Davlin

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Há esse dizer que não há nada mais perigoso do o que o olho maligno; Pessoas que podem fazer extremo mal apenas com um olhar, e nada pode ser feito sem que se invoque o curandeiro das fadas para que ele pronuncie o encanto mágico que pode destruir a influência maligna.

Há várias maneiras com que o olho maligno pode atingir. Você pode encontrar certas pessoas logo pela manhã, e então seguir com o azar o restante do dia. Ou mesmo o olhar pode ser fatal, em uma criança ou animal fitado com a maligna intenção, especialmente se for em uma noite de lua cheia.

'Deus o abençoe' sempre deve ser dito às crianças, vovô sempre me avisava. 'Deus o abençoe' ele sempre falava ao me ver, assim o olho maligno não podia me alcançar.

Pode haver tanta maldade e intenção de dano em apenas um olhar, e nossa alma é como um espinho fino que pode vibrar sob a influência de qualquer força externa. Seja essa a bondade que erradia em certas pessoas, ou o puro mal que as contamina, e que podem matar sua alma apenas com um relance.

'A alma é nossa essência.' vovô me dizia 'É nossa força, e fragilidade. Não deixe o mal ecoar nela, nem mesmo aquele dentro de você mesmo.'

'A alma é como o espinho afiado', eu sempre ia me lembrar, 'e nela ecoa as forças externas' eu nunca poderia esquecer.

Eu nunca iria esquecer.

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DAVLIN DESCIA A ESTREITA ESCADARIA DE FORMA VAGAROSA, A ADAGA NA MÃO, RISCANDO AS PAREDES DE PEDRA EM UM BARULHO AGOURENTO. A penumbra, e tênue luz vinha apenas das tochas nas paredes.

Deixava para trás a cacofonia de fora, das pessoas que se preparavam para a grande execução, sedentos de sangue que seria derramado logo nos primeiros raios da manhã. Sangue impuro.

Desceu o último degrau e parou, não conseguindo deter a leve dor no coração ao ver a cena na sua frente. Ver o garoto que vira crescer e se tornar no homem que amava naquele estado lamentável. As mãos presas pelas correntes na parede, seus pés apenas tocando levemente o chão, o peito subia e descia com rapidez, em agonia. Ao ouvir sua entrada, a cabeça que pendia ergueu-se levemente, o rosto escondido pela máscara de ferro, que permitia ver apenas os olhos cinzentos ofuscados.

Desviou deles, sentindo raiva por se sentir assim, sentir-se julgado por aqueles olhos.

Suspirou e voltou a encará-lo, aproximando-se. O peito nu tentava controlar a respiração agora, ficando parado e tenso. Marcado, torturado. Via que a cura dessa vez estava ainda mais lenta, como se os metais nele sugassem pouco a pouco a magia negra dele - a impureza - através da dor.

E apesar de tudo, ele não queria nada daquilo. Ele não queria Aeron em dor. Depois de toda a raiva, de ter visto a tortura dele por horas, não sentira a satisfação que pensara. Noland estava morto, soubera há pouco. Ewen com certeza não voltaria. Não tinha mais ninguém além dele.

Antes que se desse conta do que fazia suas mãos estavam na máscara, a removendo. O material estava quente, e soltou rapidamente com um gemido. Voltou rapidamente, a removendo. Prendeu a respiração momentaneamente ao ver as queimaduras que ela deixara no rosto antes perfeito. E o quanto apenas segundos depois de removê-la estas começavam a se curar, vagarosamente. Os lábios dele estavam em uma linha reta, os olhos mais focados, nos seus. Podia ver bem ali. Dor, raiva, confusão.

—Aeron. — murmurou, a voz baixa, e triste, de verdade. Não queria vê-lo assim. Nunca assim. Agora percebia.

—Por que fez isso?

SeachtOnde histórias criam vida. Descubra agora