Is breá liom tú

575 66 30
                                    

Recostou-se na parede gelada do prédio, a tolda lhe protegendo da chuva fina que caia. As escadarias pareciam enferrujadas e tudo na rua parecia melancólico; muito diferente do seu próprio bairro, de prédios novos e mansões coloridas.

Era por aqui que vivia por tantos anos, tio Naa?

Sabia que não estava realmente sozinho como queria. O homem grisalho lendo jornal e tomando café do outro lado da rua era um dos homens do seu pai. Assim como a mulher que olhava para fora da janela no prédio do outro lado do beco em que estava. Tentava não se importar com isso, era inevitável depois do que havia acontecido apenas meses atrás que seu pai ainda estivesse superprotetor.

Passou a mão nos fios loiros um pouco úmidos, tentando ignorar suas mãos trêmulas. Chegara perto de um ataque de pânico naquela sala, muito perto. Geralmente era muito bom em esconder esse tipo de coisa, mas naquele dia tudo parecia tão mais complicado. Até aquele momento tinha tentado se enganar, tentado fingir que seu tio ainda estava vivo e longe como estivera todos os últimos anos. Que não o vira morrer em seus braços, mas...a leitura do testamento dele fazia com que tudo fosse mais real.

Umedeceu os lábios piscando rapidamente para não derramar nenhuma lágrima. Não podia, ou não conseguiria parar. Acabou puxando o maço de cigarros do bolso do casaco. Sabia que iria precisar quando saíra da casa, mas no fundo esperara que não fosse tão difícil assim. Acabou com os olhos azuis focados na fumaça no ar, bloqueando tudo o mais. Sabia que não demoraria para um dos dois vir buscá-lo. Saíra quase correndo da sala da advogada, eles lhe dariam alguns minutos sozinho, mas não mais do que isso.

Sabia que estava certo quando ouviu as pegadas vindas da saída de emergência do prédio que havia usado.

—Pensei que tinha parado de fumar, já tivemos essa conversa.

Quase sorriu com o tom reprovador do seu pai. Ao invés disso estendeu o maço e o isqueiro e ele tomou com um resmungo. Finalmente fitou-o, de pé ao seu lado. A roupa social estava sem gravata, e havia olheiras escondias pelos óculos de grau que usara para ler os documentos. Ele parecia exausto. Os olhos azuis fitando a parede, perdidos em lembranças, talvez. Ergueu uma sobrancelha quando o viu acender ele mesmo um cigarro entre os lábios.

— Sua mam vai me matar se descobrir. — Ele murmurou e riu, também soltando a fumaça. — Eu tinha prometido parar.

Os dois ficaram em silêncio por mais algum tempo. Sentiu-se mais calmo e seguro com a presença do pai ali, como sempre. Se ao menos pudesse remover todas aquelas cenas da sua cabeça por alguns instantes... os olhos cinzentos sem vida nos seus. A voz dele, Deus, a voz dele cantando.

Ele ainda não sabia se podia perdoar seu tio, não depois de tudo o que aconteceu, mas isso não mudava o fato de que o amava, e que sabia que Nagato o amava também. Talvez fosse mais fácil aceitar tudo isso se não o amasse.

—Eu lembro quando ele comprou a moto.

A voz do pai parecia distante. Seu corpo tencionou e o fitou novamente. Os olhos dele estavam na chuva que escorria, perdido em memórias.

—Harley Davidson 1960. Ele tinha 16 anos. Seu avô que fez o negócio. Nagato tinha trabalhado para ele por verões inteiros tentando conseguir o dinheiro, vendeu o carro que os pais de Kushina haviam deixado para ele. Ainda assim, no dia o dinheiro não foi o suficiente, claro que não. Seu avô acabou pagando o resto e nunca disse nada a ele. Sua mãe... — Minato riu, uma risada embargada. Naruto fechou os olhos sentindo seu peito doer. Era a primeira vez que o ouvi falar de Nagato desde que tinha cinco anos. — Sua mãe ficou louca quando soube! Só o deixou em paz quando o levamos para a cabana e passamos dias o ensinando a pilotar bem, até ela ficar satisfeita.

SeachtOnde histórias criam vida. Descubra agora