C H A P T E R 6

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Julian

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Julian

Como uma garota podia comer tanto?!

Observei a mendiga atacar a comida que os empregados trouxeram como se estivesse passando fome há dias.

Eu não duvidava disso, até porque, embora fosse completamente maluca, eu tinha certeza que vivia nas ruas. O que mais me intrigava era sua forma antiquada de falar, o que poderia ter acontecido para ela ter ido parar na Crichton Melville e seu papo maluco sobre ser de 1773.

— Saiam garotos. Precisamos ficar a sós com ela. — Susan nos expulsou do quarto, batendo a porta em nossa cara.

Steve me olhou divertido e, dei de ombros.

— Preciso sair daqui. Cansei de toda essa merda. — murmurei com um suspiro cansado, tentando não pensar em tudo o que havia acontecido nas últimas horas.

— Conheço um lugar maneiro. — Steve enfiou as mãos no bolso da sua calça, e eu o segui para fora da mansão.

Respirei o ar fresco, aliviado.

O Lexus RX estava estacionado em segurança há alguns metros, então seguimos para lá, entrando no carro.

Aproveitando que estava no banco da frente, liguei o rádio em uma estação qualquer.

Steve arrancou com o carro sem se importar com a velocidade.

Coloquei as mãos cruzadas atrás da nuca, relaxando contra a poltrona. É claro que meus pensamentos voltaram para a mendiga desconcertante que ficou sob os cuidados da minha mãe e de Susan.

— Fico imaginando o que a ruiva maluca deve está passando nas mãos de nossas mães.

Steve riu, ainda dirigindo.

— Provavelmente irão tratá-la como uma boneca. — disse.

Observei os pinheiros nas laterais do caminho, sentindo o cheiro característico da vegetação. Mesmo que ainda não estivéssemos em dezembro, o clima frio já estava dando as caras e eu acreditava que seria muito mais frio do que o anterior.

— Nossas mães sabem ser bem malucas quando querem. — comentei.

Ele assentiu, sorrindo.

Já estávamos fora do condomínio, e observei que boa parte dos parques estava pintada com as cores de outono.


***


...I lie on my back and stare up at the stars

I wonder if they're staring back at me

O som de Passenger preenchia meus ouvidos, conforme eu tomava mais uma dose da bebida desconhecida. Eu não sabia o nome dela, até porque quem pediu foi Steve, mas era forte.

— Aqui é um bom lugar. Eles nem pediram nossas identidades. — comentei, observando o interior do Darky Opening, um bar local de nome peculiar. Percebi Erika seguindo em minha direção e me perguntei o que ela estava fazendo em um lugar como aquele.

— É um lugar meio caído, mas até que servem bons coquetéis. — disse Steve, sorrindo para a garota em seu colo. E só pra constar, não era a Savannah.

— Oi, Julian. — fiquei de pé e Erika me deu um abraço caloroso. Ela estava vestindo uma calça de couro justa e uma blusa que deixava a barriga bronzeada de fora.

— Como você está? — murmurei, afastando-me.

— Estou bem. — ela sorriu de canto, avaliando-me sem escrúpulos. — Aliás, você continua um gato.

— Ah, obrigado. Você sumiu. Não te vi mais na escola.

— Problemas de família, sabe como é. — sorriu, afastando os longos cabelos castanhos do rosto. — Tive que acompanhar minha família em uma viagem de negócios à Paris. Papai praticamente me obrigou. — suspirou, entediada. — Ele é tão controlador às vezes.

— Imagino. — puxei uma cadeira para ela e pedi mais bebidas a uma garçonete que não demorou a nos atender.

Erika Burnett tinha dezessete anos e era filha de um dos juízes mais importantes de Londres. Ela fazia o terceiro ano comigo e Steve na Blake Rousseau, mas ultimamente não estava frequentando as aulas. Eu gostava dela, até porque era a única garota com quem eu conseguia manter uma conversa sem bocejar.

Lancei um olhar para o interior do bar, observando uma movimentação razoável: alguns motoqueiros com roupas de couro e jaquetas falavam alto, garçonetes gostosas praticamente desfilavam entre os clientes, uma garota entediada e com óculos de aros enormes estava atendendo alguns pedidos atrás de um balcão e alguns adolescentes, ainda vestidos com o uniforme da escola assim como Steve e eu, sorriam e bebiam em outra mesa.

Com a chegada da ruiva na minha casa, esqueci de tomar banho e tirar o cheiro de subúrbio de cima de mim.

— Você parece meio preocupado. — Erika me encarou atentamente. — O que houve?

— Uma garota que a minha mãe gosta muito vai passar uns dias lá em casa e não sei se vou me acostumar com isso. — deixei parte da verdade escapar, omitindo de propósito que a garota em questão não passava de uma moradora de rua maluca.

— Você não gosta dela? — questionou, curiosa.

— Claro que não! Mal a conheço.

— Oh, que alívio! — sorriu. — Pensei que teria concorrência. — brincou.

Erika e eu não tínhamos nada sério; uma espécie de amizade colorida, talvez.

— Não precisa se preocupar. — tentei não cair na risada ao pensar na ruiva sem nome como uma possível rival de Erika. Ela não tinha a mínima chance perto de uma das garotas mais lindas da escola. Se Erika a tivesse visto, não teria feito o comentário.

— Fico feliz. — ela sorriu, bebendo seu coquetel. — Vai rolar uma festa no Antony, final de semana. Vai aparecer?

— É claro que vamos! — Steve sorriu, recebendo um selinho da garota em seu colo.

Revirei os olhos.

— Vamos aparecer por lá. Você sabe que as festas do Antony são bem animadas. — murmurei, fazendo Erika rir. Provavelmente lembrou-se da última festa do cara, onde um idiota bêbado dançou pelado e tiveram que arrastá-lo para fora da casa.

— Por que você não convida a ruivinha? — Steve me provocou, referindo-se à nova hóspede da minha mãe.

Eu o fuzilei com o olhar.

— Ficou maluco? Quero distância daquela maluca!

— Hm, sei... — zombou.

Forcei um sorriso, encarando a bebida em meu copo.

Só de pensar na ruiva maluca, senti a dor de cabeça voltar.


***

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