Cogadh

761 87 35
                                    

Uma semana antes todos os cães do meu avô haviam sido levados para o veterinário e sacrificados; desconfiavam que haviam sido atingidos por algum envenenamento na água.

Xícaras quebravam do nada quando colocava o chá, minha avó ligava e falando sobre sonhos estranhos.

E os corvos estavam sempre lá. Haviam aparecido ao redor da cabana. Eu olhava pela janela e eles estavam lá apenas, nas árvores, nos olhando, nos seguindo com aqueles olhos negros que faziam os pelos da minha nuca se arrepiarem.

Um aviso. Um presságio. Isso só percebi bem depois, vendo o caixão do meu avô sendo abaixado, vazio no cemitério.

'De que adianta?' eu pensei apático, vendo todos chorarem ao redor. 'Saber de algo se não se pode impedir?'

A única resposta que obtive foi o silêncio.


ITACHI FITAVA A FACE PÁLIDA DO IRMÃO DESACORDADO como se pudesse o fazer levantar apenas com isso.

Quem não o conhecesse de verdade estranharia sua apatia: sua expressão estava estoica enquanto via o irmão enfaixado; as roupas ainda sujas do sangue dele, sabendo que o irmão estivera perto de morrer naquela manhã.

Sasuke teria morrido se Sasori não o tivesse encontrado, teria se esvaído em sangue em um corredor escuro. Sasuke havia, aparentemente, caído no corredor e apagado e sido pisoteado pela multidão desesperada, o que resultou em algumas costelas trincadas e uma concussão de que já havia tomado conta. O pior, no entanto, havia sido o ferimento nas costas. O que por sorte não acertara nenhum órgão, por não ter tido profundidade suficiente. A implicação daquilo era a parte ruim: alguém, provavelmente se aproveitando do alvoroço e do blackout havia o esfaqueado. E eles ainda não tinham pistas do culpado ou certeza do motivo.

Kimimaro gostava de pensar que ele conhecia o Uchiha, e ele sabia que só havia duas coisas que podiam realmente destruir aquela armadura de autocontrole dele: O primeiro era o irmão mais novo, e o segundo era o garoto loiro que nesse momento estava desacordado na cama ao lado.

Ele preferia não fazer perguntas. O que havia acontecido, o porquê de ele ter que tratar os dois ali, e não na enfermaria central onde todos os outros feridos do incidente estavam sendo tratados. Não perguntara nada. Apenas medira ali os sinais vitais do Uchiha mais novo e passara para a maca ao lado no quarto branco, o mesmo quarto que semanas antes o jovem Uzumaki estivera a seus cuidados.

Pelo menos dessa vez os sinais não eram tão graves. Na verdade, em comparação ao garoto Uchiha ele estava muito bem. Apenas um ponto quebrado na mão direita, e uma febre que não cessava por nada e que não tinha motivo aparente.

Colocou a mão na testa quente, removendo os cabelos ensopados, e trocando o pano úmido com que tentava manter sua temperatura. O garoto delirava, murmurando em uma língua estranha, os lábios rachados, o rosto corado pela temperatura. Francamente, ele tinha mesmo esperado não o ver tão cedo ali. Gostava do garoto. Era difícil não gostar dele. Só esperava que conseguissem o tirar vivo dali.

Olhou o relógio e suspirou cansado. Isso atraiu a atenção tanto de Itachi quanto de Sasori que estava sentado perto da porta.

— Continua subindo? — Sasori perguntou, voltando a atenção para a janela.

— Está estabilizando.

— Você estava certo, Itachi. — Sasori falou. — Ele está melhorando à medida que seu irmão o faz também.

A pergunta de "como" estava clara ali, mas o Uchiha preferiu não responder, os olhos em seu irmão. Quando alguém bateu na porta se entreolharam, a postura tensa. Kimimaro puxou a cortina entre as macas, cobrindo os garotos, e Sasori continuou no mesmo lugar, mas sabiam que estava pronto para agir. Itachi abriu a porta e Rebecca estava no corredor.

SeachtOnde histórias criam vida. Descubra agora