Ângela P.O.V.
Era difícil vê-lo deitado numa cama, com as mãos frias e sem expressão no rosto. Aquilo doía no fundo da minha alma. Mas de tanto pedir e orar para Deus, ele despertou e a alegria me contagiou.
Foi complicado assumir a tarefa de contar para ele o que ocorreu, mas é assim que ajudo minha mãe no hospital no tempo livre, com um sorriso sereno no rosto e toda sinceridade e compreensão. Sabia que ele poderia se lembrar dela, só que mesmo assim insisti em entrar lá e falar com ele.
Pior decisão, sim ou claro?
Estava parada no corredor do quarto dele, esperando ansiosamente minha mãe terminar de falar com ele e vir me dar informações mais concretas, e isso demorou cerca de vinte minutos.
Henrique: Toma. - pronunciou ao meu lado e me entregou um copo do Starbucks, com cappuccino.
Eu: Obrigada. - sorrio fraco e pego de sua mão.
Henrique: Sua mãe já terminou de falar com ele? - questionou.
Acha mesmo que ela já tivesse acabado, eu estaria parada ainda, sem falar com ela ou com ele? Que pergunta idiota!
Eu: Não. - rolo meus olhos.
Henrique: Aposto que será doloroso para ele daqui pra frente. - ressaltou.
Eu: Mas estaremos do lado dele. - digo impulsivamente, recebendo o olhar duvidoso do moreno. - Quer dizer, você estará, assim como aquelas pessoas que vieram visitá-lo.
Ele arqueia a sobrancelha não acreditando muito nas minhas palavras, só que ao abrir a boca para dizer mais alguma coisa, a porta do quarto é aberta revelando minha mãe.
Eu: Mãe. - exclamo e vou até ela. - Então, como foi?
Jaqueline: Complicado. - responde suspirando. - Ele não se lembra mesmo do que aconteceu há três semanas atrás, e pensou que Elena ainda estava viva. Contar isso aos pacientes nunca foi fácil, e com ele não foi diferente, ainda me parte o coração ver um adolescente tão bonito ter perdido o grande amor de uma forma trágica. - a mesma sorriu em meio a tristeza. - Agora tenho que ver outros pacientes. Cuidem bem dele. - depositou um beijo na minha testa e se retirou.
Eu: Você vai entrar? - indago, com uma vontade enorme que ele dissesse que não, só para mim poder ir em seu lugar.
Henrique: Se quiser entrar, vai lá. Vou ligar para Judete, informando que ele acordou. - justificou.
Eu: Tudo bem. - pulei de empolgação por dentro, mas me contive por fora.
Ele saiu em direção a área externa do hospital, enquanto adentrei o quarto outra vez. Ele estava sentado, encarando o chão, com talvez lágrimas caindo, já que o mesmo fungava algumas vezes.
Eu: Jhonatan, está tudo bem? - pergunto preocupada e me aproximo cautelosa.
Jhonatan: Huh... Si-Sim. - responde e seca seu rosto.
Eu: O que estava conversando com a minha mãe, se é que posso saber né? - digo e sento ao seu lado.
Jhonatan: Perdi a minha namorada, talvez pela segunda vez, pois nem me lembro de antes. - retornou a chorar.
Eu: Calma, vai ficar tudo bem, isso uma hora passa. - aconselho.
Jhonatan: Como você sabe? - me olhou com os olhos avermelhados.
Eu: Quantas pessoas importantes já perdeu?
Jhonatan: Duas. Minha namorada e minha mãe. - revelou.
Eu: Já perdi meu pai e meu irmão. Temos algo em comum. - brinco.
Jhonatan: Sinto muito.
Eu: Tudo bem, faz dois meses que isso aconteceu, e estou ótima. Superei essa fase. - dei de ombros, singela.
Tento distrair mais um pouco sua mente, que devia estar perturbada. Minha mãe mencionou que ele faria tratamento com a psicóloga particular do hospital, e esperava que ele aceitasse e se recuperasse.
(...)
Depois de muitos exames na tentativa de descobrir se aquela perda de memória era permanente ou passageira, se isso ocorreria todas semanas ou não, a médica Jaqueline decidiu liberá-lo, pois ele não aguentava mais ficar naquele lugar.
Jaqueline: Você terá que tomar os remédios no horário certo, terá também que vir às quartas - feiras passar pela bateria de exames, para certificar de que está tudo bem contigo, entendeu? - repetiu pela milésima vez.
Eu: Mãe, você já explicou isso. Ele já entendeu. - digo entediada.
Jhonatan: Faço das palavras da Ângela, as minhas. - sorriu divertido.
Jaqueline: Isso é um complô contra mim? - cruzou os braços.
Demos risada da reação dela e negamos, dando-lhe um abraço em conjunto. Jhonatan agradeceu ela pela estadia no hospital, e o ajudei a levar suas coisas até saída, onde um táxi o esperava.
Jhonatan: Obrigado, Ângela. - disse ao pegar sua mochila da minha mão.
Eu: Disponha. - sorrio. - Então, vejo você no colégio. E caso precise de algo, é só me telefonar.
Jhonatan: Valeu, você tem me ajudado bastante. - ressaltou e segurou nas minhas mãos.
Minha intenção era ser amiga dele, ser útil no que pudesse, só que cada vez mais meus sentimentos ocultos falavam mais alto, quase transparecendo para ele e estragando tudo.
Senti uma porção de borboletas na minha barriga, que me deixavam ansiosa e nervosa ao mesmo tempo. Era algo mágico e inexplicável.
Eu: Somos amigos, certo? Para isso que amigos servem. - pronunciou e solto vagarosamente minhas mãos das suas, mesmo uma parte de mim não querendo.
Jhonatan: Você é mais que uma amiga para mim, Ângela. Sabe disso. - tocou meu queixo e olhou em meus olhos.
Ele era tão apaixonante, me fazia delirar. Minha respiração ficou ofegante e pensava quando iríamos nos beijar. Só que então ele fez o que sempre fazia, abriu um sorriso estupidamente perfeito e me abraçou forte.
Jhonatan: Nos vemos no colégio. - acenou e entrou no veículo.
Céus, estava ferrada, fudidamente lascada, por estar gostando de Jhonatan Bertolini, quando o mesmo esta passando por uma fase tão delicada.
Respiro fundo e volto para dentro do hospital, indo até a recepção, onde estava minha mãe falando com a moça que trabalhava no balcão.
Jaqueline: O Jhonatan já foi? - questionou radiante.
Quem a visse daquela maneira, jamais acharia que ela entrou em depressão após a morte do marido e do filho, pois bastou muita terapia para se recuperar.
Eu: Sim. - assenti desanimada.
Jaqueline: O que houve, minha flor? - a mesma acariciou meu rosto.
Eu: Acho que gosto do Jhonatan, mãe. - desabafo.
Jaqueline: Isso é normal na sua idade...
Eu: Eu sei. - rolo meus olhos. - Mas sabemos o que ele acabou de sofrer, e talvez não tenha chances contra um antigo amor.
Jaqueline: Ei, as Brooks nunca dizem não antes de tentar.
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Olá, pessoal!
Aqui está mais um capítulo de O Inesperado, espero que gostem, fiz com muito amor e dedicação.
Se possível, votem e comentem.
Um beijo do coração, e até a próxima... 😘👽🌟
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O Inesperado (Em Revisão)
Teen FictionElena Bittencourt é uma adolescente de dezesseis anos que não leva uma vida muito boa. Há alguns meses ela se mudou para Califórnia, Estados Unidos, morando atualmente com sua melhor amiga, Judete. Ela mudou-se após conseguir uma bolsa de estudos n...