Peter e eu estávamos sentados lado a lado em uma grande mesa na cozinha. Estávamos de costas para a porta da dispensa. A dispensa que nunca devíamos ter entrado. Eu não sabia direito por que estávamos ali, mas sabia com certeza que tinha a ver com a dispensa. Peter estava calmo, calmo demais para a devida situação. Os homens bem vestidos estavam todos dentro da sala, mas o homem gordo estava à frente de todos, nos encarando, nos estudando. Jon ficou no fundo da sala. Não falava absolutamente nada, o que me fez pensar que, fosse quem fosse, era apenas uma marionete desses homens assustadores.
Eu nunca havia passado por algo do tipo. Nunca havia visto pessoas como aquelas na cidade. Aquilo não poderia estar acontecendo, eu já estava com coisa demais na cabeça para me preocupar. Coisas que mal havia compreendido ainda.
O homem gordo se apoiou na mesa, colocou o revólver em cima, para que pudéssemos ver claramente e deu um sorriso clássico e modesto. Começou a falar pacientemente.
— Que falta de educação a minha. Esqueci de me apresentar.
Ele fechou os lábios finos e ficou sério novamente. Seu rosto era realmente antigo, devia ter mais de sessenta anos, facilmente. Os pés de galinhas em seus olhos e as rugas entre o nariz e boca logo indicavam que não iríamos lidar com alguém que não soubesse o que estava fazendo. Um profissional.
— Eu me chamo Alexei Kalashnikov, ou se preferirem, podem me chamar de AK. Viu só Gun, já temos algo em comum, não é?
Ele voltou a dar aquele sorriso assustador e amarelado. O olhar daquele homem me dava calafrios. Eu não estava mais assustado àquela altura, eu estava conformado. Conformado que iria sair daquele lugar muito machucado. Ou pior.
— É bom você ter algum tipo de respeito com pessoas mais velhas e sábias, moleque. Deixar um homem como eu falando sozinho pode não acabar muito bem.
— Me desculpe, senhor — respondi timidamente.
— Ah, ele fala! — AK voltou a sorrir. — Então poderá falar o que diabos aconteceu na minha dispensa!
A última frase saiu aos berros e gotas de saliva jorraram de sua boca.
Depois disso AK voltou a se acalmar e nesse momento percebi que não poderia deixá-lo falando sozinho. Aquele homem era mentalmente instável.
— Eu juro que não sei. Não fizemos nada, nós juramos!
— Algo aconteceu. Algo que me deixou muito, mas muito infeliz.
AK foi até um de seus homens e pegou um saquinho com um pó branco. Colocou em cima da mesa, ao lado do revólver e empurrou para perto de nós.
— Até pouco tempo atrás, dentro daquela dispensa, havia várias caixas com centenas dessas embalagens dentro. Por que estavam lá? Por que essa é a minha maldita casa! A maldita casa que eu, um homem de integridade, emprestou para vocês trabalharem em troca de um pouco de dinheiro. Esse favor não era o suficiente? Vocês tiveram mesmo que tentar passar a perna em mim? Justo em mim?
Peter cerrou os dentes e parecia impaciente com tudo que estava acontecendo. Ele não era o tipo de cara que levava desaforo para casa e imaginei que aquilo poderia se tornar um problema se ele tentasse enfrentar aquelas pessoas.
— Nós não fizemos nada! É um terrível engano. Não pegamos sua droga. — disse Peter.
— Olha, temos um vencedor.
AK caminhou para perto de Peter e olhou dentro de seus olhos. Peter não esbanjou nenhuma reação e seu olhar era tão frio quanto o do homem gordo. AK pegou o malote de droga e com um canivete que carregava em seu bolso faz um furo no saco. Metade daquele pó branco caiu sobre a mesa.
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Ego Intacto (ROMANCE GAY) (completo)
RomanceTudo o que o jovem cineasta Gun queria, era terminar seu curta metragem de conclusão de curso e receber a tão esperada glória e fama que desejava. Mas quando é confrontado por seus sentimentos e acaba se apaixonando pelo irmão de uma aluna nova, com...