A minha volta para casa foi gradual. Aos 11 anos eu já passava a semana em casa e os fins de semana na cabana. Geralmente eu tinha aulas com a vovó pela manhã, e passava as tardes com o daídi na agência, ou visitava mam no hospital quando as coisas lá não estavam muito caóticas.
Eu nunca ficava sozinho, nem quando eu queria.
Naquela sexta-feira eu arrumei minha mochila. Mam estava de plantão, então era só daídi e eu na casa. Assistimos um filme juntos, treinamos na academia no subsolo. Ligamos para mam antes de ir para cama, e falamos com o vovô sobre o que iriamos fazer juntos no final de semana. Era uma noite bem normal.
Até eu acordar no meio da madrugada com daídi entrando de uma vez no meu quarto, arma na mão, olhos azuis arregalados e ferozes.
Ele havia me fitado, visto minha confusão. E seu rosto havia ficado igualmente confuso.
— Você não ouviu? – Ele sussurrou.
— O que?
— O grito. Uma mulher gritou.
—Deve ter sido um sonho, daídi.
Ele não parecia totalmente convencido. Havia tanto receio no rosto dele. Aquilo sempre me deixou desconfortável. Quando eu via o quanto ele podia ser vulnerável.
—Ah, deve estar certo. – Ele franziu o cenho e coçou o pescoço sem graça. – Desculpa Naru. Pode voltar a dormir.
Os ombros dele estavam caídos, o rosto pálido. Os olhos azuis ainda pareciam grogues, procurando ao redor.
—Pode dormir comigo, daídi?
Vi alívio no rosto dele.
—Ah, se você realmente precisa.
Eu assenti de forma séria, batendo a mão no lado da cama. Pegamos mais lençóis e logo ele estava deitado, o corpo relaxando novamente aos poucos. Ouvi o resmungo e a risada quando joguei outro lençol por cima dele.
—Eu sou o pai, não ao contrário, seu moleque.
—Então coloca o pé debaixo da coberta direito. Escovou os dentes?
Ele jogou um travesseiro na minha cara, e senti alívio quando ele finalmente riu. Só um pesadelo, eu pensei.
Eu não havia ouvido nada. Nenhum grito, nenhum aviso. No outro dia daídi ainda parecia tão cauteloso, seus olhos distantes. O abraço dele quando me deixou na cabana foi mais longo, como se não quisesse me soltar.
No final daquele dia vovô estava morto.
FORA O TOM DA VOZ DA SUA MÃE PELO TELEFONE QUE ALERTARA MINATO. As ligações de Tsunade não eram incomuns, mas desde que o neto fora enviado para o internato, andara recebendo um gelo de desaprovação. Uma ligação assim, em si, já era uma surpresa.
O tom urgente, o comandando a ir à sua casa, era uma preocupação. Por isso, largara tudo no trabalho, desmarcara todas as reuniões, ligara pra Kushina dizendo que iria visitar a mãe para o jantar, e apenas pegara a estrada.
A casa lhe dava nostalgia. Era pequena, em um bairro de casas todas iguais. Dali, podia ver parte do parque onde brincara quando criança, e o balanço no jardim, que fora seu, e depois de Naruto sempre que vinha ali. O lugar onde crescera, e que mesmo depois de ter ficado bem de vida, sua mãe voltara após a morte do marido.
Havia o velho Del Rey na frente, e, estranhamento, uma motocicleta desconhecida estacionada. Saiu do carro e a viu de imediato. Sua mãe o esperava na entrada, o rosto sério. A olhou alarmado, as ela apenas entrara, o comandando a segui-la. O fez, sentindo o cheiro conhecido do perfume dela pela casa e dos incensos. Estancou apenas ao chegar na sala de visitas e ver que não estavam sozinhos.
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Seacht
FanfictionQuatro almas presas em um ciclo vicioso que começou na Irlanda centenas de anos atrás. Aquela era a sétima chance. A sétima e última chance. [Escrita em parceria com escritora Bya]