XLI -Alícia

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A manis bela princesa de Érestha estava irritada. E quando ela sentia-se desse jeito, era melhor que ninguém ficasse em seu caminho. Suas aias haviam desaparecido pelo castelo, estando, de repente, muito ocupadas com louça, banho, cama e mesa. Os guardas não se mexiam, como se fossem estátuas esperando para lutar e lutar somente. Fingiam que não ouviam os lamentos furiosos da princesa. Toda essa frustração era descontada em sua pobre representante Ana Vitória Alberton, que parecia muito acostumada e não demonstrava estar abalada. Alícia Weis e Lilian, por outro lado, queriam correr junto das moças da limpeza e ocuparem-se de alguma tarefa banal. Elas não podiam revirar os olhos e nem fingir que não ouviam. Tinham que obedecer e concordar e aguentar a loucura dela. Depois de meia hora naquela tortura de gritos e coisas sendo quebradas e aves irritadas invadindo a sala do trono para reclamar junto de sua senhora, Alícia queria ir pessoalmente até Gary DiPrata e arrasta-lo pelas orelhas até o Castelo de Marfim.

-Meus súditos estão me deixando! –ela gritou pela décima nona vez. –Os animais são mais fiéis do que os homens, EU DETESTO TODOS ELES! O que foi que eu fiz de errado, Vitória? Me diga! Por que todos estão me deixando? O que a província de minha irmã tem que eu não tenho?

A marca de protetora no braço de Alíca só contribuia para que ela sentisse-se mais desconfortável. A irritação da prinesa era transmitida por ali e chegava em Alícia numa forma física, não só visual ou auditiva. A menina já não aguentava mais ouvir Tâmara reclamando, lamentando-se e brigando com tudo e com todos, mas tinha medo de virar o alvo se a fizesse sentir isso tudo também através da marca.

-Eles só estão assustados, senhora –Ana Vitória respondeu, casualmente checando alguma anotação em sua prancheta como se passasse por aquilo todos os dias. Alícia não ficaria surpresa se fosse o caso, na verdade. –A província da rainha é cheia de guardas e foi o lugar mais seguro de se estar no passado, na última guerra. Só querem segurança.

-E eu não lhes ofereci segurança? –ela gritou mais uma vez. As araras e cacatuas que tinham entrado para assistir ao show de fúria de sua senhora gritavam junto dela, agravando a barulheira e comoção. Os filhotes de lobo e urso uivavam e alguns insetos coloridos escalavam as paredes e as pernas de Alíca conforme a confusão aumentava. Tâmara arrancou seu próprio colar e jogou-o no chão, quebrando os adornos de vidro e espalhando pérolas por todos os lados. –Estão sugerindo que minha Alícia Weis não é capaz? Que meus homens não sabem usar espadas e escudos? Isso é culpa de DiPrata, tudo culpa dele! Até mesmo as terras do continente são mais atraentes do que minha província!

-Não são, senhora –Vitória disse, abaixando-se para recolher o colar espatifado com toda a calma que Alícia desejava ter. –Não está fazendo nada de errado, só estão todos assustados. Temos que nos manter calmas e focar no que a rainha...

-A rainha não se importa com minha província! –ela quebrou algum outro adorno de vidro que vestia. Já tinha também resgado sua saia e destruídos seus sapatos. O mistério de como ela como ela conseguia manter sua beleza estupenda mesmo sob aquelas condições deixaria Alícia muito curiosa se ela não estivesse irritada. –EU VOU MATAR TABATA!

-É esse o espírito –Alícia resmungou em voz baixa. Não baixa o suficiente, porém.

-Você é ótima Alícia Weis –a princesa grunhiu em sua direção. Lilian, que estava em pé ao lado da amiga, deu um passo para o lado, afastando-se. Tâmara continuou a aproximar-se de uma maneira que, um dia, intimidara Alícia, mas agora não queria dizer nada. Segurou suas bochecas antes de continuar a falar. –Ótima especialemnte quando está de boca fechada.

-Desculpe –ela falou, tirando a mão da princesa de seu rosto e afstando-a de si. –Mas não tem como consertar o erro de DiPrata agora. Temos que lidar com isso, e é o que estamos fazendo. Vamos continuar com as patrulhas e os toques de recolher. É como foi com Tamires quando ela aliou-se aos elfos: os fieis seguidores da terra ficarão ao seu lado.

Érestha -Castelo de Ilusões [LIVRO 5]Onde histórias criam vida. Descubra agora