Capítulo 16

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O caminho de volta, Savannah dormiu novamente. Ela se aconchegou no banco do carro, em paz, agora que sabia o porquê que sentia ânsia de dormir quase o dia todo. Os motivos estavam ali, sendo gerados dentro dela.

Então sonhou com duas crianças lindas, os cabelos negros como os de Jonathan e os olhos verdes exatamente iguais os dele. Elas corriam pelo campo atrás de um pequeno labrador, que mantinha a língua para fora, ofegante, mas que tentava de qualquer modo manter os pequenos brincando. Jonathan a mantinha entre suas pernas e a rodeava com os braços, sorrindo amplamente ao olhar os filhos. As flores exalavam um perfume maravilhoso na primavera. Ela admirou o céu, azul como os seus olhos e então ouviu o riso de Giovana. A garota estava mais velha, mais madura e Leo a levava nas costas. Encostou a cabeça no peito de Jonathan, que a recebeu de bom grado, beijando-lhe a face a todo momento e dizendo o quanto estava feliz e o quanto a amava.

- Savie...Savannah! – Uma voz a chamou de longe.

Ela abriu os olhos. Ainda estava no carro e já havia anoitecido. Viu a placa que mostrava a entrada da cidade e suspirou. Dean a olhou preocupado, chamando-a mais uma vez.

- Está tudo bem? Você estava chorando. – Falou ele, enquanto voltava sua atenção ao transito.

Ficara preocupado, já que Savannah estava dormindo e de repente começara a sorrir durante o sonho e do nada as lágrimas lhe vieram a face.

- Chorando? – Disse confusa e tocou o rosto, sentindo a umidade. Ela sorriu tristemente. – Era um sonho...um sonho bom. Queria que fosse verdade. – Fungou e voltou a olhar a estrada. – Pode parar na igreja, por favor? Quero fazer algo antes de ir pra casa.

Dean apenas assentiu, sem mais perguntas. Ela não lhe devia respostas.

- Vou esperar você aqui. – Falou Dean, enquanto ela saia do carro.

Savannah apenas assentiu, e subiu as escadarias devagar, apreciando a privacidade.

O médico recomendara menos esforços, mas ela tinha que fazer isso.

A pequena igreja estava deserta. Haviam velas acesas em uma mesa, formando um pequeno altar. Ela andou devagar pelo corredor, tocando os bancos de madeira com carinho. Ao chegar no altar, ela se ajoelhou na pequena almofada vermelha de veludo. Ascendeu uma vela e uniu as mãos, com o olhar focado na cruz de madeira pregada no alto da parede.

- Senhor, eu sei que eu não tenho sido muito assídua, mas ainda me considero sua filha. Creio que sou uma pessoa boa, que nunca fez mal a ninguém, mas que infelizmente coisas ruins aconteceram. – Mordeu os lábios, apreensiva. – Não sei como fazer isso, então falarei da maneira que acho correto. – Respirou fundo, se preparando. Era uma tarefa relativamente fácil, aquela de falar com Deus. Mas ela havia perdido a prática e se sentia um pouco envergonhada. – Primeiro, obrigada pelos milagrinhos que eu estou carregando aqui. – Colocou a mão sobre a barriga. – É mais do que eu poderia imaginar, muito mais. Mas eu, com todo egoísmo de um ser humano, também quero te pedir que... – Ela uniu as mãos novamente, apoiando a cabeça sobre elas. As lágrimas grossas já corriam em seu rosto sem parar. Seu choro saia misturado com as palavras. Era de doer o coração, para qualquer um que visse. Até mesmo Dean, que a observava com uma expressão desolada na porta. – Por favor, por favor, que Jonathan não reaja mal a isso. Que ele possa amar os filhos, assim como eu. Que ele não os rejeite, porque se isso acontecer...se ele falar algo e ameaçar a vida dessas crianças...eu temo que eu nunca mais irei perdoá-lo e eu não posso viver esse sonho sem ele. – Ela se quebrou em soluços altos e inexprimíveis.

Dean apenas a segurou pelo cotovelo, levantando-a com cuidado. Temia que toda aquela emoção fosse forte demais para Savannah e lhe fizesse mal. Ela aceitou o cuidado do amigo, olhando mais uma vez para a cruz, enquanto era guiada por Dean para fora da igreja.

Em Nome da Dor - Livro 2 (Série Em Nome do Amor)Onde histórias criam vida. Descubra agora