Ego Intacto (ROMANCE GAY) (completo)

Capítulo dezessete

Sempre que criamos expectativa sobre alguma coisa, acabamos nos surpreendendo. Veja meu caso, por exemplo. Eu já havia desistido de deixar de pensar que as coisas poderiam piorar, porque por mais que eu tentasse, sempre tinha algo pior me aguardando.

Isso voz diga, de um super otimista.

Mas estava cada vez mais difícil ser otimista, depois de ter encontrado o bolo no lixo, no dia anterior.

Queria arranjar coragem para confrontar minha mãe, mas coragem era uma coisa que ultimamente não existia mais dentro de mim. As palavras de Dylan ficaram borbulhando em minha cabeça. ''Você é um covarde''.

Ah sim, eu sou. Um covarde, uma criança assustada e pra piorar, um subordinado do tráfico. Eu tinha que começar a pensar em várias coisas ao mesmo tempo e toda essa situação desesperadora já havia começado a moldar o novo Gun, bastava apenas eu estar disposto o suficiente a aceitar a mudança. Mas isso era bem mais complicado do que eu pensava.

Peguei uma rosquinha e um copo de suco de cima da mesa de café da manhã e me direcionei à Samantha. Ela estava sentada, ao lado da filmadora, ensaiando suas falas. Ela estava olhando o roteiro de cabeça baixa e o cabelo loiro caído como uma cascata, pela lateral de sua cabeça.

- Tempo - disse, esticando as mãos e oferecendo a rosquinha e o suco.

Samantha deu um sorriso espontâneo e repousou o roteiro em seu colo, pegando a comida que eu havia lhe oferecido. Com a cabeça, fez um sinal para que eu me sentasse do seu lado.

- Estamos na metade do curta. Isso é ótimo - disse ela dando uma mordida na rosquinha com cobertura de chocolate.

- Isso é realmente incrível.

- Graças aos ótimos diretores que temos.

Samantha deu outra mordida na rosquinha.

- Eu gostaria de agradecer a você.

- Agradecer o que? - Perguntou ela.

- Por nossa amizade. Quer dizer, já dormimos juntos, brigamos inúmeras vezes. Mas no final de tudo, estamos aqui. Estamos bem.

Samantha engoliu o pedaço de rosquinha e tomou um gole de suco atrás antes de começar a falar.

- Eu sei que nossas diferenças apareceram muito cedo, mas eu acredito em nossa amizade. De verdade. Querendo ou não, ninguém nunca me tratou como você fez. Talvez eu esteja arrependida Sr. Willerding - disse ela rindo.

A única coisa que veio à minha mente foi ''Estou dormindo com seu irmão, não podemos mais ficar juntos''.

- Estou brincando. Eu que tenho que agradecer a você por não desistir das minhas loucuras.

- Loucuras? Você é lunática Samantha - gargalhei.

Ela também riu.

- Dylan perguntou de você.

Senti meu coração acelerar e tentei parecer o mais indiferente possível.

- Ah é? E o que ele perguntou?

- Se você estava bem. Só isso.

Samantha deu a última mordida na rosquinha e se levantou.

Fiquei olhando para baixo, pensando se devia uma desculpa à Samantha pelo que havia feito com seu irmão. Relutei ao pensar que sim, mas tudo o que eu consegui fazer foi perguntar se deveríamos voltar ao trabalho.

- Claro! - respondeu ela.

Iríamos filmar uma cena de morte muito violenta. Uma cena que até então havia acontecido apenas na minha mente. Colocar aquilo no quadro era outra história, mas todos estavam dispostos a tentar.