As habilidades de costureira da princesa da terra eram excepcionais. Ela havia criado um conjunto completo de calça, blusa de manga cumprida, casaco e roupas de baixo para Alícia usando apenas a pele de alguns ursos velhos voluntários e grama fresca. Com os retalhos do vestido que a menina usava antes, Tâmara fez para si um casaco e uma saia nova, ambos elegantíssimos. As duas estavam sobrevivendo muito bem sozinhas e no frio. Alícia achava até que poderia ficar ali para sempre, se quisesse, mas ela tinha ideias. A província da terra e o resto de Érestha precisavam dela, e a única coisa que as impediam de voltar era um elfo raivoso. Reycaryn podia ser habilidoso, mas Alícia considerava-se melhor.
Em pouco mais de um mês, as duas fugitivas já haviam escapado de Reycaryn quatro vezes. Na última, Alícia teria conseguido acertar uma de suas facas na testa do elfo se Alfos não a tivesse agarrado para leva-la para longe. O dragão as deixou no topo da montanha mais baixa da cadeia de Argia, onde tinham disponível uma caverna acolchegante, grama congelada e uma visão incrível do por-do-sol. O único problema era que, em cima da caverna, um monte de neve fresca ameaçava cair sobre elas, então tinham que manter as vozes baixas. As duas já estavam ali ha mais de duas semanas, e a menina havia criado uma rotina para si mesma. Enquanto Tâmara plantava, colhia e costurava, Alícia caminhava pela neve funda e fresca para treinar. Havia um caminho de pedra que levava ao pé da monanha e ramificava-se por toda ela, acabando logo em frente à caverna. Ao fim do dia ela retornava com algum animal que dividiriam com Alfos e sentava-se junto da princesa para assistir ao último espetáculo do sol. À sua direita existiam as primeiras pontes de cristal das montanhas, e nenhuma se ligava à ela. À sua frente estava o mar, agitado no horizonte e congelado próximo à praia. Quando o céu tornava-se laranja o cristal e o gelo refletiam no mar e na areia, deixando tudo parecido com uma pintura.
Na décima nona noite Alícia lutou contra um alce e venceu. Ela teve muita difículdade em arrastar o animal até a caverna, mas pensou que a princesa e Alfos ficariam extremamente contentes em ter carne, couro e chifres para brincar. Amarrou seu cinto na cabeça dele e usou seu legado para empurra-lo pela neve. Aquela também foi a primeira noite em que ela percebeu que algo estava errado. Alfos não aparecia há mais de quatro dias, e ela percebeu uma agitação nas pontes mais próximas pela primeira vez.
-Sabe que dia é hoje? –Tâmara perguntou depois de elogiar o alce.
-Não tenho a menor ideia. Já estamos no inverno?
-Claro que não –a princesa riu. –Hoje é trinta e um de Outubro. Vai perder a festa da escola de seu último ano, uma pena.
-Não me importo –Alícia deu de ombros, voltando a encarar as pontes ao longe. –Alguma ideia de onde esteja mu dragão?
-Vamos guardar alguma carne para ele. Comece uma fogueira para mim enquanto penso o que fazer com esses belos chifres que me trouxe.
Alícia estava craque em fazer fogo com pedras e madeira. Construía uma cama de pedras frias e grama para isolar sua fogueira da neve e riscava uma pedra na outra até fazer faíscas. O algodão de suas roupas antigas ou até mesmo a grama seca que Tâmara fazia prduziam fumaça num instante. O pelo do urso polar também ajudava, mas ela não gostava de fazer furos em seu belo casaco feito à mão.
Elas assaram a carne do alce e esperarm que o cheiro de comida sendo carregado pela fumaça atraísse não só Alfos, mas o elfo também. Tâmara, quando ficava entediada, gostava de fazer tranças em sua guerreira. Naquela noite, enfeitou os cabelos rebeldes da brasileira com as pontas do chifre do alce, deixando-a com a aparencia de uma guerreira das neves, em suas prórias palavras. Alícia só podia ver seu reflexo em poças d'água, mas tinha medo de voltar a segurar um espelho e ter que se encarar. Ela acreditava na princesa.
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Érestha -Castelo de Ilusões [LIVRO 5]
Fantasy"Se não for leal à rainha o outro lado conseguirá o que quer." As palavras do Mago Roxo finalmente começam a fazer sentido após Dave descobrir e decifrar o enígma da rainha. Está em suas mãos decidir tomar seu lugar como soldado de Thaila ou lutar...