XXVIII -Dave

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Ele não sabia onde ficava o Vale do Inverno, e não tinha como saber se as passagens que davam na neve de Elói eram a tal cidade onde morava Francis. Riley estava desesperado, correndo sempre que viam neve para perguntar onde estavam para a primeira pessoa que encontrasse. Mesmo com um mapa e um objetivo na cabeça, Dave não conseguia encontrar o lugar. Eles perderam "precisos quarenta minutos", nas palavras de Riley, antes de afundarem em um monte de neve fresca e serem ajudados por um homem e uma pá de neve.

-Vale do Inverno –ele respondeu à pergunta de Riley, ajustando o capuz em seus cabelos. –O que estão fazendo aqui? Perdidos?

-Não senhor, isso é fantástico! –Riley comemorou, afundando até o joelho novamente. Dave revirou os olhos. Ele quase havia esquecido do porquê de querer achar Francis com a agitação de Riley tomando conta de sua atenção. –Para que lado fica a casa do Mago Roxo?

O homem levantou uma sobrancelha, olhando para os dois com desgosto. Apontou para a floresta e revirou os olhos.

-E por ali. Vão precisar da pá, acreditem –ofereceu o objeto a eles. -O velho maluco não é mesmo um mago, vocês sabem disso, não sabem, crianças?

-É claro que ele é –Dave o defendeu, pegando a pá do homem. –Eu já vi.

-Claro, claro –riu o homem. –Boa sorte, eu acho.

Ele saiu balançando a cabeça, rindo e resmungando sobre os dois. Provavelmente muitos vinham até ali tentar conversar com Francis. O velho era muito famoso. Em fato, Dave não conhecia mais nenhum mago vidente em Érestha.

-Vamos, Dave! –Riley apressou-o, caminhando floresta a dentro sem esperar pela pá. –Eu não...

-É, eu sei –Dave apressou-se para acompanhar o passo do amigo. –não tem muito tempo.

Os dois caminharam por mais alguns minutos, tentando não perder suas próprias pegadas para não ficarem presos numa floresta fria como aquela. Dave não estava agasalhado para o inverno, mas para o outono de Tâmara, que eram coisas muito diferentes. Ele esperava que Francis tivesse uma lareira e fogo aceso. Nem mesmo Riley sabia muito sobre aquele lugar. Ele conhecia a história e nada mais. Dave queria saber se aqueles grunhidos e rosnados raivosos que ouvia eram ursos ou lobos.

-Ali! Dave, olhe! –Riley exclamou, animado, apontando para uma única casa perdida em baixo de neve e árvores secas.

-Francis? –Dave gritou, aproximando-se. Ele bateu com a pá no telhado da casa e um monte de neve caiu, terminando de soterrar a porta de entrada.

-Fellows? –uma voz respondeu. De dentro da casa, Francis desembaçou uma das janelas e tentou olhar por cima de toda a neve. Os meninos tinham dificuldade de ve-lo, mas só conheiam uma pessoa que usava chapéu de caubói e mantos roxos dentro de casa. –Ora, o que fazem aqui? Entrem ou vão congelar.

Os meninos encararam-se e Riley deu de ombros.

-Vamos cavar, então –ele falou, dando alguns passos para trás.

Dave percebeu que estava trememndo de frio quando começou o trabalho. Riley estava agitado, pulando de um lado para o outro tentando ver dentro da casa do velho. O representante da rainha teve que cavar um caminho inteiro da porta até uma árvore para poder mover a neve para os lados e evitar que ela voltasse a cair infinitamente à frente à porta. Seu amigo ficou o tempo todo esperando, impaciente, e não ofereceu ajuda. Quando Dave constatou que conseguira aproximar-se o suficiente e não afundar, bateu três vezes na madeira.

-Entrem! –Francis gritou lá de dentro. –Fiquem a vontade, meninos!

Riley aproximou-se e girou a maçaneta. Empurrou a porta e deixou-a abrir-se por completo antes de dar um passo para dentro. Dave foi logo atrás, e permaneceu paralizado ao lado do amigo, observando a magia daquela singela casa soterrada de neve. O interior era imensamente maior do que o que se via por fora. Tão espaçoso para os lados que ele não via um fim; tão alta que ele via nuvens. Pássaros voavam por ali, protegendo-se do frio e da neve. Havia um sofá, um tapete e uma lareira dispostos em um ponto aleatório. Dave também via uma banheira, um fogão e uma cama. Se não fosse por isso, ele nunca teria dito que aquilo era uma casa, mas uma impressionante biblioteca infinita. As estantes de livros ocupavam boa parte do cenário, estendendo-se para cima para sempre, e Dave não enxergava o fim delas. Escadas de ferro presas a estas deslizavam para lá e para cá sem parar: um sistema automatizado para procurar pelo livro que queria encontrar. Se não estavam entupidas de livros, as estantes estavam repletas de frascos coloridos, esferas de cristal, objetos de cozinha e ninhos de pássaros. Francis estava no sofá, tomando um chá fumegante enquanto lia algum de seus milhares de livros.

Érestha -Castelo de Ilusões [LIVRO 5]Onde histórias criam vida. Descubra agora