Capítulo 3 - SELENA

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04 de julho – Segunda-feira

Arrumava o cabelo em frente ao espelho, prendendo-o num rabo de cavalo. Restava apenas uma semana de férias, e meus pais, meu irmão e eu ainda estávamos no Resort, de frente para o mar. Meu melhor amigo – Jesse – também tinha ido conosco, pelo menos, isso.

Ajeitei a franja, colocando-a para trás da orelha, quando ouvi uma batida à porta. Provavelmente, era Jesse. Sorri uma última vez, olhando para meu reflexo, observando se meu biquíni estava em ordem. Depois, apressei-me para atendê-lo.

Vi-o parado do outro lado, com as mãos nos bolsos da bermuda bege, olhando para o chão. Vestia regata. Não tinha reparado antes. Ele parecia ter encorpado. Parecia.

Jesse continuava sendo meu amigo de infância, e eu sabia que ele não gostava muito de exercícios – a menos que fossem exercícios mentais. Jesse e eu jamais passaríamos de amizade para outro tipo de relacionamento. Digo isso, porque quero que fique bem claro: não gosto dele desse jeito!

Ergueu o rosto – seus olhos verdes se encontrando com os meus – e sorriu para mim.

– Esperei que descesse – começou a dizer, um pouco sem graça –, entretanto, seu irmão me contou que você ainda estava se arrumando e que, portanto, demoraria para descer.

– Por que não me esperou lá embaixo? – perguntei, cruzando os braços, tentando compreender seus pensamentos. – Meus pais já desceram. Jake também.

– Eu sei, e não consegui acreditar no que Jake me disse. – Franzi o cenho, ficando ainda mais confusa. – É que... você não se arrumou desse jeito – apontou para minha roupa e meu rosto – nas outras vezes em que viemos para esse mesmo Resort. Sabe... precisando passar horas trancada no banheiro. Fiquei pensando se isso não tem nada a ver com Charlie Steven – ergueu uma sobrancelha.

– Que? – disparei, arregalando os olhos, pois realmente tinha a ver com ele. Charlie era o garoto que sempre fui apaixonada, desde a primeira vez em que o vi. Seus olhos e cabelo castanhos me deixavam louca!

O problema que nós tínhamos se chamava "status". Ele era popular. Tudo bem, também já tive meus momentos de popularidade, todavia, ele era completamente diferente de mim. Afinal, era amigo de Mary Reagan! Ou – pior – era namorado dela. Revirei os olhos, tentando não demonstrar o que sentia por Charlie.

– Por favor, Jesse... Por que acha isso? É tão absurdo!

Jesse riu.

– Sel, isso é bem óbvio! – exclamou, apontando para o meu rosto. Levei as mãos às bochechas, que estavam quentes. Ele riu. – Sou seu amigo desde quando? Conheço você muito bem, sabia disso?

– Tudo bem – retruquei, erguendo as mãos. – Já descobriu mais alguma coisa sobre aquele determinado assunto? – tentei mudar o tema da nossa conversa. – Conseguiu descobrir uma nova fórmula?

– Infelizmente, ainda não. Acredito que, daqui para o final do ano, conseguirei encontrar algo que possa ajudá-la. Acho que você poderá entrar no mar sem problema, na próxima vez em que viermos para cá – respondeu com um breve sorriso. – Não vai descer? Seus pais estavam lhe esperando para o almoço.

Almoço?! – arregalei os olhos. – Já está na hora do almoço?

– Sim, Sel. Que horas pensou que fosse?

– Sei lá... – revirei os olhos. – Dez?!

Ele começou a rir, compreendendo. Eu havia me levantado antes das dez para me arrumar e terminei ficando pronta apenas depois do meio dia. Realmente – pensando assim – era engraçado. Eu, todavia, ainda tinha de tomar cuidado na hora do banho. Havia algo que ninguém poderia saber, e não tinha muito como esconder naquele Resort.

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