Capítulo vinte e nove

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Quando eu era criança, meu pai me levou num parque de diversões e nos divertimos como nunca naquele dia. A minha primeira lembrança boa com meu pai, foi naquele parque. Não porque ele tinha dinheiro o suficiente para irmos em todos os brinquedos quantas vezes eu quisesse. Não por ele comprar todas as comidas que eu pedia. Era por ele estar ali, presente, brincando e comendo comigo. Como se fosse um amigo. O meu melhor amigo.

Depois de alguns anos, eu já não lembrava mais do que era verdade ou não naquela memória, pois com o tempo os fragmentos iam desaparecendo da minha mente e talvez a minha força de vontade acabava inventando memórias em cima de memórias, mas há uma coisa que eu nunca esquecerei.

Meu pai havia comprado o maior algodão doce para mim e depois que sentamos em um banco, ele me fez prometer.

— Me prometa que você sempre vai lembrar de seu pai, como esse que está contigo hoje, Gun.

Eu nunca entendi direito o que ele havia dito e depois de alguns anos, eu acabei percebendo o que era ter um pai ausente em minha vida. Mas eu havia prometido e por mais que eu sentisse sua ausência, eu lembrava de meu pai como o homem que andou dezessete vezes na montanha russa infantil do parque de diversões.

Eu estava tentando me segurar nessa memória, mas eu estava fraco demais para pensar. O Rolls Royce estava dentro do galpão e Emma não parava de sorrir. Era um sorriso sádico, do tipo ''Vocês não perdem por esperar''.

Os faróis ficaram ligados, em nossa direção, forçando com que abaixássemos a cabeça e quando o motorista saiu de dentro do carro, percebi que o possível sorriso de Emma realmente faria sentido. Ninguém dentro daquele galpão perdia por esperar.

Era meu pai.

Com o mesmo terno sob medida de sempre, caminhando da mesma forma enquanto arrumava as abotoaduras das mangas. Eu queria poder dizer alguma coisa, mas ele nem sequer olhou no meu rosto. Ele não olhou no rosto de ninguém e foi direto ao encontro de Emma.

Eu abaixei a cabeça novamente e lágrimas começaram a escorrer. Naquele momento eu percebi que estava sozinho no mundo.

— Antes de matá-los, quero interrogar um por um — disse ele.

— Sim senhor — respondeu Emma.

Antes de meu pai se virar para nós, Peter disse alguma coisa com sua voz fraca.

— Sr. Willerding...

Peter estava tentando lutar contra a luz do carro.

Meu pai se virou para Peter e congelou como uma estátua. Em seguida olhou para todos nós e finalmente me viu. Era difícil enxergar, mas pude ver ele entreabrir a boca e começar a tremer os lábios, tentando entender o que estava acontecendo. Era realmente difícil explicar o que estava acontecendo, mas teríamos tempo.

— O que é isso? — perguntou meu pai, com a voz trêmula.

— Desculpe Sr, não estou entendendo — disse Emma começando a ficar preocupada.

— Você! Desligue os faróis.

Meu pai apontou para um dos seguranças que imediatamente o obedeceu e em seguida apontou para mim.

— Solte-o. Solte-o agora mesmo!

— Você perdeu a cabeça chefe? Não podemos soltá-los — voltou a dizer Emma.

— É O MEU FILHO! — gritou meu pai. — O MEU FILHO ESTÁ AMARRADO ALI EM FRENTE E EU QUERO SABER O PORQUE!

Emma não sabia para onde olhar e cedeu um passo para trás, gaguejando.

Ego Intacto (ROMANCE GAY) (completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora