Capítulo 23

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11 de agosto – Quinta-feira

Quer uma vida complicada ou fantasiosa demais para se explicar? Porque eu podia dizer que a minha era um pouquinho das duas, e eu não era muito fã da segunda opção. Assim como Selena Houston, não gostava muito de pensar que podia ter uma cauda. Não queria ser um monstro, uma aberração. Por que não poderia ser somente eu, Bridget Salvatore?

No dia em que sonhamos com a ilha e as sereias, eu fiquei esfomeada. Comi sushi, tanto no café da manhã (por mais estranho que possa parecer) quanto no almoço. Essa transformação estava me deixando com muita fome. Sabe o que é isso? Eu já tinha sentido fome uma vez, no entanto, nunca tinha ficado como naquele dia.

Naquela manhã, depois de ver Amy sofrer e gritar, tive medo de tomar banho. Não queria sofrer como ela, por mais que aquilo fosse inevitável. Tentar passar vinte e quatro horas sem tomar banho não impediu que a cauda surgisse assim que eu entrasse na água. Foi cruel, uma tortura! Quando me transformei pela primeira vez, eu gritei e gemi e fiz careta. Não sei explicar exatamente como era a dor, só posso dizer que era intensa.

Depois disso, minhas pernas ficaram doloridas e bambas. Andar normalmente, para que ninguém percebesse, foi difícil. Ou quase impossível. Eu já tinha começado a mudar meu comportamento ao comer sushi, algo que eu abominava. Já tinha provado uma vez, há muito tempo, acho que antes mesmo de conhecer Amy, e eu tinha passado mal, então, desde aquele dia... não quis provar uma segunda vez.

Até quando chegou o dia do sonho. Eu precisava de algo que tivesse algas, e que não despertasse desconfiança nas outras pessoas. Sushi era minha melhor (e única) opção (pelo menos, que eu soubesse). Comi, e amei. Amei, de verdade, com todas as letras. Repeti mais de uma vez. Meus amigos (Drew e Jason) me encararam, franzindo o cenho e arqueando as sobrancelhas, no entanto, não comentaram nada.

Na manhã do dia oito, não tomei banho (o oposto do que fazia todos os dias), para que não me transformasse em uma...

Melhor nem comentar.

Fui tomar banho apenas quando a aula de Teatro acabou. Eu estava me sentindo suja, no mínimo. Eu precisava de água. Não só para beber; tocar também. Então, entrei na banheira e torci para que o tempo de transformação já tivesse passado. Infelizmente, a cauda surgiu. Não era igual à da Amy (nem o formato, nem a cor) (nem mesmo as escamas que preenchiam minha barriga, formando um maiô, tomara que caia).

As escamas da minha cauda tinham uma tonalidade de rosa (fúcsia), enquanto as escamas do meu busto eram rosa chá. Minha cauda tinha o formato mais arredondado, como a do Peixe Palhaço (ou melhor, como a do Nemo e a do pai dele).

Por um momentinho, depois da dor, me permiti admirá-la. Só que isso não durou muito tempo. Pensei em tudo que eu teria que deixar de fazer, e em como tudo seria mais difícil. Pensei em como seria difícil ter que esconder isso de todos (bem... exceto de Amy, Selena e Jesse). Nós não éramos mais pessoas normais. Claro que não éramos, o que me fez ter vontade de chorar e de gritar.

Por que aquilo estava acontecendo conosco? Por que eu?

Tentei não pensar nisso. Tentei não pensar em nada, o que era muitíssimo difícil. Pelo menos, Selena tinha uma mentalidade parecida com a minha. Ela não gostava de ser sereia. Aparentemente, apenas Amy gostava. Será que havia outras garotas como nós? Será que havia garotos também?

Nós fomos levadas por várias sereias. Será que todas aquelas sereias estavam aqui, na Califórnia? Na Pacific? Será que isso era possível?

ΨΨΨ

Agora, no dia onze, estava no último andar da Casa Dançante, sentada perto dos meus amigos. Só faltava a aula extracurricular para encerrar o dia, e essa aula não era mais especialmente minha, porque todos os meus amigos também a estavam fazendo.

MelissaniOnde histórias criam vida. Descubra agora