Aquele que nunca viu a tristeza, nunca reconhecerá a alegria.- Khalil Gibran
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Ao terminarmos o café Zara e eu fomos para outra varanda que ficava ainda mais alta, escondida por entre as folhas da copa da árvore. Daquela varanda era possível se ver toda a floresta e as montanhas distantes após ela, também, um pouco antes das primeiras montanhas, era possível se ver a silhueta do que se parecia a ponta de uma alta torre. Aparentemente havia ali um castelo. Supus rapidamente ser o castelo do reino de Anara.
Zara sentou-se em um sofá. Feito de quê? Obviamente de flor. E eu me sentei em um outro idêntico, ao lado dela.
Foi então que, de repente, uma curiosidade me aflingiu. Onde estão os pais da Zara? Por que ela mora com sua vó em uma "casa na árvore" em meio a uma floresta e não com eles?
Seria indelicado perguntar? Nós nem se conhecemos direito, e tenho medo de ser algo pessoal demais e acabar deixando-nos em uma situação estranha.
__ Ayla?/Zara? - falamos juntas.
__ Pode falar primeiro Zara. - sorrio para ela, indicando que fale.
__ Me perdoe se eu estiver sendo intrometida, mesmo que eu realmente seja um pouco, mas é que eu estou me perguntando já faz um tempo... por que você começou a chorar hoje cedo? Se não quiser responder não precisa, eu vou entender, porém eu gostaria de saber.
__Bom. Essa não é uma pergunta difícil de responder, foi só que, por algum motivo eu me lembrei dos meus pais adotivos e acabei me deixando levar pelos sentimentos. - respondo enquanto mexo na saia de meu vestido.
__Você está sentindo falta deles?
__Também, mas é que eu me peguei naquele momento pensando em como seria a minha vida se eles não tivessem morrido...
__Para! Para! Para! Eu estou confusa agora, seus pais estão mortos? - a Zara fala dando um pulo de seu assento e me olhando confusa. Por um segundo tive vontade de rir de seu jeito engraçado e exagerado, mas a verdade me aflingiu rápido demais para que eu pudesse me conter. Ao lembrar do motivo das minhas lágrimas de cedo.
__Não... por favor não me julgue Zara, mesmo que eu mereça isso... mas é que na verdade eu os... eu os... - uma lágrima escorreu pelo meu rosto e mesmo com minhas palavras confusas a Zara entendeu o que eu dizia.
__Ayla, isso é sério? Me conta isso direito, começa do começo, pelo amor da santa luazinha. - ela pediu se ajoelhando em minha frente e pegando minhas mãos em meu colo. Com uma expressão preocupada.
__Está bem, eu conto. - respiro fundo. - Tudo começou quando eu acordei no orfanato...
Contei tudo o que aconteceu na minha vida, desde o orfanato até o meu suicídio. Contei como eu era feliz, como minha vida um dia foi boa. Contei sobre como acabei matando meu pai e, consequentemente, minha mãe também. Contei como eu sofri nas mãos dos alunos e professores da nova escola, como era solitária no orfanato. Contei da minha "amizade" com o Henri e de como, sem nenhuma pena, ele me abusou e humilhou. Contei sobre como isso me machucou e me levou a chegar de vez ao fim de qualquer vontade de continuar ali, naquele mundo, me levando a pular naquele lago congelado. Falei para a Zara até mesmo de como eu senti paz enquanto afundava nas águas congelantes do lago, olhando para a grande e maravilhosa lua que me acompanhou até meu último segundo. Segundo esse que surpreendentemente não foi o último, no final das contas.
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A Filha Da Lua, a Princesa Perdida (EM REVISÃO) - Livro 1 Trilogia Universo
FantasyJá parou para pensar o quão estranho seria se o mundo que conhecemos fosse muito além de tudo o que sabemos? Para Ayla esse pensamento nunca sequer teria passado por sua mente, afinal, sua mente há muito tempo havia se afundado em medos e rec...