Dos sete aos onze anos eu treinei, todos os dias, tudo para que me sentisse seguro novamente. Para que nunca mais me sentisse fraco e vulnerável.
Eu passava horas na floresta com o vovô, às vezes dormíamos por lá.
Aos oito anos eu podia sobreviver e me orientar em praticamente qualquer lugar nas montanhas.
Aos nove anos eu tinha aprendido artes marciais com os melhores e manuseava armas brancas.
Aos dez eu comecei com as armas de fogo e os jogos de estratégia.
Aos onze, com o corpo do meu avô nos meus braços, eu me dei conta que não seria o suficiente.
Eu nunca me sentiria seguro novamente.
— O QUE FICARAM FAZENDO NO QUARTO?
Pela terceira vez Gaara lhe perguntava aquilo, com aquele olhar acusatório no rosto. Naruto se sentiu como se estivesse em um interrogatório.
Passou as mãos pelos cabelos tentando disfarçar, sem graça com toda a situação, como todo aquele escrutínio.
Estavam no quarto de Gaara, sentados um ao lado do outro na cama dele. O quarto era igual ao seu, com exceção de alguns objetos pessoais de seu colega de quarto. Pôsteres de luta, vários prêmios expostos em prateleiras e cores extravagantes. Naruto olhou levemente divertido e curioso para isso. Havia se deparado com Rock Lee algumas vezes, haviam lutado no tatame também — antes de ser banido das aulas — e o outro adolescente havia limpado o chão com seu corpo. O garoto era incrível em artes marciais, tinha que admitir. Embora fosse um tanto excêntrico.
Olha quem fala.
Morra.
Gaara não tinha nada ali que mostrasse que ocupava o lugar. Nenhum enfeite, livros, fotos, pôsteres, tênis jogados, nada fora do lugar que denunciasse que ali vivia um adolescente de dezessete anos.
Aquilo sempre lhe deixava triste. Isso e a forma impessoal com que a irmã dele o tratava ao passar por ele, o evitando. Sabia que havia história ali que não sabia ao certo, mas sentia raiva por ela não vier a pessoa incrível que tinha nas mãos.
Naruto daria de tudo para ter Gaara como um irmão e ela simplesmente o ignorava. Embora de uns tempos para cá ele ter admitido que as coisas estavam melhorando, que ela estava tentando se aproximar, Naruto sabia que tudo estava longe do ideal. Gaara merecia muito mais do que isso.
—Naruto?
— Hn? Ah, nada de mais, só conversamos e ele pediu desculpas.
— Uchiha Sasuke pediu desculpas? — Perguntou incrédulo. — Aliás Naruto, o que aconteceu?
— Aah... — Se jogou para trás, se deitando na cama macia do outro, sentindo o cheiro bom que impregnava aquele pedaço do quarto. Cheiro de casa. — Foi uma brincadeira nossa, idiota, mas tudo bem, não quero mais falar disso. Já basta os infelizes que nunca mais me deixarão em paz.
Gaara deu de ombros, se recostando na parede, puxando os pés do outro garoto para seu colo, começando uma massagem lenta no pé direito. O toque foi tão natural que sorriu. Semanas atrás Gaara não parecia muito certo em como se mover ao redor de Naruto e agora esse simples ato parecia reflexo para ele.
Naruto suspirou e jogou o braço esquerdo sobre os olhos.
— Você está muito tenso, só relaxe.
Ele não precisou pedir duas vezes, pois em minutos já ressonava na cama.
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Seacht
FanfictionQuatro almas presas em um ciclo vicioso que começou na Irlanda centenas de anos atrás. Aquela era a sétima chance. A sétima e última chance. [Escrita em parceria com escritora Bya]