Capítulo 25 - Lia

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Contar sobre a minha família me machuca demais, é um segredo pessoal meu, mas agora ele não parecia tão pessoal assim. Então comecei a contar:

- Antes dos meus seis anos, eu era muito feliz com a minha família. Fazíamos acampamento na floresta, dormíamos sobre o céu estrelado contando histórias. Meu irmão tinha doze anos e me amava muito, brincávamos, cantávamos e às vezes até implicava comigo, mas me fazia sorrir logo em seguida. Nossos pais nos davam mais atenção, mas isso mudou quando eu tinha seis anos e meu irmão treze. Meus pais brigavam muito, sempre trabalhavam e não saíamos mais juntos. Meu irmão começou a se distanciar da família por causa de influências erradas, começou a vender drogas, só que isso foi por pouco tempo, depois ele começou a ingerir drogas e isso foi fim do Lucas que eu conhecia. Ele tomava bebidas alcoólicas e chegava mal em casa, eu ficava pedindo pra ele brincar comigo e parar de fazer as coisas erradas que ele fazia e ele bateu em mim. Ele já estava entrando no vício aos treze anos e agora é um alcoólatra!

- O que seus pais fizeram?

- Eles levaram ele pra um psiquiatra mesmo contra a vontade dele, Lucas tinha que tomar os remédios corretamente e ir toda semana no psiquiatra. Meus pais não podiam levar ele a maioria das vezes, então quem tinha esssa função era o motorista da casa, só que o coitado não podia obrigar o Lucas a ir em algum lugar. Meu irmão só ficou no tratamento por um mês e depois não tomou mais remédio nenhum. Meus pais pediam pro Lucas mudar, mas como isso não aconteceu, aos seis anos eu tive que ir morar com a minha tia. Meus pais sempre mandavam muito dinheiro pra ela, mais do que era necessário e isso devia ser para o meu conforfo, mas eu não tive esse conforto. A mansão em que ela vivia era bonita, só que eu não tive as mesmas mordomias. Eu tive que dormir em um quarto mofado, os móveis eram velhos, o armário estava sujo e cheio de caixas em cima. O quarto estava cheio de caixas no chão e as janelas eram sujas, não tinha cortina e o sol sempre me acordava de manhã. Tinha uma cama simples, o lugar que eu ía dormir era muito diferente do quarto que eu tinha na minha casa, mas não foi com isso que eu me importei.

- Eu teria me importado e muito. - Jonatan ouvia atentamente tudo o que eu dizia.

- Aquela casa tinham regras que eu deveria cumprir, acordar todos os dias 6:00 horas e ir pra escola, quando eu chegasse eu tinha que ajudar nas tarefas de casa mesmo tendo empregada, depois eu podia ficar na sala ou no meu quarto mas eu nunca podia ir nos outros quartos. A casa era bonita, menos o meu quarto, da comida eu não posso reclamar porque eu comia a mesma comida que a deles. Minha tia era uma pessoa fria e eu era alegre e vivia saltitando pela casa fui proibida até de fazer isso, não podia correr dentro de casa e nem no jardim. Amigos em casa? Nunca, eu tinha que ir na casa deles. Mas o que eu mais me magoei foi a minha tia não ter me dado carinho, não recebia abraços e nem incentivos dela. A empregada era a minha única amiga e eu gostava de ajudar na casa, pedi pra ela me ensinar a fazer comida com oito anos e adorei. Meus pais no início me visitavam toda semana, mas isso não durou um mês. Logo, eles só vinham me visitar de dois em dois meses e teve vezes que demorou mais do que isso, eu chorava de saudades da minha família e minha tia dizia "Engole esse choro" ou então "Se não parar de chorar, aí eu vou te dar um motivo pelo qual chorar". Ela nunca me bateu, mas me chacoalhava e segurava muito forte o meu braço. Eu passei a levar suas ameaças muito a sério e não desobedecia. Eu falava pro meus pais que minha tia era fria e como eu era tratada, mas minha tia dizia que eu merecia por fazer coisas erradas, aí meus pais achavam que eu merecia e me exigiam ótimas notas e comportamento. Enquanto eu estava sofrendo de um lado, meu irmão sofria de outro, mas o sofrimento dele era muito diferente do meu. Minha mãe dava muito amor e carinho pra ele achando que assim resolveria o problema, mas só piorou, meu pai falava pra ele que estava errado, que não podia fazer isso e aquilo, tentavam disciplinar ele da maneira deles, mas Lucas era indomável. Minha tia fezlimente não era ladra, o dinheiro que meus pais davam pro meu conconforto, apesar da maioria das vezes não chegar nas minhas mãos, ela sempre colocava na minha conta no banco, mas depois eu devolvi esse dinheiro para os meus pais.

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