Pian

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AVISOS DE GATILHO: Violência, tortura, estupro e idealização de suicídio (essa última brevemente).

Morrígan, a rainha fantasma, sempre me deu medo; A deusa da guerra, associada com a vingança, premonição e a morte. Nas lendas, ela assume uma forma de corvo e sobrevoa o campo de batalha, pousando nos ombros de guerreiros.

Suas vastas formas, suas lendas contraditórias, sempre faziam os pelos da minha nuca se arrepiarem, e deixavam um gosto amargo na minha boca.

Quando menino, ao virar o rosto sempre via os corvos voando na janela, sem conseguir desviar deles quando invadiam meus sonhos. Seus bicos rasgando minha carne sem escapatória. Eles sempre estavam lá, vigiando. Esperando algo que não conseguia entender.

Morrígan também era a deusa do destino.

E o destino, é aquilo do qual você não escapa.


NÃO VÁ.

Eu não tenho escolha.

Odiava admitir, mas estava com medo. Sempre sentia medo perto de Obito, mas dessa vez era ainda pior. Por isso havia feito um desvio para seu quarto, lutando contra o cansaço que ainda sentia.

Hesitou por alguns segundos mirando o compartimento da mala, olhando para trás, mesmo sabendo que Sai devia estar ainda no refeitório naquela hora.

Por fim foi com seus instintos e pegou a arma e a colocou em seu cós nas suas costas, a cobrindo com a camisa. Apenas por precaução.

Olhou a adaga por alguns segundos, mas a deixou lá, voltando a fechar a mala com um suspiro.

Não vá Naruto, não vá.

— É só uma conversa. Ele não vai fazer nada.

Sussurrou, mas pareceu tão hesitante quanto se sentia, sentado na penumbra.

Eu não posso te proteger ainda. Não vá.

—O que quer dizer? — franziu o cenho. — Quem é você? Não é só uma alucinação, não é?

Quando falou isso, percebeu mais que era verdade. Havia cogitado transtorno dissociativo de identidade. Havia tentado reparar apagões, perguntar casualmente a Sai se agira estranho, mas não conseguiu nada.

Ainda assim, não parecia correto. Havia...um nome, às vezes, na ponta da sua língua. Uma lembrança, que sumia e o deixava exausto e frustrado quando tentava lembrar.

Sabe quem eu sou.

A voz falou mais quietamente,

Não tinha tempo para isso. Não agora.

—Estou com medo. — Admitiu. — Um pressentimento ruim.

Não vá.

Tinha que ir. Não tinha escolha nisso.

Nunca tinha.

............

Naruto apressou o passo. Em sua cintura a arma gelada lhe atrapalhava um pouco a andar. Havia passado por alguns alunos, mas simplesmente os ignorou.

Sabia a razão da convocação: prestar explicações por ter salvado Hinata.

Apesar de tudo, não se arrependia. Nunca poderia ignorar uma situação como aquela. E não apenas por ser Hinata.

Não era assim.

Tentou não pensar muito no que o esperava no gabinete, somente passava pelos corredores enquanto uma tempestade caia lá fora, ruidosamente, junto a raios e trovões incontroláveis.

SeachtOnde histórias criam vida. Descubra agora