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Capítulo 41

Barbara encarava a nós dois e odiei a minha boca grande naquele momento. Não queria estragar seu momento de aproximação com o seu único parente, nem queria que ela soubesse que ele a quer levar embora desse jeito.

—Não Barbara, estava falando de agora.

—Zayn...

—Estava me referindo a você sair agora. Só isso. — disse e voltei a lavar a louça.

—Você pode ir com a gente Z, não é Ald? — ela disse sorrindo e ele assentiu.

—Não. Vou tentar ligar para o meu pai e passar um tempo com ele também. — disse baixo.

—Tudo bem. — sua voz soou baixa e ela suspirou.

Tirei alguns segundos para olhá-la e ver como ficou linda com o vestido branco que a própria escolheu.

Sorri sem nem perceber e ela estava com um sorriso largo olhando para seu irmão enquanto o mesmo explicava o que fariam no passeio.

Sequei minhas mãos e fui até o guarda-roupa, tirei de lá uma jaqueta e coloquei no bolso o seu remédio. Voltei para a sala e coloquei a peça de roupa nela.

—Pode ser que faça frio mais tarde. — disse a olhando atentamente e ela sorriu.

—Obrigada por cuidar tão bem de mim. — ela sussurrou e sorri.

Barbara deixou então um beijo demorado em minha bochecha e me senti corando, fechei os olhos e me peguei sorrindo.

—Não esquece do remédio. Tá no bolso. — disse um pouco mais sério e ela assentiu.

—Remédio?

—A levei num psiquiatra. Está tomando uns remédios para ajudar com alguns momentos delicados. — disse para seu irmão e ele assentiu. —Se puder, lembre-a de tomar às duas da tarde.

—Claro. — ele disse assentindo e voltei a olhar Barbara.

—Cuidado, okay? — disse e ela assentiu.

—Eu te amo do tamanho da estátua da liberdade. — ela disse com um sorriso inocente e nem mesmo a tensão me fez deixar de sorrir.

—Eu te amo do tamanho dos mares. — disse baixo e ela sorriu mais largo.

Barbara se colocou na ponta dos pés e então se inclinou para deixar um beijo em meus lábios. Envolvi sua cintura num abraço e retribuí seu gesto com carinho.

—Cuide dela. — disse firme olhando bem nos olhos de Gerald e ele assentiu.

—Cuidarei da minha irmã. Pode ficar tranquilo.

Barbara então se aproximou do irmão e eles saíram de casa. Suspirei e esfreguei meu rosto pensando no que faria da minha vida.

Se Barbara realmente fosse embora a minha vida perderia totalmente o sentido. Sentido esse que perdi quando minha mãe morreu e que só Barbara conseguiu me dar de volta.

Ela era tudo que eu tinha.

Gerald tinha um pouco de razão, porque merda, olha pra mim! Não tenho nada para dar a Barbara, minha casa é um lixo com paredes desenhadas, roupa por toda parte e quase sem comida na dispensa.

Decidi tomar um banho para esfriar a cabeça e ao sair deixei a toalha enrolada na cintura. Liguei para o meu pai e batemos um papo antes de eu pedir para que ele me visitasse logo.

Olhei em volta e parecia que meu dia tinha acabado ali. Não fazia nem uma hora que ela tinha saído e me vi com saudades.

Respirei fundo, troquei de roupa e decidi ir ao bar do Griff. Usei a jaqueta que estava com a droga no bolso e então entrei no meu carro que estava na reserva de gasolina.

Entrei no bar e cumprimentei alguns caras conhecidos. Assim que cheguei no balcão vi Griff dando risada com uma loira peituda e bati em seu ombro.

Malikonha! — ele disse rindo e rolei os olhos.

—E aí Griff?

—E aí digo eu! Como você está cara? Anda sumido!

—Eu tô precisando da sua ajuda.

—Não vou tirar sua lata velha presa pela polícia não, já tô com oito pontos na carteira e...

—Não cara! — interrompi rindo.

—Então o que é?

—Preciso de um emprego.

—Emprego? — ele perguntou confuso.

—É, as coisas andam meio apertadas e com Barbara eu preciso dar um jeito. Por mim, eu nem comia. Mas não posso deixar ela ao léu.

—Ah, a namorada.

—Sim. — disse e sorri idealizando a imagem dela em minha mente.

—Olha, eu não tô precisando de ninguém agora. — ele disse calmo e suspirei. —Mas como você é meu brother e sei que tá tentando se reerguer aí, posso contratar você.

—Tá falando sério mano?

—Tô sim cara. Mas em duas semanas, beleza?

—Duas semanas?

—É, um dos caras vai sair e eu coloco você no lugar dele aqui no balcão. — ele disse e assenti.

—Claro! Claro! Muito obrigada Griff, você é foda! — disse animado e ele riu.

Sentei e peguei o celular para mandar mensagem ao D9 dizendo que desistiria daquilo, e que ele pegasse a droga aqui no bar.

Enquanto esperava Griff serviu uma batida de frutas com vodka e me ofereceu. Tomei apenas um gole e afastei o copo para não perder a sanidade.

—Qual é? Tá ruim assim? — ele perguntou e ri.

—Tá ótimo, mas tô dirigindo.

—Você dirigiu seu carro tão chapado que parecia estar a ponto de ter uma overdose e tá vivo até agora.

—Mas... Eu não sou o mesmo cara. — disse e ele riu.

—Porra, a tal da Barbara colocou a coleira mesmo né? — ele disse e rimos.

—Coleira não sei, mas que ela tem tudo de mim, ah, ela tem. — confessei e ele gargalhou mais. —Eu tenho que ir agora. Posso te ligar para confirmar tudo?

—Claro mano, liga sim. — ele disse e nos cumprimentamos.

Deixei o bar para encontrar D9 do lado de fora e o vi encostado no carro preto. Aproximei-me do mesmo e ele acenou com a cabeça.

—Ainda estou puto que você tá negando essa grana fácil. — ele disse quando entreguei a droga e o dinheiro.

Confesso que entregar os cinco mil foi mais difícil, pois sabia que estava bem precisado. Ele riu e dei de ombros.

—É da vida. E, eu não quero mesmo que me procure para coisas assim D9, sabe que somos parceiros, mas isso não é minha área.

—Beleza. — ele confirmou e deu de ombros.

D9 entrou no carro e saiu rápido como um relâmpago. Entrei no meu possante e dei a partida de volta para casa, mas o desgraçado parou a uns 5km do meu cafofo.

Tudo bem. Já sabia que estava com pouca gasosa, fui de burro!

Desci do carro e tranquei as portas na chave. Comecei a caminhar de pé mesmo e parecia uma eternidade para mim.

Todavia, dava para pensar muito em minha vida. Pensar em uma forma de fazer Barbara ficar ou que Gerald percebesse que nós dois não podemos nos separar.

Em duas semanas teria um emprego e em menos de um mês voltaria também para o manicômio. Minha vida seria um inferno de jornada dupla.

Entrei em casa sentindo minhas pernas queimando de tão cansado e sentei no sofá para aliviar aquela tensão.

Bateram na porta para tirar a porra do meu sossego e gritei um "já vai" nada paciente. Até que abri a porta, e me deparo justamente com o quê? Melhor, quem?

—Você?

[...]

Psicopatia • z.mOnde histórias criam vida. Descubra agora