Capítulo 4 - AMY

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08 de julho – Sexta-feira

Tinha acabado de tomar banho e me arrumar. Olhava para meu reflexo no pequeno espelho do meu quarto. Usava calça jeans e uma regata branca. Estava bastante ansiosa para que esse dia chegasse, mas também odiava ter que deixar minha mãe naquela casa. Havia algo, alguém, que me prendia ali, mesmo não querendo. Emma era mais do que a maior parte da minha vida.

Ela trabalhava mais por minha causa. Pelo menos, costumava ser assim.

Suspirei, antes de me virar e seguir até a cama. Sentei-me para calçar os tênis Converse de cano alto, bastante surrados, por sinal. Enquanto os calçava, ouvi uma leve batida à porta. Virei-me lentamente, vendo minha mãe parada, encostada à porta com os braços cruzados. Seus olhos castanhos brilhavam, tão tristes e sinceros.

EU, DEFINITIVAMENTE, NÃO QUERIA DEIXÁ-LA!

Senti uma dor no coração ao vê-la daquele jeito. Queria abraçá-la e não soltá-la nunca mais. Só que não fiz isso. Sorri para ela, que se aproximou, se sentando ao meu lado. Ficamos em silêncio por um tempo. Entrelacei meus dedos e os encarei, sem querer olhá-la nos olhos. Tipo, não queria que ela me visse chorar, especialmente antes de partir para um desafio que eu nem sabia qual seria.

Desejei que ela pensasse que eu era forte o suficiente, que estava muito bem com tudo isso. Talvez, se ela pensasse assim, isso se tornasse realidade.

– Querida – disse ela, olhando para mim. Sua voz parecia um sussurro. Seus olhos brilhavam intensamente, talvez por causa das lágrimas acumuladas –, está acontecendo alguma coisa? Você está se sentindo bem?

Olhei para ela.

– Nada, mãe. Não está acontecendo nada – menti. Eu não queria magoá-la. Olhando para ela daquele jeito, percebi que mentir seria ainda pior. – Estou com medo de, tipo, deixar você aqui sozinha... Eu não...

Ela colocou a mão no meu rosto.

– Não o que? Não confia em mim, é isso? – ergueu uma sobrancelha.

Encolhi os ombros. Não era exatamente isso. Eu confiava nela, só não conseguia imaginá-la sozinha. Tinha bastante medo do que ela, sei lá, poderia tentar fazer.

– Mãe, eu... – tentei argumentar, explicar qual era o real motivo. Minha voz quase não saía, parecia ter se perdido dentro de mim. – Confio em você, acredite. Só não gosto de pensar em deixá-la aqui... sozinha.

– Querida – sua voz doce penetrou na minha cabeça –, eu não estarei sozinha. Posso telefonar para você, se precisar de alguma coisa. Emily e Tyler continuarão por aqui. Não se preocupe com sua velha mãe, siga a sua vida.

– Não é tão fácil como aparenta – murmurei, olhando para a parede à minha frente, pensativa. – Estou presa a esse lugar mais do que gostaria. Talvez esteja assim por medo do que pode acontecer, caso eu entre para a PCS. A realidade de lá é completamente diferente...

– Mas sempre foi o seu sonho – interrompeu-me Emma, um pouco confusa, tentando entender se eu estava mentindo ou falando a verdade.

– Sim, sempre foi, mas... sei lá... – dei de ombros. – Nunca imaginei que realmente pudesse acontecer – falei, olhando para ela. Realmente me sentia assim.

Sempre desejei estudar na Pacific Coast School. Como sabia que minha mãe não tinha dinheiro suficiente para me bancar lá, fiquei apenas com o sonho e a ilusão, querendo estudar lá, mas conformada de que isso nunca iria acontecer... Até que consegui algo que me levasse à PCS, então... a sensação que eu estava sentindo já não era mais a mesma. Eu tinha uma oportunidade de realizar meu sonho, se conseguisse a bandeira.

MelissaniOnde histórias criam vida. Descubra agora