Não adianta de nada tentar refazer o mundo com um monte de "se" , o que está feito, está feito....
Joguei-me da ponte e em momento algum senti arrependimento de estar tirando minha vida.
Eu senti meu corpo chocando com a fina camada de gelo sobre o rio, senti ela se despedaçar e deixar meu corpo afundar nas águas do rio. Rio esse que imagino que amanhã estará cheio de curiosos e pessoas fingindo estarem preocupadas comigo. Lamentarão a minha perda, dirão que fui inconsequente por ter me matado e que tinha um longo futuro pela frente, uma semana depois já terão esquecido que um dia eu sequer existi.
Talvez seja melhor assim, pelo menos ninguém irá sofrer por mim.
Estranhamente não houve comigo o que todos dizem acontecer quando estão a beira da morte, eu não tive um "flashback" de toda a minha vida, pra falar a verdade, eu nem queria ter. Não queria relembrar todos os momentos que passei sendo maltratada por aqueles que eu era obrigada a ver todos os dias, sendo maltratada por aquela que um dia eu chamei de mãe, ou lembrar do fatídico dia em que de algum jeito eu matei meu pai. Meu querido pai, acho que ele era uma das únicas pessoas que um dia eu realmente amei, talvez lembrar-me de todos os momentos que passei com ele não seria uma coisa tão ruim.
Passei os últimos segundos que me restavam de fôlego olhando para a lua, e consequentemente para o meu colar que estava flutuando logo acima de meu rosto, ele havia se soltado de meu pescoço em algum momento, ergui o braço tentando o pegar, com medo de perder a única coisa que me acompanhou desde o início.
Estranhamente me veio na mente a imagem da mulher que eu via em quase todos os meus sonhos. Sempre me perguntei quem seria aquela mulher, não era possível ser somente um ser da minha cabeça, não, eu via algo de familiar nela, não iria sentir-me tão bem perto de um ser imaginário, eu acho.
Senti minha respiração se ir, e a água gelada do lago invadir meus pulmões, os preenchendo. Eu estava me afogando. Senti meus sentidos começarem a me abandonar, não havia mais frio ou calor, nem medo ou tristeza. Finalmente tudo iria acabar, senti que estava... morrendo.
...
Zara
(Do outro lado do universo)
__Aaaarg! Que preguiça! Num vejo a menor necessidade de irmos à gruta hoje. - me lamento pela provável vigésima vez, enquanto me apoio em uma das árvores de tronco e casca grossos, me abanando. Hoje o dia está mais quente do que o normal, tudo o que eu queria era aproveitar a tarde no lago.
Ravi, que andava um pouco mais à frente, para e me olha revirando os olhos antes de bufar irritado. Seus longos cabelos loiros, presos no alto da cabeça, já começam a se soltar. Se eu estiver tão desgrenhada quanto ele devo estar horrível.
__Para de reclamar Zara, nós só vamos lá uma vez na semana e nem é tão longe assim, e se eu ouvir mais um lúmurio seu juro que te deixo aqui sozinha com o seu "ótimo" senso de orientação. - dou a língua para o Ravi já me desencostando da árvore, é irritante quando ele está certo e tem bons argumentos. Ainda assim estou afim de infernizar a vida de alguém hoje, e como estamos em uma floresta e ele é o único em um raio sei lá quantos quilômetros só me resta ele.
__Mas Rah, nós vamos lá toda semana desde que nos conhecemos por gente! - faço meu drama enquanto me aproximo.
Na verdade eu não costumo ser tão irritante assim, irritante eu sou sempre, assumo, mas não nesse grau. O motivo de estar assim é por ter sido tirada de um sonho maravilhoso com o rapaz bonitinho da loja de poções do reino, logo na hora que iriamos para os momentos marcantes do sonho.
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A Filha Da Lua, a Princesa Perdida (EM REVISÃO) - Livro 1 Trilogia Universo
FantasíaJá parou para pensar o quão estranho seria se o mundo que conhecemos fosse muito além de tudo o que sabemos? Para Ayla esse pensamento nunca sequer teria passado por sua mente, afinal, sua mente há muito tempo havia se afundado em medos e rec...