Cap. 70

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Ângela P.O.V.

Era difícil vê-lo deitado numa cama, com as mãos frias e sem expressão no rosto. Aquilo doía no fundo da minha alma. Mas de tanto pedir e orar para Deus, ele despertou e a alegria me contagiou.

Foi complicado assumir a tarefa de contar para ele o que ocorreu, mas é assim que ajudo minha mãe no hospital no tempo livre, com um sorriso sereno no rosto e toda sinceridade e compreensão. Sabia que ele poderia se lembrar dela, só que mesmo assim insisti em entrar lá e falar com ele.

Pior decisão, sim ou claro?

Estava parada no corredor do quarto dele, esperando ansiosamente minha mãe terminar de falar com ele e vir me dar informações mais concretas, e isso demorou cerca de vinte minutos.

Henrique: Toma. - pronunciou ao meu lado e me entregou um copo do Starbucks, com cappuccino.

Eu: Obrigada. - sorrio fraco e pego de sua mão. 

Henrique: Sua mãe já terminou de falar com ele? - questionou.

Acha mesmo que ela já tivesse acabado, eu estaria parada ainda, sem falar com ela ou com ele? Que pergunta idiota!

Eu: Não. - rolo meus olhos.

Henrique: Aposto que será doloroso para ele daqui pra frente. - ressaltou.

Eu: Mas estaremos do lado dele. - digo impulsivamente, recebendo o olhar duvidoso do moreno. - Quer dizer, você estará, assim como aquelas pessoas que vieram visitá-lo.

Ele arqueia a sobrancelha não acreditando muito nas minhas palavras, só que ao abrir a boca para dizer mais alguma coisa, a porta do quarto é aberta revelando minha mãe. 

Eu: Mãe. - exclamo e vou até ela. - Então, como foi?

Jaqueline: Complicado. - responde suspirando. - Ele não se lembra mesmo do que aconteceu há três semanas atrás, e pensou que Elena ainda estava viva. Contar isso aos pacientes nunca foi fácil, e com ele não foi diferente, ainda me parte o coração ver um adolescente tão bonito ter perdido o grande amor de uma forma trágica. - a mesma sorriu em meio a tristeza. - Agora tenho que ver outros pacientes. Cuidem bem dele. - depositou um beijo na minha testa e se retirou.

Eu: Você vai entrar? - indago, com uma vontade enorme que ele dissesse que não, só para mim poder ir em seu lugar.

Henrique: Se quiser entrar, vai lá. Vou ligar para Judete, informando que ele acordou. - justificou.

Eu: Tudo bem. - pulei de empolgação por dentro, mas me contive por fora.

Ele saiu em direção a área externa do hospital, enquanto adentrei o quarto outra vez. Ele estava sentado, encarando o chão, com talvez lágrimas caindo, já que o mesmo fungava algumas vezes.

Eu: Jhonatan, está tudo bem? - pergunto preocupada e me aproximo cautelosa.

Jhonatan: Huh... Si-Sim. - responde e seca seu rosto.

Eu: O que estava conversando com a minha mãe, se é que posso saber né? - digo e sento ao seu lado.

Jhonatan: Perdi a minha namorada, talvez pela segunda vez, pois nem me lembro de antes. - retornou a chorar.

Eu: Calma, vai ficar tudo bem, isso uma hora passa. - aconselho.

Jhonatan: Como você sabe? - me olhou com os olhos avermelhados.

Eu: Quantas pessoas importantes já perdeu?

Jhonatan: Duas. Minha namorada e minha mãe. - revelou.

Eu: Já perdi meu pai e meu irmão. Temos algo em comum. - brinco.

Jhonatan: Sinto muito.

Eu: Tudo bem, faz dois meses que isso aconteceu, e estou ótima. Superei essa fase. - dei de ombros, singela.

Tento distrair mais um pouco sua mente, que devia estar perturbada. Minha mãe mencionou que ele faria tratamento com a psicóloga particular do hospital, e esperava que ele aceitasse e se recuperasse.

(...)

Depois de muitos exames na tentativa de descobrir se aquela perda de memória era permanente ou passageira, se isso ocorreria todas semanas ou não, a médica Jaqueline decidiu liberá-lo, pois ele não aguentava mais ficar naquele lugar.

Jaqueline: Você terá que tomar os remédios no horário certo, terá também que vir às quartas - feiras passar pela bateria de exames, para certificar de que está tudo bem contigo, entendeu? - repetiu pela milésima vez.

Eu: Mãe, você já explicou isso. Ele já entendeu. - digo entediada.

Jhonatan: Faço das palavras da Ângela, as minhas. - sorriu divertido.

Jaqueline: Isso é um complô contra mim? - cruzou os braços.

Demos risada da reação dela e negamos, dando-lhe um abraço em conjunto. Jhonatan agradeceu ela pela estadia no hospital, e o ajudei a levar suas coisas até saída, onde um táxi o esperava.

Jhonatan: Obrigado, Ângela. - disse ao pegar sua mochila da minha mão.

Eu: Disponha. - sorrio. - Então, vejo você no colégio. E caso precise de algo, é só me telefonar.

Jhonatan: Valeu, você tem me ajudado bastante. - ressaltou e segurou nas minhas mãos. 

Minha intenção era ser amiga dele, ser útil no que pudesse, só que cada vez mais meus sentimentos ocultos falavam mais alto, quase transparecendo para ele e estragando tudo.

Senti uma porção de borboletas na minha barriga, que me deixavam ansiosa e nervosa ao mesmo tempo. Era algo mágico e inexplicável.

Eu: Somos amigos, certo? Para isso que amigos servem. - pronunciou e solto vagarosamente minhas mãos das suas, mesmo uma parte de mim não querendo.

Jhonatan: Você é mais que uma amiga para mim, Ângela. Sabe disso. - tocou meu queixo e olhou em meus olhos.

Ele era tão apaixonante, me fazia delirar. Minha respiração ficou ofegante e pensava quando iríamos nos beijar. Só que então ele fez o que sempre fazia, abriu um sorriso estupidamente perfeito e me abraçou forte.

Jhonatan: Nos vemos no colégio. - acenou e entrou no veículo.

Céus, estava ferrada, fudidamente lascada, por estar gostando de Jhonatan Bertolini, quando o mesmo esta passando por uma fase tão delicada.

Respiro fundo e volto para dentro do hospital, indo até a recepção, onde estava minha mãe falando com a moça que trabalhava no balcão.

Jaqueline: O Jhonatan já foi? - questionou radiante.

Quem a visse daquela maneira, jamais acharia que ela entrou em depressão após a morte do marido e do filho, pois bastou muita terapia para se recuperar.

Eu: Sim. - assenti desanimada.

Jaqueline: O que houve, minha flor? - a mesma acariciou meu rosto.

Eu: Acho que gosto do Jhonatan, mãe. - desabafo.

Jaqueline: Isso é normal na sua idade...

Eu: Eu sei. - rolo meus olhos. - Mas sabemos o que ele acabou de sofrer, e talvez não tenha chances contra um antigo amor.

Jaqueline: Ei, as Brooks nunca dizem não antes de tentar.

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Olá, pessoal!

Aqui está mais um capítulo de O Inesperado, espero que gostem, fiz com muito amor e dedicação.

Se possível, votem e comentem.

Um beijo do coração, e até a próxima... 😘👽🌟

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O Inesperado (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora