Capítulo dois

432 56 99
                                    

A tarde pareceu uma eternidade quando fiquei deitado na cama, pensando em tudo o que havia acontecido naquela manhã. Tentei encontrar algum sentido no que Constance havia dito e pensei no que aconteceria se eu tentasse ser uma pessoa diferente e empática. Nunca me considerei uma má pessoa, mas todos gostavam de tirar conclusões precipitadas.

Eu estava tão preocupado que mal fiz questão de ir ver o carro novo que havia acabado de chegar à garagem. Era o terceiro só esse ano.

Talvez eu seja uma má pessoa sim.

Seria possível me tornar uma pessoa melhor? Talvez eu me tornaria a pessoa perfeita, que todos iriam almejar. Por outro lado, não queria ser a pessoa perfeita de ninguém. Ter dezoito anos tinha suas vantagens e não era porque eu havia dito que estava apaixonado, que realmente fosse verdade. Quer dizer, eu sempre estou apaixonado. Eu amo todas e isso me intriga, já que sempre estou com uma garota diferente e nada muda. Eu não mudo. Talvez esteja na hora de libertar o Gun que todos querem ver. O verdadeiro Gun.

Mas quem é ele?

Não demorou para a minha cabeça começar a bolar vários planos sobre como ser uma pessoa melhor.

Pulei da cama e corri para o MacBook. Entrei nas redes sociais de pessoas da sala de aula até encontrar o perfil dela. Samantha era mesmo linda. Loira, com sardinhas no rosto. Os olhos claros como uma lagoa transparente e uma boca carnuda e bem desenhada. Sua foto de perfil não havia nenhum efeito ou filtro, o que me fez pensar que talvez ela realmente fosse uma dessas pessoas super confiantes. Eu também era confiante.

Nos últimos dois anos o Gun magrelo se transformou em um homem com músculos definidos e cá pra nós, isso tornava qualquer pessoa atraente. Alto o suficiente para suportar o porte atlético não exagerado, cabelos castanhos em contraste de uma pele perfeita e uma conta bancária de fazer inveja. Olhei no espelho do lado da cama e me auto analisei por alguns segundos. Meu cabelo bagunçado realçava o meu rosto e o maxilar expressivo. A barba mal feita dava o toque final para o que talvez fosse uma obra prima do destino. Eu tentava dizer a mim mesmo que era apenas um exagero, mas no fundo eu me considerava uma obra prima do destino.

Destino era talvez uma das únicas coisas em que eu realmente acreditava. Não podia dar ao luxo de pensar que as coisas eram por acaso. Não poderiam ser. Qualquer evento, por menor que fosse, desde tropeçar ou acordar atrasado, resultaria em uma escolha diferente no futuro. Como se tudo fosse premeditado por uma força maior.

Eu não tinha muita certeza sobre essa força.

Ou eu seria apenas maluco?

Finalmente criei coragem e enviei uma mensagem no chat. Me preocupei ao sentir que meu coração estava batendo mais rápido que o normal. Pela primeira vez eu não iria ser eu mesmo. Quer dizer, seria eu mesmo, mas com menos de mim.

- Oi - respondeu ela.

Paralisei por dois segundos e retomei consciência.

- Achei seu perfil no facebook. Espero não estar atrapalhando. Você pode conversar?

- Você não está atrapalhando, pode falar.

Fiquei mais aliviado por não levar outro fora.

- Olha, me desculpa por hoje cedo. Eu não costumo ser um babaca assim, o tempo todo.

- Sério? Eu nem percebi que você foi babaca.

Senti um tom de sarcasmo em cada palavra.

- Eu gostaria de me redimir.

- Tudo bem Gun, você não tem que se redimir com ninguém. Você não fez nada para precisar fazer isso.

- Então podemos começar do zero?

Ego Intacto (ROMANCE GAY) (completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora