An Cathair ghríobháin

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Eu não tinha certeza de quando havia começado a ouvir as vozes e ter os sonhos. Talvez por volta dos três ou quatro anos. As imagens, a princípio, eram por vezes coisas simples: terras esverdeadas em cadeias de montanhas e mar. Uma mulher com um arco e flecha correndo ao meu lado, um lindo sorriso no rosto. Cantos, danças e afeição. Raposas, pessoas com auras brilhantes e seres estranhos flutuando ao redor, e, principalmente, o rosto de um menino. Um menino pálido de cabelos escuros, correndo em minha direção e rindo de algo.

Havia tanto amor ali. Por ele.

Até os sonhos mudarem. Fogo, morte. Sangue. Dor. Monstros. Eu acordava de madrugada aos gritos, meus pais ou tio Naa me embalando. Aquela voz em minha cabeça tentando me consolar.

Nunca havia consolo.

E um dia, a dor me alcançou no mundo real também.

Aos sete anos.

Foi quando conheci meu primeiro monstro.


QUANDO SAI SE LEVANTOU NAQUELE SÁBADO PELA MANHÃ, sentiu a quebra da rotina que já estava se acostumando. Ele era sempre quem acordava Naruto, geralmente em meio a um pesadelo em que ele gritava, quase sempre em irlandês.

Não naquela manhã.

Ele se ergueu sonolento, sentindo o corpo estranhamente pesado. Havia dormido por toda a noite. Isso era raro, geralmente era bastante atento durante o sono e acordava fácil, daí vindo o motivo de sempre ter que arrancar Naruto da cama. Devia estar muito cansado na noite anterior.

Quando se preparou para ir acordar Naruto, de algum jeito que o irritasse e assim ele ganhasse o dia, o encontrou desperto. Ele estava sentado na cama com as costas na cabeceira, abraçando os joelhos, o queixo repousado neles enquanto olhava de forma vazia para a janela aberta, por onde passava uma brisa gelada matinal.

— Que milagre. — Falou, sem receber resposta enquanto se encaminhava ao banheiro. Essa falta de resmungo lhe deixou curioso, então se virou analisando melhor o outro. — Não está com frio?

Naruto estava apenas com uma boxer escura e uma camisa fina branca. Os cabelos loiros estavam ainda mais desarrumados, a barba por fazer deixava uma sombra desleixada em seu rosto.

— Ei!

— Estou bem. — A voz que saiu foi estranha, vazia.

Sentiu um arrepio lhe percorrer a espinha de forma involuntária. Deu de ombros e foi se preparar para mais uma manhã. Quando retornou ao quarto para liberar o banheiro e calçar os tênis, o encontrou na mesma posição.

— Não vai se arrumar?

Naruto negou com um gesto de cabeça.

— O que foi? — Perguntou curioso. — Levou um fora do Uchiha?

A única resposta a provocação foi o olhar de soslaio. Sai se assustou ao ver os olhos sempre tão cheios de emoção, vazios. Havia olheiras em seu rosto e um tom avermelhado e inchado, geralmente visto em quem havia chorado.

Ele parecia tão horrível que ficou sem reação.

— Me deixa em paz. — A voz saiu baixa.

Aquilo não havia graça alguma. Sai experimentou um senso de preocupação até então desconhecido pelo colega de quarto.

— Eu posso ficar, se você...

— Eu quero ficar sozinho. — Naruto o interrompeu, mudando de posição e se deitando na cama, virando as costas para o colega que ainda olhava da porta.

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