Ego Intacto (ROMANCE GAY) (completo)

Capítulo um

Acordei cedo e sorri ao sentir o conforto da coberta. Apenas com a cabeça de fora, olhei o relógio despertador que acusava 6h. Meu corpo, praticamente sem roupas demorou a se espreguiçar e finalmente sair da cama. Num pulo rápido, me levantei e senti o frio como um tiro no peito. Ficar de cueca não era uma opção, assim como voltar para a cama também não. Me vesti tão rápido que nem parei para pensar em qual grife famosa iria usar, até porque o frio havia inibido a minha capacidade de narcisismo. Nunca fui um exibido propositalmente. Eu não fazia o menor esforço. Mas era como se meu corpo exalasse cheiro de dinheiro e por isso todos pensavam que eu era apenas mais um mauricinho rico e mimado.

Talvez eu fosse.

Lembrei que teria que fazer o meu próprio café da manhã, pois Constance ainda não havia acordado. As manhãs de terça feira eram sempre minhas, então eu poderia comer o que quisesse, desde que não deixasse muita sujeira para Constance limpar, ou ela me acertaria com uma colher de pau na cabeça. Ela era nossa governanta a 20 anos, e eu tenho 18. Ela sempre foi mais presente em minha vida do que a minha própria mãe.

Peguei uma maçã verde, pois estava com preguiça de fritar ovos e bacon. O frio cativava preguiça, porém me deixava com um ótimo humor. Terminei de me arrumar e finalmente deixei o apartamento.

Enquanto descia de elevador para a garagem, fiquei me olhando no espelho e arrumando o cabelo. Eu nunca me achei o cara mais lindo do universo, mas estava longe de ser feio.

Um exibido nato.

Com passos largos no estacionamento, finalmente cheguei ao Porsche branco estacionado. Olhei com cara de tédio, entrei e apertei o aleatório em meu iPhone. A música começou a tocar nos alto falantes do carro e ao som de Tennis Court, finalmente deixei o estacionamento do prédio.

Enquanto dirigia, observava atentamente as pessoas ao meu redor, imaginando suas vidas. O que faziam? Eram felizes? Amavam e eram amadas? Ou será que eram infelizes? Eu sentia uma certa necessidade em contar suas histórias. Nunca pensei no motivo de fazer isso, mas dizer que eu me importava com essas pessoas era um pouco radical. Desde que não interferissem em minha vida, eu não tinha motivo para odiá-las.

O sol finalmente apareceu e eu cheguei ao meu destino. Estacionei o carro na minha vaga privativa, próximo à entrada da academia internacional de cinema da cidade. Quando saí do carro, os raios solares tocaram meu rosto gelado e a sensação foi maravilhosa e eu me peguei sorrindo novamente. Geralmente minha manhã de terça feira se resumia às coisas que poderia sentir, por mais simples que fossem. Subi a escadaria da escola e passei por baixo de um letreiro grande e chamativo que dizia ''Academia de Cinema e Audiovisual''. Caminhei sem pressa entre os corredores e assim que entrei na sala, todos os olhares se voltaram para mim.

Como eu gostava daquilo.

— Está atrasado Gun.

Não me julgue por ter esse nome. A ''falta'' de criatividade dos meus pais me rendia dezenas de perguntas sempre que me apresentava a alguém. Todos discutiam sobre como possivelmente deveria ser meu nome, mas no fim, eu acabei me acostumando.

Olhei para o professor Milton e mostrei meu sorriso extremamente branco e perfeito.

— Quando que eu não estou?

Ouvir minha voz pela primeira vez no dia era terrivelmente frustrante, já que era uma das minhas melhores armas.

— Sente-se. Vamos começar. — O professor Milton estava sempre sério.

Toda terça-feira, eu me esforçava para acordar mais cedo e ir estudar o que eu realmente gostava: Cinema. Depois que me formei no ensino médio, sofri uma tremenda crise existencial ao tentar decidir o que faria pelo resto de minha vida. Meu pai insistia que eu deveria seguir seus passos e cuidar da grande empresa da família, mas como um bom filho rebelde, eu me negava a fazer aquilo.