Capítulo dezenove

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O vento tocou meu rosto enquanto eu ganhava velocidade. Logo atrás de mim, em outra bicicleta, estava Dylan, também ganhando velocidade.

Estávamos seguindo uma trilha próxima à cabana onde nos beijamos pela primeira vez, mas agora sem perigo de uma tempestade de gelo arrebentar a cabeça de alguém. Na noite passada encontrei Dylan em sua casa e no momento em que olhei seu rosto percebi que tinha seu perdão. Ele me proporcionou uma daquelas noites maravilhosas que apenas ele conseguia fazer e então conversamos. Conversamos muito.

Expliquei para ele que não estava preparado para me assumir, mas que estava disposto a tentar por ele. Que queria seguir com nosso relacionamento sem pensar em duração ou um fim trágico. Queria evitar o fim a qualquer custo e Dylan disse que me ajudaria no que eu precisasse.

Paramos numa área aberta e distante de tudo e encostamos as bicicletas em uma árvore. Peguei uma cesta e estiquei uma toalha xadrez no chão limpo e plano. Havíamos comprado tudo que seria necessário em um piquenique. Pães, sucos, frutas, frios, biscoitos doces e salgados e um grande pote creme de avelã.

Dylan se sentou de pernas cruzada enquanto carregava um sorriso gigante no rosto. Eu me deitei de bruços, observando suas covinhas e tudo que senti dentro de mim foi felicidade. Eu estava me sentindo tão bem em estar ali com ele que havia esquecido todo o resto.

— Você não me explicou direito porque estava com o carro de seu pai.

— O meu está na oficina — menti, desconfortavelmente. — Sabe como é, tiveram que importar as peças e as vezes demora.

— Entendi. Seu pai tem um baita carro. Eu teria que trabalhar uns oitenta anos pra pagar um carro daqueles.

— Se meu pai descobrir que eu saí com o carro dele, ele me mataria.

— Por isso você teve que sair tão cedo.

— Sim, meu pai tolera muitas coisas, mas essa não é uma delas. Mas a sua ideia da bicicleta foi ótima. Eu nem lembrava mais que tinha aquela velharia guardada.

Olhamos para as bicicletas e percebi que a minha estava praticamente nova e a de Dylan estava praticamente caindo aos pedaços. Eu gostaria de voltar no tempo e não ter dito aquilo.

Simpaticamente, Dylan apenas sorriu e concordou com a cabeça.

— Você vai no festival de artes da cidade? — perguntou ele.

— Sim. O professor Milton me deixou apresentar o curta por causa dos vários diretores e produtores que estarão lá e ele acha que eu possa conseguir algo bom. Até mesmo um estágio em Hollywood.

— Seria ótimo. Você merece.

— Tenho que trabalhar duro no curta, pois o festival é daqui uma semana.

— Como estão as filmagens?

— Já passamos da metade. A finalização será rápida, em duas ou três diárias conseguiremos as cenas e então estará pronto para concluirmos tudo na sala de edição.

Dylan me olhou sério, mas percebi que seus olhos estavam brilhando.

— Eu adoro te ouvir falar sobre seu trabalho — senti meu rosto ficar vermelho e antes de poder falar qualquer coisa Dylan retomou a palavra. — Sinto a sua paixão. É ardente e natural.

— Há duas coisas que me deixam assim. Você vai poder me acompanhar no festival?

— Na verdade não. Eu estarei fazendo a segurança durante o dia, mas pode acreditar que estarei de olho em você. Como sempre estive.

Dylan pegou um morango, mergulhou no pote de creme de avelã e deu uma bela mordida na fruta suculenta. O canto de sua boca estava sujo de chocolate e ele tentou passar a língua para limpar, mas sem nenhum sucesso.

Ego Intacto (ROMANCE GAY) (completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora