Capítulo 49

46 9 69
                                    


16 de novembro – Quarta-feira

Conseguia perceber algumas mudanças – as coisas começando a voltar ao normal. Ou quase isso. A barriga de Mary já estava um pouco maior. Ela tinha voltado ao seu posto de popularidade; suas "amigas" – fazia questão de me lembrar que elas não eram leais como as minhas – também voltaram a andar com ela.

Reagan tinha começado a namorar Mitchell, o verdadeiro pai do seu filho – ou filha, quem sabe? Bridget passou a namorar Jason, e Kath a passar muito tempo com um tal de Aaron Miller. As coisas pareciam acontecer rápido demais para as outras pessoas... Quanto a mim, ainda ficava idealizando namorar Charlie – ou seja, parada, estática, sem sair do lugar. Mesmo depois de tudo, ele continuava sendo minha paixão.

Caminhava em direção ao Laboratório, pensativa, onde meus amigos esperavam por mim. Em breve, poderia dar adeus à Pacific. Sorri. Senti – repentinamente – uma mão pousar na minha cintura, puxando-me. Arregalei os olhos e soltei uma exclamação. Por pouco, não gritei. A pessoa me encostou em uma das árvores que nos rodeavam e apoiou a mão um pouco acima da minha cabeça.

Quando olhei para Charlie, meu coração disparou. Em meus devaneios, achava que não fosse possível, todavia, ele me surpreendeu ainda mais. Beijou-me da mesma maneira que o fez da primeira vez em que nos beijamos – do mesmo jeito que fez no Resort. Retribuí por alguns minutos, sem perceber a besteira que estava fazendo.

Por mais que o amasse, não poderia permitir que prosseguisse, nem que esse amor crescesse. Precisava esquecê-lo. Charlie Steven não era o garoto certo para mim, nem de longe. Especialmente porque ele suscitava em mim vontades que eu não deveria sentir. Era uma paixão obsessiva. Doentia. Não sei. Eu precisava me desintoxicar desse amor, de Charlie.

Então, em um movimento brusco – de lucidez –, empurrei-o. Ele praticamente grunhiu e me fuzilou, erguendo uma sobrancelha, suas narinas dilatadas. Engoli em seco. Tinha medo do que ele poderia fazer quando estava irritado. E ele – claramente – estava irritado.

– Qual é o problema? – gritou. – Na verdade, qual é o seu – enfatizou, apontando para mim, gesticulando de maneira brusca – problema?

– Qual é o meu problema? – disparei, cruzando os braços e tentando conter as lágrimas. Não podia desperdiçá-las por causa dele. Não mais. – Bem... meu problema é você! Ou costumava ser... – minha voz falhou. Respirei fundo. – Nós não podemos ficar juntos. Sabe disso, não sabe?

– Por que não? – continuou a gritar, empurrando-me contra a árvore. Senti uma dor se alastrar pelo meu corpo. Não sabia como, todavia, Charlie parecia ter bebido em demasia. – Por que não, hein? Que droga, Selena! Sabe que eu gosto de você... e sei que você gosta de mim, até mais do que gosta de admitir... Quer parar de fugir da realidade e encarar sua paixão por mim? Não tem mais nenhum empecilho entre nós...

– Charlie, você bebeu? – indaguei severamente, analisando-o de cima a baixo e procurando por alguma coisa, qualquer coisa, que explicasse ele estar agindo daquele jeito.

– Cale a boca e não venha me dar sermão! – grunhiu, dando um tapa no meu rosto e me fazendo levar a mão à bochecha agora vermelha, boquiaberta. Com as pernas trêmulas e a dor se instalando por meu rosto, aproximei-me dele cautelosamente. – Sua va...

– Acalme-se, Charlie, por favor – pedi o mais suave e calmamente possível, colocando as mãos nos seus ombros, só que ele recuou, ainda mais furioso, bufando e meneando a cabeça em negativa. – Que está acontecendo com você?

MelissaniOnde histórias criam vida. Descubra agora