Julian ainda passou um tempo com a cabeça enfiada entre as mãos. Estava tonto e enjoado, mas não conseguia afastar os pensamentos de Elizabeth.
Será que o truque estranho de Melinda funcionara? Ele havia apagado no meio do processo, depois de ouvi-la sussurrar palavras estranhas. Decidiu confiar ao invés de questionar.
Fez uma careta, levantando-se. Antes estava estendido no sofá e lançou um olhar ao redor, reconhecendo o interior da casa de Melinda. Estava tudo como antes, então imaginou que a garota não tinha conseguido. Talvez tudo não tenha passado de um truque para enganá-lo. Foi idiotice acreditar em sua história. Como fora idiota! Devia está procurando Elizabeth do jeito convencional e não ter perdido seu tempo ali.
Barulho.
Ele se virou, alarmado, então reconheceu Louis a poucos metros. O garoto havia acabado de se levantar do chão onde estava estendido e parecia confuso.
Louis o encarou com o cenho franzindo. — Funcionou?
— Provavelmente não. — O outro resmungou.
Louis ampliou os olhos.
— Onde Melinda e Lucille foram parar?
— Não faço ideia.
— Estamos aqui!
Ambos os garotos saltaram, reconhecendo Melinda e Lucille de pé do outro lado da sala. Melinda estava de braços cruzados, aparentemente normal, e Lucille avaliava os garotos, checando se ainda estavam inteiros.
— Vamos. Não podemos perder mais nenhum segundo. Ainda bem que esses relógios são imunes à mudança de século. — Melinda apontou os objetos em seus pulsos, antes de seguir até a porta. — Temos poucas horas antes de os portais serem destruídos para sempre.
Os três não demoraram a segui-la e logo estavam na parte externa da casa, curiosos.
Julian percebeu que algo havia mudado. O clima estava diferente e ele já não conseguia ouvir o barulho distante do tráfego. Era como se os automóveis do século 21 tivessem desaparecido, assim como a maioria dos sons a que estava acostumado. Quando estavam bem distantes da casa de Melinda, Julian lutava para controlar a ansiedade e, assim que chegaram a uma rua um pouco mais movimentada, seus olhos colidiram em cheio com as pessoas que por ali circulavam e com as charretes.
Charretes?!
Não viu sinal de carros ou dos trajes modernos. As pessoas pareciam ser do... século dezoito.
Literalmente.
Melinda o cutucou.
— Acredita agora?
Ele a ignorou, atento a tudo.
Então ele havia mesmo viajado no tempo e sua cabeça parecia prestes a explodir de confusão. Pensou em Liza. Ela esteve certa esse tempo todo, mas ele, como um verdadeiro imbecil, não acreditou. Tudo era tão extraordinário que Julian já não conseguia esconder o semblante de perplexidade. Agora entendia a reação de Elizabeth quando a conheceu. Apostava que estranhou a forma como tudo parecia diferente ao que estava acostumada a ver. Mais uma vez, ele se culpou pelo modo como a tratou. Foi um idiota.
Para Louis tudo era profundamente familiar e ele andava pelas ruas com segurança, ignorando os olhares confusos que a maioria das pessoas por ali lançava para as roupas de seus amigos. Ele não estava muito diferente, porque já havia abandonado os antigos farrapos que usava há muito tempo. Agora estava usando um casaco grande por cima da camiseta, além de jeans e tênis. Sua maior preocupação no momento era encontrar Liza e voltar para casa. Seu lar agora era o século 21. Não sentia falta das privações que passara. Ele agora tinha uma nova vida e queria mantê-la. Mas se precisasse abandonar tudo para salvar a melhor amiga, ele assim o faria, afinal Elizabeth era como uma irmã e esteve disposta a se arriscar para salvá-lo. Ele esperava que ela estivesse bem.
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Precioso Destino
FantasyO ano é 1773. Elizabeth Thompson conhece as ruas de Londres como a palma de sua mão e sabe que roubar é o único jeito de sobreviver. Após uma perseguição pós roubo, ela acaba encontrando um obstáculo estranho: um muro de quase quatro metros, obstru...