Cap. 68

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Jhonatan P.O.V.

Era torturante vestir um terno preto, se arrumar e manter-se produzido para o velório de alguém. Aquela não seria a primeira vez, pois já havia ocorrido o da minha mãe, mas pensei que demoraria mais para que o de Elena chegasse, e eu estivesse mais preparado.

Ela não deveria ter virado pó ou nem deveríamos estar colocado uma caixa fazia embaixo da terra, pois ela deveria estar viva ainda, do meu lado, me fazendo sorrir. E eu queria acreditar que aquele pesadelo era temporário, que estava sendo pego numa encenação, que ela aparecia a qualquer momento.

Quando o padre deixou de dizer tudo que era sua obrigação falar, os pais de Elena quiseram que eu fosse até o altar proferir algumas palavras. Por milésimos segundos pensei que estava alucinando com aquele pedido, pois eles ficaram tão chateados comigo de não ter contado sobre o sequestro antes, que talvez não me olhassem mais.

Eu: Bom, a maioria já deve me conhecer, né. Meu nome é Jhonatan Bertolini, o namorado de Elena, ou pelo menos era. - um frio percorreu meu corpo, causando-me arrepios. Suspirei fundo e tentei continuar. - Sabe, é engraçado como a vida pode nos surpreender. Quando conheci a Elena, por algum motivo que nunca soube explicar, odiava ela. Achava ela insuportável e implorava para que ela sumisse todos os dias do planeta Terra, mas quando me apaixonei por ela perdidamente, jamais quis que ela partisse. E olha só onde fui parar, no velório dela. - uma lágrima escorreu e relutei para que outras não caíssem. - Não devia ter escondido dos pais dela quando foi sequestrada, só eu fui egoísta o suficiente para querer achá-la sozinho, e foi a pior burrada que já fiz! - puxei meus cabelos frustrado comigo mesmo. - Vocês conheciam bem a Elena, não é? Devem saber como uma garota tão simples pode colorir a vida preta e branca de alguém, as coisas tão monótonas não existiam mais ao lado dela. Ela era incrível como pessoa, como amiga, como namorada e como filha, e sinto muito por quem não teve a chance de conhecê-la. - rolei meus olhos pelo salão, percebendo todos sorrirem em meio às lágrimas, emocionados com a minha sinceridade. - O inesperado acontece sem que possamos perceber, e podemos ter perdido ela fisicamente, mas ela permanecerá nos nossos corações ainda. E eu sempre, independente do que ocorra, ainda vou amá-la.

Todos podiam estar destroçados naquele dia, querendo amenizar toda a dor através das lágrimas, mas ainda assim se levantaram para aplaudir meu discurso. Fui até o caixão fechado, onde ao lado tinha um quadro com a sua foto. Ela sorria despreocupada com tudo, tão feliz, tão espontânea, tão sincera.

Eu: Isso é uma promessa, meu amor. - sussurrou e deposito um beijo na fotografia.

Em seguida desço do altar e volto para meu assento, ficando ao lado de Henrique. Ele deu um leve tapinha nas minhas costas, e disse que fui muito bem. Sorri fraco para ele e, direcionamos nossas atenções ao padre, que proferiu mais algumas coisas até que Renato, Edgar, Édson e eu pegássemos o caixão e levássemos ao local que seria enterrado.

Era de abalar ver Eduardo e Erick chorando sem parar, chamando pelo nome da irmã, na tentativa dela ouvir. Fui até ambos e peguei o mais novo no colo, deixando o outro abraçar-me com seus braços curtos.

Erick: Você também vai nos abandonar? - perguntou soluçando.

Eu: Não, é lógico que não. - digo convicto.

Eduardo: Vai visitar a gente? - questionou, com os olhos avermelhados.

Eu: Sim, sempre quando puder. - sorri e os envolvi em meus braços.

A família Bittencurt ainda me acolhia como membro, talvez fosse pena pelo que ocorreu, mas me sentia bem em fazer parte de um grupo de pessoas que gostassem da minha companhia.

Após a terra ser jogado por cima da caixa, todos se dispersaram pelo cemitério. Alguns foram embora, outros voltaram até a igreja, e poucos permaneceram no túmulo. Dona Glória levou os garotos para o carro, já que a chuva aumentava e eles podiam ficar resfriados.

Luísa: Sabe que temos que ir né? - pronunciou atrás de mim.

Eu: Daqui a pouco eu vou. - respondi sem olhá-la.

Luísa: Está com seu carro? - questionou.

Eu: Sim. - menti. Havia deixado no estacionamento do prédio, pois estava tão desnorteado que não sabia onde estava a chave dele para destrancar.

Luísa: Tudo bem. Estaremos reunidos na casa da Judete, caso queira comparecer. - avisou. - Fique bem, Jhona. - tocou meu ombro e afastou-se.

Me ajoelho em frente a lápide escrita Elena Bittencurt, boa filha e excelente pessoa (2001-2018). Deslizei meu polegar sobre seu nome, sentindo saudade dela. Faria três semanas que tinha visto ela, que ela havia sorriso para mim e me beijado. Ah, que vontade de sentir seus lábios de novo.

Sinto muito. Foi o que ouvi dizerem, logo atrás de mim. Olhei por cima do ombro, percebendo uma cabeleira castanho claro molhada devido a chuva. Meus punhos cerraram instantaneamente, e me levantei determinado a socá-lo.

Eu: O que você está fazendo aqui? - trinco os dentes.

Marcos: Henrique me contou o que houve com a Elena, jamais pensei que vocês dois estariam juntos e, sinto muito pelo ocorrido. Devia amá-la de verdade, apesar de duvidar bastante. - sorriu debochado.

Sério, naquele momento perdi o controle, minha mente foi tomada por uma frase somente: "O cara que a sequestrou chama Marcos, e acho que vocês são amigos..." O empurrei, enquanto despejava insultos.

Eu: Você matou a minha namorada! Você que explodiu aquele lugar, enquanto ela estava lá dentro! - soquei seu peito.

Marcos: Cara, não, eu não fiz nada disso. - defendeu - se.

Eu: Pare de mentir, descobri que foi você, Marcos. Fala a verdade!

Marcos: Não fui eu! - exaltou e segurou meus pulsos. - Acha que faria algo que ferisse você?

Eu: Aonde estava na semana passada, no dia quinze, sexta-feira? - indago.

Marcos permaneceu quieto, com uma expressão triste. Puxo meus braços que o mesmo segurava e me afasto, furioso por saber a verdade.

Marcos: Não, não é isso que está pensando. - negou.

Eu: Pensei que fosse meu amigo. - digo decepcionado.

Marcos: Quer mesmo saber aonde estava nesse dia? Tudo bem. Estava assaltando o mercado onde você estava! - ressaltou.

Arregalo meus olhos e olho perplexo para ele.

Eu: Você, o quê? - franzo a testa.

Marcos: Escuta, desde quando o ano acabou e você viajou, as coisas mudaram. Me meti com gente errado, cometi erros e me ferrei. O ápice disso foi assaltar um lugar onde você estava, e acabar atirando sem querer. Não foi minha intenção, Jhonatan.

Eu: Você conseguiu fuder sua própria vida, Marcos. - balanço a cabeça.

Marcos: Vai me dizer o óbvio? - debochou.

Eu: Vai para o inferno, imbecil! Você matou a minha namorada, você atirou em mim. Nunca mais olha na minha cara, Marcos. - dei passos pra trás.

Marcos: Jhonatan, cara, espera! Me perdoa! Me deixa explicar! - berrou, mas o ignorei.

Coloco as mãos no bolso do terno e caminho embaixo da chuva, sem me importar com um resfriado ou qualquer coisa. Só queria ficar sozinho, pensar e refletir, antes de cometer uma loucura.

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Olá, pessoal!

Aqui está mais um capítulo de O Inesperado, espero que gostem, fiz com muito amor e dedicação.

Se possível, votem e comentem.

Um beijo do coração, e até a próxima... 😘👽🌟

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O Inesperado (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora