Capítulo onze

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O Sol nem havia aparecido e a chuva não havia acabado. As gotas, agora mais fracas, insistiam em cair deixando o ar ainda mais frio. Não conseguia me lembrar em que momento havia pegado no sono, mas o corpo quente de Dylan facilitava qualquer coisa e quando me dei conta, havia me enroscado nele a fim de ficar mais confortável. Acho que nunca havia dormido tão bem em toda a minha vida.

Seu corpo era diferente de tudo que eu já havia provado. Era mais quente, mais rígido, mais forte e mais protetor.

Não estava preparado para levantar e seguir o rumo da minha vida, até porque ela estava ruim o suficiente. Eu não queria sair daquela situação, porque sabia que não iria acontecer novamente. Não poderia. Eu queria Dylan, carnalmente. E o tive. Agora era momento de deixar para lá e continuar vivendo. Não sei se pareceria certo ficar com o irmão de Samantha. De um jeito ou de outro, sempre seria sobre um irmão.

Abri os olhos e me deparei com a escuridão do lado de fora da casa. As velas estavam apagadas, mas ainda assim, sentia um calor agradável. Estávamos deitados no sofá e Dylan estava deitado atrás de mim, com seu braço apoiado em minha cintura. De vez em quando, inconscientemente ele acariciava minha pele levemente, com os dedos. Planejei durante alguns minutos o que eu deveria fazer. Levantaria e iria embora? Como fiz com a Samantha? Parecia a coisa certa a fazer.

Me virei e fiquei de frente para Dylan e ele nem sequer se mexeu. Seu braço continuou em minha cintura e fiquei o observando dormir. Ele estava com a boca entreaberta e respirava calmamente. Podia ouvir o som do ar entrando pelo seu nariz e saindo pela boca e sua serenidade me transmitiu paz. Naquele momento percebi que jamais poderia ir embora.

Fechei os olhos novamente na tentativa de dormir e não precisar sair daquele momento. Me aconcheguei ainda mais perto dele e Dylan despertou tranquilamente. Passou a língua nos lábios para umedecê-los e com os olhos ainda fechados segurou minha cintura com firmeza e me puxou para perto dele. Nossos corpos se encaixaram e então ele abriu os olhos e me encarou. Ele deu um sorriso e ignorou toda a situação que poderia se tornar embaraçosa. Havíamos nos tornado aquele tipo de amigos que contavam as coisas um para o outro ou que ajudavam na mudança, quando precisassem. Esse tipo de amigo que se podia contar a qualquer hora e talvez por esse motivo essa sintonia não permitisse um momento estranho ou qualquer tipo de tensão. Por mais diferente que fosse para mim, eu não queria e nem estava preparado para me despedir do corpo e Dylan, mas algo em minha cabeça dizia que isso era necessário. Até inevitável. A minha curiosidade poderia ser completamente normal na minha idade.

Não poderia?

Acho que o velho ego de Gun Willerding estava voltando e mostrando suas garras.

Ele sorriu, assim que me viu.

— Bom dia — disse.

— Bom dia.

— Precisamos ir embora?

A voz de Dylan estava manhosa e gostosa. Eu poderia me acostumar.

— Precisamos.

Ele franziu o cenho e notou que tudo estava sério demais.

— Tudo bem?

— Tudo.

Meu vocabulário havia desaparecido. Dylan ficou me olhando por alguns segundos e como se houvesse um campo magnético nos atraindo eu me aproximei de seu rosto, apoiei a minha mão em uma de suas bochechas e o beijei enquanto acariciava sua barba rala.

Nos levantamos e começamos a arrumar tudo rápido. O sol estava começando a nascer quando deixamos a cabana pra trás e andamos devagar em direção à cidade. Com passos lentos ficamos andando preguiçosamente um do lado do outro, trocando silêncios, olhares e sorrisos.

Ego Intacto (ROMANCE GAY) (completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora