhando torto quando aparecia com o uniforme amassado e suspirou, pendurando a camisa com mais cuidado.
Removeu os sapatos e as calças rapidamente, vestindo os shorts laranja, a única peça que podia escolher a cor naquele lugar chato. Calçou os protetores de tornozelo e pegou as faixas de proteção do armário, as desenrolando e começando o processo quase calmante de enfaixar os punhos.
Seus olhos azuis não estavam focando na tarefa, que podia fazer até de olhos fechados depois de tantos anos. Sem sua vontade, a lembrança de anos atrás, de seu avô o ensinando a fazer isso lhe veio à mente. Da mão grande e calosa pegando a sua pequena, passando a faixa entre seus dedos, lhe mostrando a pressão certa de colocar. A voz grave e paciente, gentil enquanto o guiava nos movimentos, no ângulo de seu braço, no giro de seu calcanhar ao dar um chute sem cair. O ensinando a se proteger, para que ninguém o machucasse de novo.
Não ajudou em muita coisa no fim das contas.
Fechou os olhos com força, engolindo a bile que subiu por sua garganta. Colocou as mãos na boca e se encolheu no banco. Se empertigou um tempo depois, quando ouviu o som da porta sendo aberta e o barulho de alguém destrancando um dos armários mais na frente.
Ninguém pode me ver assim.
Após algum tempo respirou fundo, jogando a cabeça para trás, se sentindo exausto. Tinhas tantas coisas para pensar que achava que sua cabeça explodiria a qualquer momento. Não queria e nem se sentia bem para lutar, mas não tinha escolha, não podia trazer ainda mais atenção para si, e com certeza escapar das aulas causaria isso.
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Seacht
FanfictionQuatro almas presas em um ciclo vicioso que começou na Irlanda centenas de anos atrás. Aquela era a sétima chance. A sétima e última chance. [Escrita em parceria com escritora Bya]