XXV -Riley

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Ele estava tão ansioso correndo pela grama da escola em direção ao prédio vermelho que quase não notou Alícia sentada à uma mesa com Lilian. Da última vez em que olhara num relógio vira sete horas em ponto. Não sabia como conseguiria terminar tudo o que tinha que fazer até a manhã do dia seguinte e esperava poder acelerar os acontecimentos descritos no Livro da Rainha. Ele freou sua corrida de súbito e escorregou no gelo que começava a formar-se por causa do inverno. Só não caiu porque apoiou-se na mesa de um grupo de crianças. Acabou, porém derrubando as bebidas quentes deles, que fizeram o gelo chiar e virar fumaça.

-Desculpem-me –ele falou, voltando-se para as meninas. Não ouviu as reclamações das crianças –Lice, eu preciso te pedir um favor.

Ela já havia aberto a boca para começar a ataca-lo com perguntas, mas calou-se ao ouvir o apelido carinhoso pelo qual o irmão a tratava quando eram menores. Ele não a chamava assim se não tivesse um bom motivo. Nesse caso, ele queria distraír sua atenção dos mistérios daquela tarde e evitar muitas perguntas. Ele planejava ignorar o pedido de Dave de manter segredo de uma forma ou de oura, mas tinha pressa. A gêmea parou para prestar atenção, mas Lilian não.

-O que houve com você e Dave? –a menina dos longos cabelos ruivos perguntou. –Alguma coisa a ver com Bia?

-Não, com o Livro da Rainha –ele disse, depositando um beijo na testa da menina e puxando o braço da irmã na direção dos dormitórios. Olhou para a lua e deduziu que deveriam ser quase sete e meia. Talvez Alícia já tivesse sono, depois de um dia cheio de aulas. –Explico melhor mais tarde, eu preciso chegar à um lugar.

-Onde? –Alícia perguntou, deixando ser arrastada pelo irmão. –E onde eu entro nessa maluquice, Riley?

-Isabelle –ele sussurrou. –Preciso chegar até Isabelle.

Alícia parou, puxando-o para trás e encarando seus olhos para uma conversa que só os dois entenderiam. Ela estava dizendo que Riley sabia muito bem que ela não o levaria até DiPrata. Riley dizia que era importante.

-Muito importante -ele verbalizou.

-Eu dou os recados –ela disse. –Vocês me contam as coisas e eu repasso as informações. Ninguém mais vai lá. Por isso ela escolheu a mim e não mais ninguém.

-Lice, –ele falou, colocando as mãos no rosto dela –não tem como eu te explicar tudo em tão poucos minutos, e você não entenderia as respostas dela. Eu preciso falar com ela.

-Não vou fazer isso Riley. Até porque nem sei como fazer. É ela quem controla as entradas e saídas.

-Peça para ela –ele voltou a puxa-la, olhando da lua para a casinha azul com urgência, tentando calcular quanto tempo ele podia gastar. –Já está com sono?

A menina continuou a contestar, mas Riley não a deixou sair. Ele arrastou-a até o dormitório masculino que, por sorte, estava vazio para o jantar, e deitou-a em sua cama. Posicionou-se bem ao lado dela e fechou os olhos. Começou a murmurar uma canção que seu pai costumava cantar para Alfos acalmar-se e Alícia bocejou.

-Pare com isso Riley, não é assim que funciona. Eu não vou te levar até lá –ela protestou.

-Isabelle vai perguntar por mim –ele falou. –E eu tenho pressa. Durma logo e peça para ela ser rápida, por favor.

Ela bocejou mais uma vez e piscou mais do que o normal. Por mais que tivesse lido sobre o fato em diversos livros, Riley não entendia nada sobre como DiPrata transportava Alícia para lá ou sobre como a conexão existia. Imaginava, porém, que a maior fonte de energia para manter aquele lugar fosse o sono. A menina continuou a reclamar até perder o controle fechar os olhos. Riley ainda ficou ali ao lado dela por alguns minutos. Imaginou que s duas deviam estar discutindo sobre Bianca Vallarrica e o não-exílio de Tâmara. Então, começou a bocejar também, e dormiu.

Acordou tossindo e respirando uma névoa com dificuldade. Estava com muito frio e sentia-se estranho. Ao abrir os olhos ele viu uma imensidão branca, mas ainda sentia a cama nas suas costas e Alícia, quente, ao seu lado. Ele tentou esticar o braço para tocar a névoa mas não conseguiu se mexer.

-Esse foi o melhor que consegui fazer para manter os dois aqui ao mesmo tempo –uma voz explicou.

Duas figuras surgiram no campo de visão de Riley. Ele sentia-se impotente, mas não tinha medo. Sua irmã não estava feliz e sentia-se claramente contrariada. Isabelle sempre tinha a mesma expressão no rosto, e nunca estava impressionada com nada. Ela tinha cicatrizes novas desde quando eles se viram no Castelo de Cristal e seus cachos negros não tinham brilho nenhum. Contudo, sua postura e sua espada albina eram ameaçadoras o suficiente para fazer Riley querer distância.

-Isso deve ser bem cansativo –Riley comentou. –Mas não se preocupe, tenho que ser rápido.

-Alícia comentou qualquer coisa sobre isso –ela não estava mexendo a boca para falar. –Tanto aconteceu nesse último mês... O que mais devo saber além de Argia e os elfos e Bia, a lagartixa.

-Esse foi um ótimo plano, a propósito –o menino elogiou. –Bia adora sua nova habilidade. Mas, enfim, hoje Dave encontrou o enígma da rainha do qual Reginald Fellows e o Mago Roxo tanto comentavam.

As duas meninas tiveram exatamente a mesma reação. Arregalaram os olhos e deram um passo para trás, pasmas.

-São frases que a rainha Thaís deixou gravadas nos castelos dos filhos do rei –ele continuou. –Nos levarão até o corpo de Argia e ela voltará a ser forte.

-I-isso... –Isabelle olhou para o chão, pensativa. –Isso quer dizer...

-Que já está na hora –Riley completou. Ele tentou mexer o pescoço para sentar-se, mas sentiu o travesseiro de sua cama e ficou com medo de perder a conexão com Isabelle. A menina também parecia estar se esforçando muito para tê-lo ali, estirado no chão frio de seu pensamento. –Ele pediu para não contar a nenhuma de vocês duas, a propósito. Ao menos por hoje. Então, se puderem fingir... Ficaria agradecido.

-Como você sabe sobre os planos de Tabata? –Isabelle perguntou, desconfiada. Riley sabia que ela não gostava de trabalhar com a rainha do mal, e que tinha suas próprias ideias, via seu próprio futuro. Mas o tom de voz fora tão autoritário quanto o de Dave quando ele exigia respeito por Thaila Ele ficou assustado e quase questionou suas ações no primeiro segundo. Depois acalmou-se.

-O Livro, oras –ele explicou. –Eu sou o gestor, só estou dizendo a todos qual o próximo passo para que possamos andar para frente com toda essa profecia.

-Nós vamos começar com Tamires –Isabelle falou.

-Sei disso. Missie está lá essa noite por recomendação minha.

-Do que vocês dois estão falando? –Alícia aproximou-se do irmão. Ela também não mexia os lábios para falar e Riley sentiu-se enciumado. Era o único que podia ter uma comunicação não-verbal com ela. Não queria dividir aquilo com ninguém, especialmente com Isabelle.

-Da guerra, irmã –Riley falou. Tentou calcular mentalemnte quanto tempo já tinha se passado, e pensou que faltava pouco para as oito da noite. –Está na hora de começar a guerra, e é Tabata quem deve dar o primeiro passo. Se puder esperar até amanhã de manhã, seria ótimo, Isabelle. Eu ainda tenho muito o que fazer essa noite.

-Posso tentar, mas não garanto nada –ela deu de ombros. –São as indicações de Pedro... Continuem a informar-me sobre Bia, é importante que ela não seja uma idiota e traga os mercenários para o lado de Thaila. E que Dave consiga ser rápido também.

-É o que eu espero –ele concluiu.

Riley fechou os olhos e voltou a acordar em seu quarto. Antes mesmo de Alícia voltar a acordar do pesadelo, ele pulou para fora da cama e correu em direção à casinha azul. Dave provavelmente precisaria dele naquele instante, e ele não tinha tempo a perder.



3 coisas para dizer:

1- me desculpem por não postar na semana passada. eu sei, eu sou um lixo, foi mal.

2- To com raiva do MasterChef

3- Preciso urgente de férias

Érestha -Castelo de Ilusões [LIVRO 5]Onde histórias criam vida. Descubra agora