Capítulo 16 - AMY

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16 de julho – Sábado

Eu estava com Drew, na sala de espera. Em breve, seria chamada na sala de Nolan. Drew e eu não tínhamos trocado palavra desde que saímos do Vaticano. Olhávamos para a parede branca, com detalhes em azul, à nossa frente, completamente quietos. Há quanto tempo estamos aqui?

Olhei de soslaio para meu amigo, notando lágrimas presas em seus olhos azuis. Talvez ele estivesse, não sei, se culpando por eu estar ali, mas ele não deveria fazer isso, porque eu tinha enfrentado Mary por escolha, e não por obrigação. Ele não tinha me pressionado a nada.

– Sinto muito ter colocado você nessa situação – disse ele, segurando minha mão, depois de tomar coragem, mas, mesmo assim, ainda sem olhar diretamente para mim. – Lembro que, durante o desafio, eu disse que estava na dúvida... e que nunca tinha sentido atração por uma garota antes...

Ele estava prestes a terminar sua sentença, quando uma assistente de Nolan chamou meu nome, me fazendo tirar a cabeça do ombro de Drew e olhar para ela. Por um lado, agradeci por ela ter interrompido ele. Não sabia aonde aquela conversa chegaria, afinal, eu não era uma garota que se entendia perfeitamente com garotos. Não sabia muito o que dizer, ou como agir.

Na verdade, eu era uma completa idiota... em tudo.

– Eu já volto – garanti, encarando-o, antes de me levantar. Ele balançou a cabeça em afirmativa, um pouco hesitante. Ele queria entrar comigo, mas eu já tinha dito que não era necessário. – Não vai acontecer nada comigo, prometo.

Queria fazê-lo se sentir melhor. Sem se culpar, quero dizer. E me acalmar também. Precisava ter esperança de que ainda continuaria estudando na PCS. Não podia ser expulsa após o primeiro dia de aula. Bateu o recorde, Amy!

Segui a assistente de Nolan, que vestia uma roupa vermelha, em silêncio, por um corredor... até chegarmos a uma porta de madeira. Ela bateu algumas vezes, como se fosse necessário ser daquele jeito, e a porta se abriu sozinha, deslizando para o lado. A mulher gesticulou para que eu passasse à sua frente. Imaginei que ela não viria comigo.

Dei alguns passos para dentro do escritório do diretor e respirei fundo ao ouvir a porta se fechar atrás de mim. Foi apenas naquele momento que senti que realmente poderia ser expulsa, que minha ação poderia gerar uma reação ruim. Um calafrio percorreu meu corpo ao pensar em "expulsão". Não, Amy, tentei me acalmar, nós não vamos a lugar nenhum.

Observei o diretor sentado em sua cadeira de couro, preta, atrás de sua belíssima escrivaninha de madeira. As paredes eram todas preenchidas por quadros famosos, que poderiam ser verdadeiros ou não, exceto a que estava atrás dele.

Nela, em tamanho grande, passavam fotos dele com mais três pessoas: uma Mary bem mais nova; uma garota, aparentemente, um ano mais nova do que a Rainha do Drama e uma mulher de cabelo escuro, que imaginei que fosse a mãe de Reagan e, consequentemente, esposa do diretor.

Eles sorriam em todas as fotografias antigas, estando na praia ou em uma conferência ou em casa. Pensei que eles ou poderiam ser realmente felizes ou pousavam para a câmera para fingir se sentir assim. Não tinha como ter certeza. Mas talvez Mary tenha sido feliz, algum dia. Talvez algum acontecimento a tenha mudado. As opiniões dos outros não deveriam ser tão importantes assim, mas, para Mary, sua opinião, seus pensamentos verdadeiros, pareciam vir em segundo plano.

Fiquei um tempo observando as fotos que passavam na parede, cada uma permanecendo lá por uns cinquenta segundos. Vi Mary pequena, sorrindo ao lado do pai, que a abraçava com força, os dois sujos de tinta, o que me fez pensar no meu pai. Senti um aperto no peito. Passei as mãos nos olhos, que se encheram de lágrimas, impedindo-as de escorrer.

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