Capítulo 12 - AMY

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12 de julho – Terça-feira

Era nove de abril. Eu tinha oito anos. Esperava meu pai chegar, sentada no sofá de casa. Era meu aniversário, e estava escurecendo. Emma preparava um bolo de chocolate enquanto eu apenas desejava estar, tipo, com a família reunida... ansiosa também com a chegada da Páscoa.

Quando ouvi o ruído da maçaneta, praticamente pulei do sofá de tão animada que estava. Corri até a porta e a abri antes mesmo que Robert o fizesse. Meu pai sorriu para mim, sendo surpreendido por um forte abraço. Ele também me apertou, e ficamos assim por um tempo.

Então, ele tirou seu boné azul-marinho da cabeça e o colocou na minha, me entregando um ovo de chocolate. Meus olhos se encheram de lágrimas e um sorriso de orelha a orelha tomou conta do meu rosto. Minha boca começou a salivar. Estava maravilhada com tudo aquilo...

Pode rir, porque sei que é besteira se emocionar apenas com um ovo de Páscoa, mas não consegui me controlar. Não era todo dia que eu podia comer chocolate, sabia que era caro, e sabia que meus pais não tinham dinheiro para comprar.

– Obrigada, papai! – exclamei quando ele se agachou à minha frente, abraçando-o novamente. Senti, mais uma vez, seus braços me envolverem. Me sentia bastante protegida quando isso acontecia. Ele era quase meu porto seguro.

– Você merece isso, e muito mais – murmurou ao meu ouvido. E, com a voz um pouco mais baixa, para que eu não pudesse ouvir, coisa que de nada adiantou, ele continuou: – Pena que não temos dinheiro suficiente para...

Minha mãe o interrompeu, chamando-o na cozinha. Ele me beijou na cabeça, antes de me desejar feliz aniversário e seguir para onde mamãe estava. Voltei para o sofá, abrindo a embalagem do ovo, quando comecei a ouvi-los discutir. Não era comum meus pais discutirem.

Mas... desde que a nossa situação econômica havia piorado, eles batiam boca uma hora ou outra, se sentindo culpados por não pode, tipo assim, me dar o melhor possível.

Meus olhos voltaram a se encher de lágrimas, mas não pelo mesmo motivo de antes. Eu odiava quando eles brigavam, principalmente quando se tratava de mim! Parei na porta da cozinha, observando-os, um de frente para o outro. Minha mãe chorava, e meu pai tentava acalmá-la com as mãos em seus ombros.

– Querida, a culpa não é sua, nem minha. Nós estamos tentando, mais do que nunca...

– Nós deveríamos poder dar um presente para ela! – exclamou Emma com as mãos nos olhos. Aquela cena me fez sentir uma pontada no peito. Me sentia muito mal por aquilo. Me sentia bastante culpada. – Amy é o nosso pequeno milagre... Na verdade, grande! Mas... precisamos nos esforçar mais. Não acha que ela merece mais do que um ovo de chocolate?

– Ela merece muito, muito mais de presente – concordou meu pai, envolvendo mamãe em seus braços –, mas não temos dinheiro, e não podemos iludi-la...

Minha visão começou a embaçar... e já não via mais meus pais perfeitamente. Eles eram apenas borrões, impossíveis de alcançar. Comecei a ouvir um som, que continuava a se repetir. Meu coração acelerou, e abri os olhos bruscamente. Estava no escuro. Completamente no escuro.

Agora, tinha 15 anos, e estava de volta à PCS.

Hora de acordar! – exclamou a voz robótica. – A aula começará em uma hora. Acordem!

Aos poucos, a cortina da janela foi se recolhendo sozinha, fazendo com que a luz do sol tomasse conta do quarto. Me sentei e olhei para a cama de Bridget, que estava vazia. Franzi as sobrancelhas, preocupada. Onde ela está? Mas minha amiga não demorou a sair do banheiro, respondendo à minha pergunta. Ela já estava pronta para o nosso primeiro dia de aula.

MelissaniOnde histórias criam vida. Descubra agora