Tráma

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Avisos: Cenas de abuso infantil, estupro, pedofilia e violência física

Diz a lenda que quando uma fada nasce deformada, as fadas entram na calada da noite e a trocam por um bebê humano. Esse bebê fada era então chamado changeling. Um changeling geralmente trazia calamidade e tristeza para dentro de uma casa.

Meu avô dizia que nos velhos tempos esse mito era forte o bastante para muitas crianças inocentes, que nasciam com deficiência, serem mortas. Bridget Cleary foi uma mulher que foi brutalmente assassinada pelo marido, que disse que ela havia sido trocada pelas fadas. Com um tempo e maturidade eu consegui entender a razão desse mito: uma forma de disfarçar a crueldade do ser humano; quando eu era menino ainda não tinha essa percepção. Por isso, quando eu vi a tristeza nos olhos do meu pai, o choro da minha mãe enquanto me abraçava forte antes de me deixar com meu avô, eu acreditei que eu era um changeling. Eu havia trazido tristeza e calamidade na vida da minha família. E por isso eles estavam me abandonando.

Por isso eu rezei para as fadas virem me buscar e deixarem o verdadeiro Naruto com eles. Eu não queria mais deixar ninguém triste.

Elas nunca vieram.


O CHEIRO DE HOSPITAL IMPREGNAVA AQUELE QUARTO TÃO FORTEMENTE QUE FORÇOU OS SENTIDOS PARA IGNORAR AQUILO. O quarto era completamente branco, no teto uma luminária simples sustentava a fluorescente, ao lado esquerdo da cama uma poltrona escura, e alguns equipamentos eletrônicos que monitoravam a pulsação do garoto na cama.

Do outro lado da cama, havia um pendente com os sacos de sangue e soro, ambos guiados pela agulha intravenosa até o braço de Naruto.

Sasuke se aproximou devagar da cama, sentindo o coração apertar com a visão que teve: Naruto, com o rosto inchado e vermelho em alguns lugares, e uma equimose na bochecha, pela gola de sua camisola da qual Itachi ou Kimimaro deviam ter colocado via as marcas vermelhas e nítidas de mãos.

"Ele foi enforcado."

Seu ombro esquerdo e provavelmente seu torso, pela altura, devia estar enfaixado. O resto do corpo estava coberto por um lençol fino e branco, deixando somente o braço direito, com a mão recém operada a vista. Mas o que lhe não lhe fugiu à vista foi, além das olheiras horríveis, a expressão cansada de Naruto, mesmo desacordado. Não havia a paz comum em pessoas inconscientes. Ele parecia completamente exausto de tudo.

E aquilo era assustador.

— Naruto... — sussurrou, hesitando em tocar de leve os dedos gelados que fugiam ao curativo. — Eu queria ter chegado antes, desculpe...

Mordeu o lábio, tendo como resposta o silêncio, que somente era quebrado pelos sons das máquinas. Sentia-se atordoado com tudo o que havia acontecido, o modo em que havia o encontrado, tudo o que aconteceu depois. Parecia um pesadelo de que iria acordar a qualquer instante.

Não conseguia esquecer, agora, o modo como sabia exatamente como encontrá-lo. Ele havia ouvido o chamado dele, alto e claro, embora estivesse do outro lado do prédio.

Tudo aquilo estava o deixando confuso demais.

Agora que o risco maior parecia ter passado, ele conseguia sentir algo a mais além de confusão e desespero: puro ódio de seu tio.

Obito havia passado dos limites, de várias formas, e havia o surpreendido. Não esperava aquilo dele, nunca, mesmo desde pequeno quando tiveram suas rixas, nunca imaginou que ele seria capaz daquilo. Algo tão sujo, tão nojento, como um estupro, algo digno de um monstro.

Nunca na vida desejou tanto matar alguém como desejava matar seu tio agora.

E aquilo, também, era assustador.

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